sábado, 6 de junho de 2015

Crítica: "MAIS ESTRANHO QUE A FICÇÃO" (2006) - ★★★


Mais Estranho que a Ficção me surpreendeu. No fundo, foi maravilhoso ver esse espetacular filme. E  olha que eu não tinha a menor vontade de vê-lo, na expectativa que em seu final me cansaria. Mas ele não cansou. Ele, de uma certa forma, renovou minha percepção à frente dele e de sua gloriosa jornada. O que me deixou muito aborrecido em Mais Estranho que a Ficção é que ele é um filme dramático, o que certeiramente contrariou minha visão do filme como uma comédia, que funcionaria bem melhor à história. Drama, no final das contas, não caiu bem em Mais Estranho que a Ficção. 

Will Ferrell faz Harold Crick, um homem de diário incomum, mas quieto, privado de amizades e comunicações sociais, algo que faz dele um alguém intensamente solitário. Harold convive à base de um cotidiano rigoroso que, por ele, raramente, senão nunca, é quebrado. Certo dia, após acordar, enquanto escovava os dentes, Harold ouve uma voz, aparentemente emergida do nada, que inicia a narrar sua vida: seus movimentos, suas ações, seus pensamentos, seus diálogos... Tudo.  Confuso, Harold começa a se atrapalhar e se desconcentrar em suas atividades, o que o causa um incômodo infeliz. Depois de buscar assistência médica e falhar na tentativa, Harold vai até um professor literário que formula teses e teorias a partir de diferentes livros, no intuito de conseguir do homem um possível resultado em relação à narradora invisível e onipresente que tanto vem o causando intriga. No entanto, o jogo, inicialmente inocente e até então despretensioso, toma proporções maiores, quando a narradora de Harold anuncia sua morte. Neste momento, Crick dá partida em uma corrida contra o tempo a fim de salvar a sua vida, e tenta encontrar e identificar quem é essa narradora que tanto o atormenta. 

A ideia do filme por si é ótima, genial, incalculavelmente brilhante. Só que o resultado não corresponde cem por cento às primeiras expectativas da concepção da jornada. Certo que ela é demasiadamente atraente e desperta em nós curiosidade, mas, por vezes, é preciso pensar: "Será que essa brilhante ideia terá um brilhante final?", já que ultimamente o que mais estraga filmes de extensa qualidade narrativa inicial é a inutilidade de seu final. Não é assim, ainda bem, em Mais Estranho que a Ficção, só que o longa não é totalmente sucessivo nesse feito. Setenta por cento, digamos. O filme não é tão bom como Quero Ser John Malkovich ou Feitiço do Tempo, apesar de estar extraordinariamente próximo da excelência das obras citadas. Falta, neste drama sensível e bondoso, a audácia, o atrevimento, a cientificação dos elementos. Falta, nos bem bordados conflitos da trama, um sabor que a ofereça traços originais. 

Vale dizer aqui que, para a minha inesperada expectativa, o roteiro é genial. Autoria de Zach Helm, o roteiro mostrou uma eficiente inteligência e notória maturidade. E isso ajuda muito num longa que depende inteiramente de seu roteiro no retrato e na visão de seus interligados persongens. Não consigo enxergar neste roteiro de Helm fraquezas profundas. Se há algo de mal nele sinceramente digo que é a falta de complexidade. Em certos momentos, a história desvia causa e efeito e deixa algumas questões, de caráter compreensivo, vazias.

Marc Foster mostrou-se um capaz e densamente evoluído ao retratar a peculiar jornada de Crick num plano em si tão simplificado, nítido, sem ser precisamente escandaloso ou, como gosto de falar, depreciativo. É em sua estrutura normal, claramente abstrato e longamente absurdo. De certo o forte deste filme são as interpretações arrebatadoras dele (comentarei daqui a pouco), mas a direção é o que comanda tudo. Concluindo, ela não é tudo isso, mas também é algo a ser visto na película. Ou seja, ela se situa em algum lugar entre a incompetência e a perfeição (mediano). E, se visto com outros longas da filmografia de Marc, é um ponto altamente excelente. Acredito que o que melhor vi de Marc até o exato momento foi Em Busca da Terra do Nunca, com Kate Winslet e Johnny Depp, que mesmo sendo um pouco bobo para meu gosto, até que deu para engolir, já que o longa mostrou-se preciosamente delicado e profundo. Não gostei muito de 007 - Quantum of Solace. O Caçador de Pipas me deixou muito dividido. Este é Marc. Apesar dessa filmografia inteiramente média, confio que ainda sim ele nos mostrará algo de intenso valor. 

O elenco é particularmente adoidado, no melhor sentido da coisa. Dedicado, competente, eficiente, sem medo e inovador. Os membros atores são excelentes. Em destaque, o excentricamente talentoso Will Ferrell, em uma das performances mais notáveis de sua curta carreira, se não é a melhor que ele já fez até o momento. Atuando duplamente no drama e na comédia deste longa, Farrell é imperdível. Emma Thompson vem em seguida, encarnando uma escritora loucamente sem criatividade tentando encontrar, ao lado da assistente Penny (Queen Latifah), um jeito de matar Harold em seu romance. A Maggie exagerou um pouco, ou então ficou muito sem graça. Não dá nem pra falar dela. Dustin Hoffman apareceu timidamente, e saiu de fininho. Desse elenco estrelado, concluo que os dois que mais se saíram bem foram Ferrell e Thompson.

Mais Estranho que a Ficção (Stranger than Fiction)
dir. Marc Forster - 

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