segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Crítica: "FLORENCE – QUEM É ESSA MULHER?" (2016) - ★★★


O novo filme de Stephen Frears, Florence – Quem É Essa Mulher?, é relativamente parecido com outros trabalhos da filmografia do cineasta inglês: filmes com estruturas simplistas, tramas rasas – embora satisfatórias – e potencial narrativo. Não há nada em Florence que o público já não tenha visto em outros filmes semelhantes de Frears quanto à abordagem e riqueza técnica, tais como Sra. Henderson Apresenta, Chéri, Philomena, A Rainha dentre outros títulos. Ah, e é claro, a presença de uma grande atriz no papel principal. No caso de Florence, temos a lenda Meryl Streep, pela primeira vez trabalhando com Stephen Frears, numa atuação mais que memorável.

No filme, Meryl interpreta Florence Foster Jenkins (sim, a mulher do título), uma figura bastante famosa e popular da alta sociedade de Nova York e proprietária de diversos clubes de música – o grande amor de Florence. Seu marido, um ator inglês falido, é interpretado por Hugh Grant, que andou meio sumido das telonas, cujo desempenho aqui é excepcional, uma das melhores performances da carreira dele. Ele é quem cuida de Florence e a dá atenção a ela a todo instante, sendo ela, de saúde fragilizada, praticamente dependente dos cuidados e carinhos do homem, embora ele mantenha relações com uma outra mulher, mais jovem que Florence. 

Inspirada por uma ópera que a deixou bastante comovida, Florence decide treinar para começar a cantar – embora tecnicamente ela cante muito, muito mal. Incentivada pelo marido e pelas amigas, ela se entrega de corpo e alma ao seu sonho e se empenha em se transformar numa cantora de sucesso, embora muitas pessoas tirem sarro de sua voz. O pianista contratado por ela, Cosmé (Simon Helberg, ator da série The Big Bang Theory, numa atuação magistral) inicialmente acha graça da voz dela e da sua aspiração e força de vontade, mas, assim que se familiariza com os dramas dela e passa a conhecer a sua personalidade de perto, ele então percebe que esteve errado ao julgá-la. 

O filme prossegue num misto de comédia e drama, com momentos de emoção e de humor aflorados, enquanto acompanhamos o sonho e a jornada rumo à tão esperada “fama” de Florence, suas batalhas e desafios. O filme é, na sua grande parte, recheado de momentos engraçados, sequências histéricas e cenas descontroladas. A certo ponto, até parece que os atores estão improvisando, tamanha a descontração e espontaneidade com a qual os personagens se dialogam. E não é a primeira vez que um filme de Frears me passa essa sensação. Em Sra. Henderson Apresenta, que tem uma trama bastante semelhante à de Florence, também há essa impressão de que os diálogos são improvisados, saltados, naturais, desartificializando o roteiro, o que até chega a reforçar o clima teatral do filme.

O filme termina de uma forma especialmente melancólica, deprê – não vou dar spoilers – tudo o que posso dizer é que fiquei bastante tocado. Naquela cena final, percebi e compreendi de forma total os dramas verídicos de Florence, sua pena ao ver seu sonho ridicularizado, incompleto – um sonho ao qual tanto se dedicara, mas de nada recebeu em volta. É mais triste ainda se a gente for parar para pensar como essa síntese é comparável ao que acontece certas vezes na atualidade. A realidade é sempre mais impetuosa e dura que a ilusão. É uma verdade inevitável. Por mais que a gente tente, não dá pra escapar.

Interessante observar como o filme caracteriza o público de Florence, que inicialmente a apoia, mesmo percebendo as notáveis falhas e desacordes em sua voz, mas reconhecendo seu esforço e força de vontade, o que em um certo momento até sugere que muitas pessoas que a apoiaram e reconheceram se sentiram representadas. 

Ainda que seja um trabalho particularmente curioso e agradável da filmografia de Frears, Florence não deixa de ter suas parcelas de desapontamentos (as fraquezas e os furos do roteiro, diga-se de passagem). Mas é um filme OK ao meu ver. A fotografia consegue registrar diversos momentos de pura beleza e sensibilidade visual ao longo do filme – um ponto forte de Florence. A direção de arte, os figurinos, a trilha sonora e as performance sustentam a veracidade do retrato épico e conferem ao longa um astral sofisticado. No mais, é uma cinebiografia esperável, típica, previsível, sem muitas surpresas a se levar em consideração. O mérito recai ao elenco excelente e ao conjunto técnico.

Florence – Quem É Essa Mulher? (Florence Foster Jenkins)
dir. Stephen Frears - 

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