terça-feira, 15 de novembro de 2016

Crítica: "ONDE VAMOS INVADIR AGORA?" (2015) - ★★★


Diante da recente e controversa vitória de Donald Trump frente à presidência dos Estados Unidos, o blogueiro Ailton Monteiro, que escreve para o "Diário de um Cinéfilo" comentou em sua timeline no Facebook: "E o Michael Moore vai encontrar combustível pra fazer mais filmes de maior repercussão". A frase irônica reflete que em um provável futuro Moore, o "polêmico" documentarista político diretor de alguns dos mais impactantes e irreverentes exemplares do gênero, sendo ele considerado por muitos um dos maiores documentaristas americanos, e com razão.

O novo filme de Michael, embora esteja bem longe de ficar entre os melhores já realizados por ele, trata-se de um exemplar maturo e convincente de seu cinema autoral. Em mais uma crítica à sociedade americana e baseado em uma convicção fortemente anti-patriota, Moore faz um tour pela Europa fingindo estar "invadindo" os países para conseguir ideias que possam melhorar os Estados Unidos de nações europeias, ou como o próprio diretor diz, "roubar ideias". 

Os filmes de Michael Moore possuem uma estrutura bastante parecida, comparável, e o diretor nunca renova seu padrão de filmar e contar histórias que criticam o sonho americano e o 'american way of life', como volta a acontecer (e triunfalmente) neste ótimo Onde Vamos Invadir Agora?. E não que isso seja um defeito dos filmes dele. Muito pelo contrário. A fórmula é bastante crível e raramente falha, o que demonstra um certo domínio de Michael sobre o seu material cinematográfico. Consequentemente, o teor crítico de seus filmes resulta em um efeito catastrófico e que disseca minuciosamente os mais sórdidos defeitos da "maior nação do mundo". 

Para o público brasileiro, muitas das coisas que são abordadas e exploradas em Onde Vamos Invadir Agora? trarão uma idealização bastante distópica, digamos, dos EUA atualmente. Nessa viagem a Europa, Michael visita diversos países e recolhe deles qualidades e méritos. O interessante é como Michael fica abismado com alguns dos privilégios desses países que até em um país tão politicamente fodido como o Brasil já é uma realidade invicta, como o "décimo terceiro" (salário extra), licença-maternidade paga e universidades públicas, alguns dos nossos "luxos" que estão restritos aos americanos. 

Se por um lado há a surpresa de quem mora aqui no Brasil ao constatar esse contraste, triplica-se essa surpresa quando nos deparamos com luxos de outros países europeus ainda mais requisitados, como o sistema de educação da Finlândia (o sistema escolar foi restaurado, e hoje a Finlândia é o país nº1 em educação), o sistema carcerário da Noruega, a alimentação escolar na França. Enfim, o diretor pega vários desses itens e os pressiona contra a realidade dos EUA nos dias de hoje.

Por outro lado, há um grave problema em Onde Vamos Invadir Agora?: Moore minimiza os problemas das nações europeias (crise de imigração, xenofobia, desemprego, crise econômica) para criar um padrão do que seria a "nação ideal" visando os principais "acertos" desses países comparados aos problemas políticos e sociais dos EUA. 

Em um certo momento desse documentário, Moore visita Portugual, onde o porte de drogas é legalizado. E lá, surpreendentemente, poucas pessoas consomem drogas. Michael diz que "levará" essa lição adiante aos EUA, onde o tráfico de drogas é um problema muito mais sério do que em Portugal, o número de usuários de drogas é praticamente incomparável. Enfim, comparar EUA e Portugal no quesito problemas com drogas é algo completamente hipócrita, visto as diferenças entre essas duas nações e como seus sistemas lidam com esse ponto. Ou melhor, lidaram e continuam lidando.

Sarcasmo e a boa oratória de Michael Moore para explicar e categorizar as divergências entre as nações driblam os defeitos de Onde Vamos Invadir Agora?. Com bom humor e perspicácia, o diretor traz, mais uma vez, um desafio à moral civil americana e uma crítica repleta de ironia e senso de dualismo sempre instigante e brilhante. Moore é um cara carismático, do povão. Seus documentários socialistas trazem uma visão do que está acontecendo de ruim nos Estados Unidos, para nós aqui de fora que sempre temos na cabeça uma imagem de que os EUA é a terra dos sonhos. Na verdade, não é bem assim. E Michael Moore nunca se cansa de explorar esse emblema em seus filmes, sem medo de repetir sua clássica a infalível fórmula. 

Onde Vamos Invadir Agora? (Where To Invade Next)
dir. Michael Moore - 

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