segunda-feira, 4 de abril de 2016

Revisão: "SCOOP: O GRANDE FURO" (2006) - ★★★★


Não sei o que deu em mim para não ter gostado de Scoop quando vi o filme da primeira vez ano passado. O filme não conseguia sair da minha cabeça. Tinha que rever. Ainda no ano passado, revi com minha irmã e apreciei bem mais do que da primeira vez. Vai saber. É cada uma que me acontece. Estava devendo de escrever sobre Scoop: O Grande Furo, há um bom tempo, muito por conta do mal-entendido com o filme. Eu sabia que era estranho demais para ser verdade, o Woody fazer um filme ruim. Corri atrás e decidi rever, e rever, e rever, para ver se o compreenderia melhor. E não é que eu simpatizei com o filme, rapaz? Puxa vida. Essas últimas revisões foram espetaculares, clarearam a minha mente e foi aí que me ocorreu de reformular a minha ideia a partir desse longa astuto e suntuoso que tanto me intrigou e encantou.

A questão é interpretação, ir além, saber distinguir a brincadeira da filosofia. Pode parecer banal, mas do que tem de cômico Scoop também é filosófico, tentador, multifacetado. É complexo, apesar das aparências. A começar pela linha tênue que separa a comédia do suspense, e que facilmente pode confundir a cabeça do espectador. Woody monta uma trama obscura, a de um serial killer à solta e uma estudante de jornalismo que, durante uma apresentação de mágica, encontra o espírito de um falecido repórter que quer que ela investigue o paradeiro do jovem filho de um rico lorde, suspeito de ser o "Assassino das Cartas de Tarô". A jovem universitária americana, com a ajuda de Sidney (Splendini, o mágico), vai atrás da história. 

Woody mistura elementos do thriller e da comédia bolando uma surpresa imediatamente estupenda. Cabe ao espectador com qual clima se identificar. Ou seja, nem vale julgar Scoop como uma comédia ou como um suspense propriamente ditos. O filme não é um e nem é outro, mas sim o derivado do mix dois, uma brincadeira ingênua e atrevida do Woody, que solidifica dois gêneros num só. A proposta do diretor é entregar uma experiência que beira o humor e a tragédia, capaz de tanto amedrontar quanto gargalhar o seu público.

Vale rir, vale questionar, vale entrar na história sem medo de ser surpreendido. O bacana é prestar atenção aos detalhes, à maneira como Woody costura a trama e apronta diante dos nossos olhos truques de mágica cinematográficos invencíveis. O que o diretor quis dizer com esse filme que tanto pode ser encarado como despretensioso e sério (ou, de um ângulo mais profano, é despretensioso, porém sério -- ou sério, porém despretensioso). 

Mas Scoop não é um filme ruim. O propício é relaxar e deixar o filme te levar. Woody faz de conta que é Hitchcock e tira sarro das empreitadas de seu suspense gritante e enigmático (embora despretensioso -- viram como é que funciona?), mas ainda sim vai levando ele sem deixar que a sátira tome conta e desvirtue os momentos mais obscuros, suspensos.

A química da "dupla de detetives" Woody Allen e Scarlett Johansson é fabulosa. Os dois funcionam plenamente. Não tem como não se deliciar diante das aventuras impagáveis deles adentro a investigação secreta que eles manejam. As participações de Hugh Jackman e Ian McShane são gloriosas. 

De uma forma mais lúdica, Woody brinca com a morte, ao encenar o repórter Joe Strombel no barco da morte, tentando chantageá-la, típico truque de jornalista, para descobrir o destino. Essa sequência é uma das mais memoráveis do filme. O final também reflete certo otimismo acerca a misteriosa passagem. Scoop é sobre a busca pelo sentido, a tentativa de compreender e codificar os acontecimentos que nos cercam, a consequência dos nossos atos, a intriga, os porquês. O furo jornalístico da estudante Sondra, os truques de mágica de Splendini e a curiosidade sobre o pós-morte que passageiramente instiga Strombel. Todos estão à procura, tentando rastrear as respostas para as suas questões, dando corda à enigmática existência. Também merecem menção, pela construção de uma atmosfera de suspense e constante escuridão tenebrosos, que tanto contribuem para esse lado obscuro do filme, a trilha, que faz uso de composições musicais bem intensas do naipe de "In the Hall of the Mountain King" e um trecho de "Cisne Negro", de Tchaikovsky, que abre o filme brilhantemente e a fotografia de Remi Adefarasin, o mesmo de Match Point.

primeiro post: Scoop: O Grande Furo
Scoop: O Grande Furo (Scoop)
dir. Woody Allen - 

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