A gente não vê Amor Pleno. A gente sente Amor Pleno. A gente sente Malick. A gente sente a fotografia de Emmanuel Lubezki. A gente sente o amor. A gente sente a beleza. A gente sente a vida. Malick é o mestre da arte de se fazer poesia com o cinema. Amor Pleno não é seu melhor filme, mas certamente trata-se de uma peça singular dentro da sua diversa filmografia e um filme interessantíssimo e fabulosamente grandioso. Digam o que quiser, mas eu adorei. É mais que belíssimo. É a oportunidade única de testemunhar um exercício de beleza poética riquíssimo e excelentemente bem-feito.
A começar pela esplendorosa fotografia de Lubezki. O mestre da imagem firma mais uma parceria com Malick e o resultado é, na melhor das definições, divino. Os ângulos panorâmicos, o paisagismo visual, os planos lentos, a movimentação suave... Lubezki dança com a câmera, entregando uma fotografia atmosférica soberba, graciosa, perfeita. É a melhor coisa de Amor Pleno. Não dá pra resistir sob nenhuma hipótese.
No embalo, o elenco é primoroso. A performance de Olga Kurylenko é estupenda, a melhor da carreira dela e do elenco de Amor Pleno. A atuação é tão boa que dispensa falas, diálogos, para ser no mínimo o mais tocante possível, forte e densa, leve e explosiva, dinâmica e sensível. A bela ucraniana já nos presenteou em outros trabalhos cinematográficos com seus admiráveis dotes de beleza que tanto os enfeitaram e nos contentaram (por exemplo, 007 - Quantum of Solace ou Paris, Te Amo, onde fazia uma vampira num segmento que, apesar de rápido, foi o suficiente sensual para dar água na boca). Aqui, a atriz não só nos brinda com essa sua beleza ímpar e hipnotizante mas também fascina com uma atuação plausível e versátil. Suas expressões, seus olhares, seu andar, seu estado de reflexão, seu calor, tudo em conjunto contribui para um desempenho estonteante e inesquecível.
O resto do elenco está apenas "ok". Acho o Ben Affleck um diretor impagável, mas pra mim é geralmente um ator regular (é bem raro eu me surpreender com ele como ator) e a presença dele em Amor Pleno foi assim, "apenas ok", muito embora ele não seja indispensável e eu mesmo nem consiga ver outro ator no papel dele. A talentosa Rachel McAdams foi desperdiçada (não foi nada bacana) e aparece bem pouco pro meu gosto. Javier Bardem é um dos meus atores prediletos e a atuação dele foi uma coisa agradabilíssima, ainda que ele também apareça pouco, mais para o final. Bardem interpreta um padre questionando sua existência e em crise de identidade. O espanhol entrega uma atuação simples e sem exageros, na medida certa.
Autobiográfico, o filme relata a história de amor de um americano e uma francesa. Quando ele retorna aos Estados Unidos, se depara com uma antiga paixão e não consegue resistir à tentação. Seu casamento entra em crise e tudo caminha ao caos e à perdição. Fidelidade, razão, tempo, desejo, delírio, solidão, perdão, mudança, sentido, sentimento, catarse, devoção. Em meio a desconstruções filosóficas e questionamentos pragmáticos, uma inquisição prevalece: o amor sobrevive? Sobrevive o amor? Existem regras para o amor? Existem limites para o amor? Para a maravilha. O amor é a maravilha.
Malick põe a sua ambição pra trabalhar em mais um projeto complexo, que exige atenção aos detalhes e compreensão. Amor Pleno é a inquietante observação da natureza de espírito em conflito consigo mesma, tragando energia emocional e expelindo força racional. Malick brinca com a nossa interpretação e esculpe uma ode ao amor e à indecifrabilidade da vida com uma sagacidade excepcional. Amor Pleno nos maravilha, nos provoca, nos enigmatiza... E é ainda por cima lindo pra caramba. Sr. Lubezki, gracias!
Amor Pleno (To the Wonder)
dir. Terrence Malick - ★★★★
No embalo, o elenco é primoroso. A performance de Olga Kurylenko é estupenda, a melhor da carreira dela e do elenco de Amor Pleno. A atuação é tão boa que dispensa falas, diálogos, para ser no mínimo o mais tocante possível, forte e densa, leve e explosiva, dinâmica e sensível. A bela ucraniana já nos presenteou em outros trabalhos cinematográficos com seus admiráveis dotes de beleza que tanto os enfeitaram e nos contentaram (por exemplo, 007 - Quantum of Solace ou Paris, Te Amo, onde fazia uma vampira num segmento que, apesar de rápido, foi o suficiente sensual para dar água na boca). Aqui, a atriz não só nos brinda com essa sua beleza ímpar e hipnotizante mas também fascina com uma atuação plausível e versátil. Suas expressões, seus olhares, seu andar, seu estado de reflexão, seu calor, tudo em conjunto contribui para um desempenho estonteante e inesquecível.
O resto do elenco está apenas "ok". Acho o Ben Affleck um diretor impagável, mas pra mim é geralmente um ator regular (é bem raro eu me surpreender com ele como ator) e a presença dele em Amor Pleno foi assim, "apenas ok", muito embora ele não seja indispensável e eu mesmo nem consiga ver outro ator no papel dele. A talentosa Rachel McAdams foi desperdiçada (não foi nada bacana) e aparece bem pouco pro meu gosto. Javier Bardem é um dos meus atores prediletos e a atuação dele foi uma coisa agradabilíssima, ainda que ele também apareça pouco, mais para o final. Bardem interpreta um padre questionando sua existência e em crise de identidade. O espanhol entrega uma atuação simples e sem exageros, na medida certa.
Autobiográfico, o filme relata a história de amor de um americano e uma francesa. Quando ele retorna aos Estados Unidos, se depara com uma antiga paixão e não consegue resistir à tentação. Seu casamento entra em crise e tudo caminha ao caos e à perdição. Fidelidade, razão, tempo, desejo, delírio, solidão, perdão, mudança, sentido, sentimento, catarse, devoção. Em meio a desconstruções filosóficas e questionamentos pragmáticos, uma inquisição prevalece: o amor sobrevive? Sobrevive o amor? Existem regras para o amor? Existem limites para o amor? Para a maravilha. O amor é a maravilha.
Malick põe a sua ambição pra trabalhar em mais um projeto complexo, que exige atenção aos detalhes e compreensão. Amor Pleno é a inquietante observação da natureza de espírito em conflito consigo mesma, tragando energia emocional e expelindo força racional. Malick brinca com a nossa interpretação e esculpe uma ode ao amor e à indecifrabilidade da vida com uma sagacidade excepcional. Amor Pleno nos maravilha, nos provoca, nos enigmatiza... E é ainda por cima lindo pra caramba. Sr. Lubezki, gracias!
Amor Pleno (To the Wonder)
dir. Terrence Malick - ★★★★
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