Meu interesse pela filmografia de Richard
Linklater surgiu logo após que vi Antes
do Pôr-do-Sol, em 2014 (que, aliás, foi o primeiro filme dele que eu vi).
Depois de Boyhood, veio a confirmação
daquilo que eu já protestava ser uma certeza: Richard Linklater é um grande
diretor. Um dos maiores dos nossos tempos, para ser mais exato. Seus filmes
transbordam importância, criatividade, genuinidade e grandeza. Não foi nada
diferente com este Waking Life, que é
certamente um seus melhores trabalhos.
O interessante é que se trata de uma animação
filtrada, com aspectos que lembram o formato live-action, como a câmera
trêmula, a expressão das personagens, os movimentos, a sincronia. Provavelmente
a única coisa realmente estranha nessa animação é que os cenários e as pessoas
ficam balançando, tremendo, chacoalhando, sem um motivo aparente, independente
de emoção, tom de voz ou coisas determinantes do gênero. Será que o diretor
propôs essa experiência a fim de tentar minimamente expressar ou indicar a
agitação do ser, a inconstância do espírito humano, da fragilidade emocional? É
bem interessante perceber essa técnica e o efeito dela no espectador. As
interpretações, é claro, variam de pessoa para a pessoa.
Uma das minhas partes favoritas de Waking Life é justamente uma sequência “spin-off”
estrelada pelo casal Jesse e Celine. Eles estão num quarto de hotel, eu creio,
e dialogam e refletem sobre a natureza surreal dos sonhos, lembrando até mesmo
algumas das mais inspiradas conversações da dupla nos filmes da trilogia “Antes”.
Tem uma cena, inclusive, que uma parte do filme Antes do Amanhecer é exibida num cinema.
Waking
Life é
um filme sobre realidades e ilusões. Sonhos e desesperanças. A vida e o mundo
ao redor. As pessoas. Os sentimentos. As situações. Nas mais diversas sequências
do filme, há um teor de profundo existencialismo pairando sobre as conversas
entre os personagens, referências filosóficas, citações, e etc..
Waking
Life explora
a metafísica dos sonhos, a linguagem do subconsciente onírico, chegando a
apresentar perspectivas bastante interessantes sobre o que acontece nos nossos
sonhos e as mais distintas conexões com o nosso dia-a-dia, com as nossas
emoções e impressões sobre o que acontece diante de nós.
É o sonho uma explicação para a realidade?
Sonho e realidade são as mesmas coisas? Nós realmente estamos vivendo aquilo
que pensamos, que defendemos ser a mais pura e indestrutível verdade? O que é
sonhar e viver? A gente sabe sonhar? A gente sabe, então, viver? Waking Life é um filme que tende a
amadurecer conosco com o passar do tempo. Na verdade, não há uma explicação
certa sobre o que acontece no filme, ou a sequência de cenas exóticas. A interpretação
individual, nesse caso, é a resposta, porque o efeito dos diálogos, dos
pensamentos emitidos no filme tem um impacto diferente em cada um que vê. E
isso é o que torna Waking Life uma
maravilha de filme existencial. Linklater é um cara genial. Waking Life é um filme inesquecível.
Acordar para a vida. Sonhar para a vida. Viver os sonhos, os sonhos que consomem
nossa destrutibilidade. Dream is destiny.
Waking Life
dir. Richard Linklater - ★★★★★
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