Todos nós cometemos erros. Até mesmo Woody Allen, um de meus diretores prediletos e quem eu considero um inestimável gênio da sétima arte. Mas, é compreensível. Afinal, todo cineasta tem fracassos. Scoop: O Grande Furo não só não me agradou como também me deixou terrivelmente desapontado. É um filme completamente inverso ao grande sucesso de Allen Match Point - Ponto Final, filmado um ano antes desta película. Engana-se quem pensa que verá uma grandiosa obra sucedendo uma obra ainda maior como nesta relação poderia ser fácil de encontrar.
Eu não sei. Como eu não vi a filmografia inteira de Woody até agora, não posso desqualificar e nomear Scoop como seu pior filme. Claro, com certeza não é o melhor. A ideia do longa é ótima: uma estudante de jornalismo americana vai à Londres e, após se candidatar à voluntária de um dos truques de um excêntrico mágico chamado Sid Waterman, durante o truque ela vê o fantasma de um falecido repórter britânico, Joe Strombel, que a avisa sobre o paradeiro do assassino das cartas de tarô, um serial killer que, por algum tempo, deixou os tabloides e a polícia de Londres de cabeça para baixo em meio às suas incômodas brutalidades. Com isso, o repórter revela à Sondra que esse assassino é um rico milionário de nome Peter Lyman. Após esse evento, Sondra contata o cômico Sid e parte em busca de provas em uma desoladora aventura. O único problema é que se Sondra encontra-se perdidamente apaixonada por Peter, que cada vez mais a parece menos assassino e bem mais sedutor.
O bom deste longa só mesmo é Woody. Visto pouco - muito raramente - atuando em seus filmes, atividade que foi se deteriorando com a chegada da velhice de Woody no final da década de 90, creio eu, vê-lo em Scoop é realmente uma preciosidade, nesse ponto. Como diz o personagem de Hugh Jackman, "muito irônico"... Mesmo que este não seja o pior filme, é um fracasso e tanto. Sem dúvidas, é o pior roteiro já escrito por Woody. Os detalhes vão se perdendo com o desenvolvimento da história. Parece que os detalhes vão desaparecendo para Woody. E incrivelmente não pelo público. Esse é um raro momento onde o espectador foi capaz de superar a inteligência e os mágicos truques de Woody.
Uma hora, o filme diz isto. Outra hora, desmente tal revelação. Outra hora, faz invenções hipócritas acerca dos acontecimentos e reverte todo o mistério, o que é, talvez, a decepção mais dolorosa da sessão. Não há equilíbrio entre o suspense, o drama e a comédia da história: outro ponto extremamente inusual para um longa dirigido por alguém do nível de Allen (posso estar errado, mas acredito que o humor, mesmo que seja bom e de ótima qualidade, matou o suspense da trama, o clima central de toda a história, e, acredito eu, acabou matando a essência da película). Quando digo humor, digo os diálogos/debates imprescindíveis protagonizados pela belíssima Scarlett Johansson (na segunda das três colaborações com o gênio) e o próprio Woody. Diálogos tremendamente engraçados. Porém, não ajudou muito.
Já em Match Point isso não aconteceu. Muito pelo contrário. Os elementos foram regidos por Allen com uma excepcional excelência e divina genialidade. Nada ficou "ao ar", algo que é frequente visto aqui. Além disso, o suspense e o drama tinham enorme consistência. Não sei o que houve no longa sucessor deste, O Sonho de Cassandra, que se parece bem mais sério do que este (nova missão: ver O Sonho de Cassandra). Mas é com tamanha infelicidade e tristeza, com um misto de desapontamento, que termino esta resenha alcunhando Scoop um dos longas mais imperdoavelmente ruins já dirigidos e, principalmente, escritos por Woody. Muito triste. Esperemos por Homem Irracional, e uma possível salvação.
OBS.: Não cometam a insensata gafe de ver Scoop dublado, como eu fiz. Mais um longa cuja dublagem destrói completamente tudo.
Scoop: O Grande Furo (Scoop)
dir. Woody Allen - ★★
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