quinta-feira, 4 de junho de 2015

Crítica: "O DUPLO" (2013) - ★★★★


O Duplo, novo longa de Richard Ayoade, ator e cineasta inglês que em 2010 dirigiu Submarine, é literalmente uma peça rara. Adaptação do romance homônimo do russo Fiodor Dostoievski, o longa é uma coisa de louco. E até que emociona, mesmo que seja incansavelmente bizarro e estranho a ponto de deixar o espectador desnorteado. Simon James, um homem solitário, tímido e infeliz, que trabalha em uma empresa corporativa, vê seu já pequeno mundo desabar com a chegada de James Simon, um homem fisicamente idêntico à ele que faz de tudo para atrapalhar seu comportamento e roubar suas ideias, sempre se safando de todas.

Entre umas e outras, O Duplo surpreende por que é íntegro e original. Caso contrário, não teria dúvidas de que o experimental seria uma completa cópia sem sentido dos grandes clássicos do cinema nonsense. O que, possivelmente o tornaria chato e consequentemente repetitivo seria o uso de referências alusivas para complementar a trama. Como aqui não vejo presença de tal característica, o longa logo se torna bem sucessivo pra mim, justo por essa vitória contra o clichê. E mesmo que o roteiro use e abuse da trama com invenções táticas que mais atrasam do que evoluem a história e o desenrolar do conflito, fica meio pesaroso reclamar disso quando já se é mil vezes mais divertido e satisfazedor ver o quão maravilhoso é o uso de elementos e detalhes com tamanha perfeição, que claramente exibem o talento e a maturidade de Ayoade.

Jesse Eisenberg é incrivelmente sensacional e poderoso ao fazer o duplo papel de Simon e James, apesar de que poderia ser melhor. Fazendo um papel que poderia muito bem dar-lhe maior reconhecimento do que ele recebeu de fato, ele ficou ainda sim escondido pelo clima aventureiro e atipicamente obscuro da história que não deu chance à ele de dar aquela grande "virada", que no final, não acontece. Ainda que sua interpretação seja boa, completa e concretamente engajada, faltou algo para fazê-la insubstituivelmente memorável, digna de um, por exemplo, Oscar, já que o próprio Jesse, desde que fez Mark Zuckenberg em A Rede Social, vem chamando muito a atenção dos votantes da Academia, que só estão esperando por outra grande interpretação a fim de dar ao ator mais uma nomeação e possivelmente sua primeira - merecida - estatueta. Diria que até por este O Duplo, que o exibe com força, uma indicação ao Oscar bem seria suficiente no fim de reconhecer o esforço do ator aqui. Com sensibilidade e furiosa majestosidade, Richard Ayoade faz seu melhor filme até o momento assumindo a direção de O Duplo. Também autor de um roteiro estratégico e bem-montado, elogios são inteiramente necessários à Richard na intuição de demonstrar seu papel de extrema importância no longa. 

Mia Wasikowska, que ultimamente revelou-se demasiadamente talentosa e matura para sua "idade" (digo é, atores teens desta geração não tendem a trabalhar tão seriamente em adaptações da literatura russa e ainda sim filmes de David Cronenberg), aqui continua belíssima como natural. Apesar de que a sua revelação tenha sido em Alice no País das Maravilhas, quase não possuo dúvidas de que sua revelação dramática e coadjuvante tenha sido neste filme. Uma pena que, de tão bom que é, O Duplo tenha demorado dois anos para ser lançado aqui no Brasil, já que só chegou em nosso circuito em janeiro deste ano.

O Duplo (The Double)
dir. Richard Ayoade - 

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