sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Crítica: "NINGUÉM DESEJA A NOITE" (2015) - ★★★


Isabel Coixet é uma diretora com um estilo cinematográfico em progresso, cujos filmes sempre oferecem algo de interessante para o espectador, seja na abordagem narrativa, na construção didática de personagens, no contexto feminista evidentíssimo ou na qualidade técnica (que é o caso deste seu trabalho), mas que são irregulares, trôpegos, distantes de obras ou coisas do gênero. Vez ou outra, Isabel dá seu recado e consegue nos surpreender com tramas que fogem do estandarte trivial e que até revelam, numa certa medida, cadente importância, mesmo que não sejam grandes trabalhos. Se por um lado Ninguém Deseja a Noite é repleto de falhas, por outro é um dos filmes mais bem produzidos, em termos técnicos, dessa diretora espanhola que a cada filme se supera. 

Quase dois anos após sua estreia controversa no Festival de Berlim, Ninguém Deseja a Noite chega aos cinemas nacionais. É um filme que merece ser conferido na telona, pela dimensão da fotografia abismadora e que capta belíssimos momentos deste longa, de Jean-Claude Larrieu, colaborador frequente de Coixet, pela direção de arte primorosa, pelos figurinos estilosos de Binoche, e principalmente pela ambição e audácia de Coixet ao retratar uma história tão arriscada como a de Josephine Peary, esposa do renomado explorador americano Robert Peary, que decide sair à procura do marido no Ártico sozinha.

Josephine, encarnada excepcionalmente por Juliette Binoche, numa atuação de pleno destaque mas que fica longe de ser uma das melhores da maravilhosa intérprete francesa, segue em seu caminho pela neve, enfrentando as rajadas de vento, o frio agressivo, as turbulências de um cenário gelado e pálido, até que se encontra com uma esquimó (Rinko Kikuchi) com quem fica presa em uma cabana no meio de uma perigosa tempestade de neve. 

Corajosa, resistente, desbravada e teimosa, Peary é mais uma representação da figura feminina e o empoderamento das mulheres que já virou um tema bastante recorrente da filmografia de Coixet, feminista assumida, inclusive de outro trabalho seu bem recente, Learning to Drive, estrelado por Ben Kingsley e Patricia Clarkson. 

Um dos problemas mais incômodos de Ninguém Deseja a Noite é sua duração. E não é a primeira vez, inclusive, que tenho problemas com durações cansativas de filmes da Isabel, por mais que sejam elegantes e íntegros. É nessa duração exigente e fadigosa que também nota-se o prezo de Isabel pela total penetração do espectador em suas tramas difíceis de digerir, e anti-modéstia que empurra o audacioso propósito deste filme e deixa clara, então, a vontade da diretora em querer deixar tudo muito grande, muito rico, seja em sequências cruéis, devastadoras, geladas e que indiretamente trazem a impaciência ao espectador.

O legal é que Isabel está sendo cada vez mais reconhecida por seu trabalho e seus filmes e, quem sabe no futuro a gente não vê uma grande obra-prima vinda dela? Ninguém Deseja a Noite é completamente envolto em uma exuberância técnica e mimos visuais que parecem nunca acabar. Binoche comanda a sessão com talento, astúcia e coragem.

Ninguém Deseja a Noite (Nobody Wants the Night/Nadie Quiere La Noche)
dir. Isabel Coixet - ★★★

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