A cada filme a mais que vejo dele, se intensifica a certeza de sua grandeza e autoridade cinematográfica. Spielberg é um mestre, já disse e volto a repetir, empossado da mais segura segurança que há. Não tem quem duvide de seu legado. Sua filmografia é prova, elimina pontos de interrogação. Um dos clássicos mais clássicos de Steven, Contatos Imediatos do Terceiro Grau marca o desabrochar de uma das carreiras mais brilhantes de toda a história do cinema. Conjunto a Tubarão, o longa é símbolo dessa fase promissora do Spielberg, que já nos anos jovens exibia ao mundo as suas habilidades com o cinema em geral. E, falando disso, simplesmente não dá pra ignorar este aqui.
Não dá pra competir com esse calor infernal. Sério. Não desejaria tal coisa nem para meu pior inimigo. Eu não consigo me concentrar pra escrever, fico cambaleando pra lá e pra cá com vontade de dormir, e é simplesmente um saco. Nem preciso falar que sou fã do inverno, e o quanto o verão me incomoda (e o pior é que não é só o clima, mas uma série de fatores que contribuem para a tensão no espaço e a dispersão e falta de tempo).
Mas, enfim, enquanto eu reclamo, perco esse precioso tempo meu. Vamos falar sobre o que interessa. Bem, Contatos Imediatos do Terceiro Grau é o primeiro grande filme sobre alienígenas realizado por Spielberg. Alguns anos depois deste, veio E.T.. É legal acompanhar o filme visando seus avanços técnicos de produção (efeitos visuais, cenários) e etc., mas eu acho que melhor ainda é observar como o Spielberg manja de contar histórias. O cara foi feito pra isso. O que é mais perfeito ainda em relação? O filme mixa as duas maiores paixões do cineasta: contar histórias e alienígenas. Ou seja, deu no que deu. Não tinha como dar errado.
Presente. Após vivenciar um encontro com um O.V.N.I., Roy Neary (Richard Dreyfus), um homem comum, rotineiro, pai de família, decide ir mais afundo e fica obcecado com a experiência, passando a analisar minuciosamente de perto casos com extraterrestres na região onde vive. As coincidências do destino e sinais que só ele parece captar o levam à tentação de prosseguir com uma maluca mas inevitável investigação. Tudo o que ele quer é respostas. A família se afasta e ele começa a enlouquecer, mas nada é demais: ele não desiste.
Spielberg fermenta a sua fábula moderna (da sua própria autoria, já que ele é também roteirista além de diretor) com sensibilidade e humanidade (pode-se dizer que são características de seu estilo levemente arrojado e 'politicamente correto' de se fazer cinema, a fórmula para equilibrar o projeto aos mais diferentes públicos), se descontrai em momentos de humor e nos cativa em momentos de adrenalina e insuficiência respiratória proporcionados.
Orçamento baixo uma ova! Com um pouco menos de 20 milhões em mãos (o que é tecnicamente falando uma quantia modesta para um filme deste patamar), Spielberg caprichou e não economizou na criatividade e na boa lábia de ilusionista que exerce pra fazer de Contatos Imediatos do Terceiro Grau um sucesso de bilheteria da época, e também nas premiações. Pra quem vive falando que hoje os filmes dele são superproduções e que ele só conseguiu o que ele tem por conta do dinheiro, vão estudar história um pouco, ok!? Se o homem hoje é um bilionário, é porque soube ser inventivo na medida certa e rimou seus dotes à seu grande amor com devoção e sangue.
Depois da bem-sucedida parceria em Tubarão, Dreyfus voltou a trabalhar com Spielberg, numa performance igualmente devastadora e excelente. O ator conduz bem os lados dramático e cômico do seu personagem, lhe direcionando a um resultado bravíssimo. A participação de François Truffaut é amável de se acompanhar, uma oportunidade literalmente rara. Uma pena que ele não tenha vivido mais do que 52 anos de vida. Quem dera ele estivesse vivo hoje pra contar a história.
Contatos Imediatos do Terceiro Grau metamorfoseou-se num clássico instantâneo do cinema americano, tendo o mesmo servido de influência para diversos trabalhos seguintes do gênero ficção-científica e afins. Hoje em dia, o filme também faz parte da cultura popular, sendo o título remetente aos mais diversos tipos de espectador, do cult ao povão. Até na melodia do gás (inconfundível o tema do filme de cinco notas que virou musiquinha do caminhão do botijão de gás)!
Steven Spielberg dá um show de competência, um exemplo para os cineastas iniciantes dos dias de hoje. Quero dizer, é bem improvável que um novo Spielberg surgirá no futuro (pra termos outro Spielberg, só nascendo mais um Spielberg, né?), mas fica aí a dica: use a cabeça. Não se intimide com o orçamento, com sua condição social ou com qualquer outra coisa que lhe meta medo. No cinema, tudo é possível. Nas telonas, o impossível vira realidade num piscar de olhos. Use a criatividade, não economize em truques, faça o impossível para ser o mais inventivo de todos. Não vai ser fácil, é preciso realizar alguns sacrifícios, mas com muito esforço e dedicação se chega lá.
Contatos Imediatos do Terceiro Grau é uma obra icônica, uma demonstração verdadeira de arte e de cinema de qualidade. Spielberg é um gênio. John Williams também. E o Vilmos Zsigmond (ainda estou de luto, pessoal), esse mestre da fotografia, que infelizmente nos deixou há aproximadamente um mês, muito triste relembrar do momento em que recebi a notícia. A coisa boa é que em Contatos Imediatos do Terceiro Grau o húngaro também não deu mole no esforço e na força de vontade. O resultado é triunfal, e não à toa ele conquistou o Oscar de Fotografia em 78, o único prêmio do filme (o prêmio de Sonoplastia foi honorário).
Essa película encanta, seduz, enfeitiça. É colossalmente mágico, não dá pra negar. Irresistível. Profundamente memorável. Como diria Alcione, "É você, meu Spielberg, é tudo de bom!". Contatos Imediatos do Terceiro Grau é um filme obrigatório, um marco inegável. Pra conhecer Steven Spielberg, você tem que conhecer esse filme. Elenco, fotografia, direção de arte, roteiro... Não há como dizer "não".
Contatos Imediatos do Terceiro Grau (Close Encounters of the Third Kind)
dir. Steven Spielberg - ★★★★★
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