sábado, 22 de outubro de 2016

Crítica: "UM DIA PERFEITO" (2015) - ★★★


Muito mais do que eu jamais poderia imaginar sobre um filme com uma temática tão envolvente e abrangente. Aranoa renova a fórmula de um gênero clicherizado por natureza com pura genialidade, e de uma forma tão honesta que torna maravilhosa a experiência de vê-lo. No filme, Um Dia Perfeito, um grupo de missionários na Iugoslávia na década de 90, quando o país atravessava duros conflitos políticos, tenta retirar um cadáver jogado em um poço que contaminou a água de um vilarejo, mas logo se veem confrontados por outros problemas, como a falta de recursos e a ilegalidade da retirada do corpo. 

Um Dia Perfeito extrai humor e simpatia de uma história cujo tema quase que automaticamente sempre tende a atrair uma atmosfera de seriedade, sem desrespeitar os propósitos da temática abordada e seu caráter anti-cômico, digamos. O elenco é em sua maioria formado por celebridades internacionais que fizeram sucesso em Hollywood recentemente, como o porto-riquenho (ele não é mexicano, pessoal) Benicio de Toro, a francesa Mélanie Thierry (talvez a menos conhecida, ainda que tenha estrelado alguns filmes recentes notórios, como O Teorema Zero) e a ucraniana Olga Kurylenko. A única personalidade americana do filme é Tim Robbins, em uma atuação escancarada e descontraída. 

Aliás, descontração é uma boa definição do estado do elenco de Um Dia Perfeito. Todos os personagens convivem entre si levando na "esportiva" tudo o que acontece ao redor deles, apenas com a exceção da personagem novata de Thierry, desacostumada àquele universo e as táticas de trabalho, o que frequentemente a causa espanto e incômodo, enquanto é visto de forma diferente pelos colegas já experientes, que vez ou outra brincam sarcasticamente com as reações dela em torno das situações que encaram.

O que é justamente o grande acerto do filme às vezes acaba se tornando um complicado defeito. Esse astral anti-diplomático que pinta em Um Dia Perfeito em certas cenas faz da resolução algo bastante confuso, incerto. A neutralidade que essas sequências passam ajudam a evidenciar uma certa falta de segurança em relação à conclusão da trama, enquanto devem ser tidas, ao mesmo tempo, como uma grata surpresa num filme que rompe as expectativas e traz algo realmente novo e interessante de se ver, ainda que cause confusão em determinados momentos. Então, pode-se dizer que o grande mérito de Um Dia Perfeito é que o filme não se leva a sério. E, acreditem, isso é fantástico. 

Um Dia Perfeito (A Perfect Day)
dir. Fernando León de Aranoa - 

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