terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Crítica: "O NOVÍSSIMO TESTAMENTO" (2015) - ★★★


Jaco Van Dormael. 58 anos. Belga. Diretor de cinema. Quatro longa-metragens. A mente por trás de O Novíssimo Testamento. O nome Jaco Van Dormael é mais conhecido (ou melhor dizendo unicamente conhecido) por aqueles que testemunharam Mr. Nobody, já que os dois filmes anteriores a este do diretor (que também atua como roteirista) não tiveram tanta fama quanto o em questão. Dormael dirige, produz e assina o roteiro de O Novíssimo Testamento

Embora não seja tão complexo quanto o antecessor, O Novíssimo Testamento fica na cabeça mesmo após o término na sessão, no sentido de ser cheio de múltiplas interpretações e questionamentos interessantes. A vertente filosófica de Mr. Nobody repete-se em O Novíssimo Testamento: a crônica moderna abre portas para uma leve complexidade que não dificilmente é digerida pelo espectador, como uma sinfonia vibrante. De qualquer modo, é um filme curioso. E isso é bom.

De um lado surreal, do outro rusticamente materialista, O Novíssimo Testamento é uma saudável sarcástica crítica à civilização e cujo poder de influência varia de público para público. Ou seja, o trabalho é muito particular. Talvez o que eu acho dele não é o mesmo que você. E o que mais atrai em filmes que dividem público é a magnitude de seu astuto imaginário, que não só pode como deve causar reações contrárias nos espectadores. De fato, é correto afirmar que há certas imperfeições em O Novíssimo Testamento. Mas há qualidade aqui. 

Dormael confere sensibilidade e delicadeza à personagens críveis ainda que sutilmente esquisitos unidos pelo mesmo empurrão. É aí que encontramos um elemento importantíssimo no desenvolvimento do filme: autoridade. Força e estabilidade se abraçam. O resultado é incrível, porque a quantidade de contextualizações que vão surgindo com o choque das situações é incontrolavelmente ágil e ininterrupto. Não é à toa que tal imensidão às vezes transpareça demais espontânea para quem assiste. 

O Novíssimo Testamento estuda a ótica das relações humanas nos dias atuais, os ecos do universo religioso, a densidade do tempo, a morte (ou a representação do fim de tudo) de maneira genial e absurdamente profunda, sendo um dos grandes méritos deste filme ser indiretamente humano. A comédia negra de Jaco Van Dormael termina sublime, uma verdadeira pérola cinematográfica. O Novíssimo Testamento também é tecnicamente exuberante, conta com um elenco bravamente talentoso (de Benoît Poelvoorde a Catherine Deneuve, com destaque à jovem protagonista Pili Groyne), certamente um filme único. Garantia de satisfação. 

O Novíssimo Testamento (Le Tout Nouveau Testament)
dir. Jaco Van Dormael - 

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