sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Crítica: "DOCINHO DA AMÉRICA" (2016) - ★★★★½


A cineasta Andrea Arnold conseguiu se estabelecer como um dos nomes mais promissores e agraciados do cinema atual dentro da mídia cinematográfica com uma filmografia de apenas quatro longas, incluindo seu trabalho mais recente e vencedor do Prêmio do Júri nesta última edição do Festival de Cannes, Docinho da América, e alguns pouco vistos curtas elogiados, como Wasp (vencedor do Oscar de Melhor Curta-Metragem em 2005).

O fato é que Andrea é uma das diretoras mais importantes do cinema britânico atual, e Docinho da América é mais uma prova imbatível da força de seu talento. A história de um amor da juventude na América dos sonhos fragmentada pela pobreza e pela desigualdade social é enquadrada em um retrato autêntico e deliciosamente romântico, que cheira a frescor e suavidade. 

No papel de uma adolescente que completa 18 anos e que foge de casa para poder viver novas aventuras ao lado de uma turma de jovens vendendo revistas para ganhar dinheiro, Sasha Lane, a atriz revelação do ano, está exemplarmente arrebatadora nesta que é uma das performances mais bonitas, sensíveis e excepcionais de 2016. Sua personagem é uma garota do Texas que decide assumir uma responsabilidade em sua vida e que acaba se apaixonando perdidamente por um outro jovem, interpretado por Shia LaBeouf, na possível melhor atuação da carreira do ator.

O amor entre os dois personagens, Star e Jake, é posto à prova e oscila entre altos e baixos enquanto faz com que o espectador desenvolva uma relação de afeto com a própria história, se emocione e torça para a vitória de uma paixão difícil de se concretizar, e que se ama às escondidas, devido às regras impostas pela personagem de Riley Keough, a "chefe" do casal, que não aprova relações amorosas no grupo. 

As quase três horas de duração deste filme imperdível passam voando. Nem dá pra perceber que são três horas, tamanha a penetração do público nesta aventura cinematográfica repleta de cores, luzes, sons, beijos, abraços e emoções. Arnold recria o universo juvenil em uma crônica romântica irresistível sustentada pela sensibilidade e que torna sua sessão uma experiência inesquecível para todos que assistem.

A fotografia de Robbie Ryan, frequente colaborador de Ken Loach e também de Andrea, já tendo trabalhado com ela como diretor de fotografia em seus três outros longas anteriores, O Morro dos Ventos Uivantes, Aquário e o excelente Marcas da Vida, é abrasadora. A semelhança entre esses quatro projetos? O visual é triunfal, arquitetado com a mais satisfatória elegância nos mais incorruptíveis detalhes. Aliás, o cuidado bem-sucedido de Andrea com o visual de seus filmes marca mais um ponto positivo para a sua cinematografia e que, aos poucos, se torna uma marca registrada sua, ao filmar cenas belíssimas e paisagens de deixar qualquer um arrebatado, no melhor sentido da palavra.

No romance do ano, Andrea Arnold usa e abusa dos elementos à sua disposição, da capacidade teatral de atores não-profissionais, da câmera em sim, das possibilidades da fotografia, e das provocações que invadem nosso imaginário durante a projeção, e que demonstram o quão ousada ela é na montagem de suas histórias e no instinto cinematográfico que abraça sua direção poderosíssima. 

Docinho da América é um filme que vai além das nossas expectativas. Então, eu só deixo uma dica: prepare-se para ser surpreendido. Andrea Arnold, o elenco e a equipe desta obra-prima fabulosa estão de parabéns pelos incontáveis méritos desta produção, que vão desde o roteiro inspirado até a performance impecável de Sasha Lane, uma das atrizes do ano. Sonhos, desejos, emoções... Uma obra que capta com perfeição o espírito poético de uma geração. 

Docinho da América (American Honey)
dir. Andrea Arnold - ★½

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