A carreira do cineasta Ken Loach é bastante
sólida. O homem, que é conhecido por filmes focados em críticas à sociedade
britânica e temas de cunho socialista e trabalhista, vez ou outra (e muito
raramente, digamos) foge dessa cartilha adentrando outros caminhos, mas ainda
com um pé na vértice socialista que tanto demarca o seu estilo independente e
simplista de fazer cinema.
É o caso de Apenas um Beijo, que é uma comédia romântica centrada em um casal
de apaixonados: um paquistanês e uma irlandesa. O filme é perfeitamente sagaz
na representação desse contraste cuja simbologia faz referência às diferenças
culturais e como isso afeta a relação amorosa dos personagens principais, ainda mais quando o rapaz está comprometido com uma outra mulher, escolhida pela sua família tradicionalista.
O interessante de Apenas um Beijo é que Ken consegue fazer com que o espectador
compreenda e se sensibilize tanto com o casal quanto com a família do cara paquistanês, sem fazer muito esforço. O filme em si consegue traçar um impasse,
provocando o público e o desafiando a interpretar a situação, a aceitar a
ausência de julgamentos para o que acontece.
Se por um lado o filme consegue elaborar uma
trama repleta de riqueza narrativa e caracterização genuína como ninguém mais
consegue além de Loach, do outro o filme corre o risco de cansar o espectador
repetidas vezes com a enfatização e reconstrução dos detalhes mais pífios. A
conclusão irregular também pode causar estranhamento a quem não está familiarizado
com o estilo de Ken Loach.
A narrativa disseca duas perspectivas, dois
olhares totalmente diferentes e os engloba em um só – talvez essa seja a
definição conclusiva mais propícia do filme, mas também vale considerar que o
final aberto é uma mera questão de respeito e compreensão ao que ambos os lados
estão defendendo, ou até mesmo apenas a representação de que não existe uma
resolução ideal ou justificada para essa trama tão difusa – para nos fazer
entender os pontos de vista e seus propósitos distintos.
Ken Loach e seu estilo cinematográfico dotado
de inerência sempre centrado em riquíssimos retratos ideológicos, que por vezes
representam não só o que acontece dentro do Reino Unido ou da Irlanda, mas que
também acabam por se universalizar. Seus filmes retratam histórias cabíveis,
construções humanistas de contrastes ideológicos e padronistas seja de épocas
passadas (Ventos da Liberdade, Jimmy’s Hall, Terra e Liberdade) ou do presente (Pão e Rosas, Mundo Livre,
A Parte dos Anjos) que, de uma forma
ou de outra, fazem-se necessários, essenciais, importantes para refletir sobre
a sociedade.
Ademais, a relevância de Apenas um Beijo, que até agora é seu melhor filme para mim, é
inestimável. Ken Loach é um dos maiores cineastas. Seu cinema é a arma da
reflexão, do conhecimento e da representação.
Apenas um Beijo (Ae Fond Kiss.../Just a Kiss...)
dir. Ken Loach - ★★★★
ONDE ENCONTRO O FILME ?
ResponderExcluirEsse filme eu peguei em um tracker fechado, mas há torrents e legendas disponíveis na web. O DVDRip pode ser encontrado no site The Pirate Bay (só pesquisar o nome do filme em inglês lá) e a legenda aqui: https://www.opensubtitles.org/pt/subtitles/3443278/ae-fond-kiss-pb
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