quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Crítica: "WAKING LIFE" (2001) - ★★★★★


Meu interesse pela filmografia de Richard Linklater surgiu logo após que vi Antes do Pôr-do-Sol, em 2014 (que, aliás, foi o primeiro filme dele que eu vi). Depois de Boyhood, veio a confirmação daquilo que eu já protestava ser uma certeza: Richard Linklater é um grande diretor. Um dos maiores dos nossos tempos, para ser mais exato. Seus filmes transbordam importância, criatividade, genuinidade e grandeza. Não foi nada diferente com este Waking Life, que é certamente um seus melhores trabalhos.

O interessante é que se trata de uma animação filtrada, com aspectos que lembram o formato live-action, como a câmera trêmula, a expressão das personagens, os movimentos, a sincronia. Provavelmente a única coisa realmente estranha nessa animação é que os cenários e as pessoas ficam balançando, tremendo, chacoalhando, sem um motivo aparente, independente de emoção, tom de voz ou coisas determinantes do gênero. Será que o diretor propôs essa experiência a fim de tentar minimamente expressar ou indicar a agitação do ser, a inconstância do espírito humano, da fragilidade emocional? É bem interessante perceber essa técnica e o efeito dela no espectador. As interpretações, é claro, variam de pessoa para a pessoa.

Uma das minhas partes favoritas de Waking Life é justamente uma sequência “spin-off” estrelada pelo casal Jesse e Celine. Eles estão num quarto de hotel, eu creio, e dialogam e refletem sobre a natureza surreal dos sonhos, lembrando até mesmo algumas das mais inspiradas conversações da dupla nos filmes da trilogia “Antes”. Tem uma cena, inclusive, que uma parte do filme Antes do Amanhecer é exibida num cinema.

Waking Life é um filme sobre realidades e ilusões. Sonhos e desesperanças. A vida e o mundo ao redor. As pessoas. Os sentimentos. As situações. Nas mais diversas sequências do filme, há um teor de profundo existencialismo pairando sobre as conversas entre os personagens, referências filosóficas, citações, e etc..

Waking Life explora a metafísica dos sonhos, a linguagem do subconsciente onírico, chegando a apresentar perspectivas bastante interessantes sobre o que acontece nos nossos sonhos e as mais distintas conexões com o nosso dia-a-dia, com as nossas emoções e impressões sobre o que acontece diante de nós.

É o sonho uma explicação para a realidade? Sonho e realidade são as mesmas coisas? Nós realmente estamos vivendo aquilo que pensamos, que defendemos ser a mais pura e indestrutível verdade? O que é sonhar e viver? A gente sabe sonhar? A gente sabe, então, viver? Waking Life é um filme que tende a amadurecer conosco com o passar do tempo. Na verdade, não há uma explicação certa sobre o que acontece no filme, ou a sequência de cenas exóticas. A interpretação individual, nesse caso, é a resposta, porque o efeito dos diálogos, dos pensamentos emitidos no filme tem um impacto diferente em cada um que vê. E isso é o que torna Waking Life uma maravilha de filme existencial. Linklater é um cara genial. Waking Life é um filme inesquecível. Acordar para a vida. Sonhar para a vida. Viver os sonhos, os sonhos que consomem nossa destrutibilidade. Dream is destiny.

Waking Life
dir. Richard Linklater - 

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