Hoje em dia, muitos atores são banalmente comemorados e idolatrados por motivos, no mínimo, irracionais ou simplesmente passageiros. Mas há lendas populares que realmente merecem ser celebradas, agraciadas, aplaudidas e veneradas como as melhores de todos os tempos. Eu já falei em outros posts e eu não me canso de repetir: a Meryl Streep é a melhor, incomparável. É a dona dos Oscars, é a dona dos melhores papéis, é a dona da pose, é a dona do talento! Ninguém jamais superará a gloriosa Meryl. E quando eu digo que a Meryl Streep é popular, quero dizer que ela é reconhecida, vangloriada por quase todos (muito merecidamente). Afinal, é raridade encontrar nos dias de hoje alguém do perfil dela, talentosa e reconhecida justamente por todos.
Não vou dizer que é o melhor filme que ela já fez (nem de longe), mas interpretar a fria, sólida, rígida, incansável e vilanesca Miranda Priestly foi uma das melhores coisas que a Meryl Streep já fez enquanto atriz. Não à toa é ela quem mais brilha em O Diabo Veste Prada, muito embora ela esteja mais para coadjuvante do que uma propriamente dita protagonista (este posto, por sua vez, é de Anne Hathaway, que contracena ao lado de Meryl na pele de uma jornalista à busca de um emprego que cai nas mãos de uma difícil editora-chefe de uma revista de moda conceituada).
O filme não é lá essas coisas. Tem seus prós e seus contras. Encaro O Diabo Veste Prada no geral como um filme leve, despretensioso e meramente astuto, mas que não consegue passar disso. Por exemplo, tem certas coisas que não me agradaram, e mesmo assim gosto dele do jeito que penso, leve e bobinho, artificialmente especial.
E o que mais me agradou aqui foi, inevitavelmente, a Meryl Streep, no papel de uma dondoca do mundo da moda carrasca e desprezível, que quer que todos se curvem diante dela, fazer o que ela quer a qualquer momento e a todo custo. Chega a ter, em certos momentos, em que a gente fica nervoso com as atrocidades dela e o jeitão mandona (qual é, a mulher só ao morder o lábio faz com que um estilista mude sua coleção inteirinha -- quem tem esse poder?).
E pensar que o filme é a adaptação de um livro escrito por uma jornalista chamada Lauren Weisberger baseado nas experiências da jovem ao lado de Anna Wintour, editora-chefe da Vogue americana, como sua assistente pessoal. Saber que a dona Wintour é como a carrasca Miranda na vida real a gente não sabe, mas alguns relatos de quem já atuou profissionalmente ao lado dela são bem assustadores e difamadores.
À parte da Meryl Streep, que está pra lá de ótima, a Anne Hathaway está razoável, mas quem rouba a cena (?) é a estonteante Emily Blunt, que faz Emily, a escrava da Miranda Priestly, chegando até a se parecer com ele na personalidade em certas sequências do filme. A coitada sofre para obedecer às demandas da chefe, fisicamente e psicologicamente, e isso resulta na sua frieza e constante seriedade. Nunca é bom se focar demais no trabalho. A personagem dela se afoga no próprio ofício, que a impede de ter uma vida e construir uma carreira.
Chega a dar pena, em certos momentos, do rumo que a personagem toma, e da vida dela, sempre encafifada no escritório da Miranda, estressada e inquieta consigo mesma. E olha que é só um filme. Imagine na vida real? A gente aprende que o mundo da moda é um mundo confuso, doentio e irreparavelmente cruel vendo essas coisas. Pra que, minha gente? Tanto dinheiro pra nada, tanto tempo pra nada. Não vou botar a culpa em ninguém, mas moda é pura perda de tempo. Um universo nojento, insustentável e supervalorizado. Não dá pra crer que a moda tem tantos seguidores assim. Mas, enfim, como eu disse, não posso julgar ninguém.
O Diabo Veste Prada (The Devil Wears Prada)
dir. David Frankel - ★★★
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