Não ser amado pode doer. Mas não ser correspondido dói mais.
Foi da curiosidade de que Setembro é o filme que menos faturou nas bilheterias em toda a carreira do Woody Allen que me surgiu a curiosidade em ver o tal longa e se havia um porquê para tal feito. Que nada! Um dos trabalhos mais primorosos dele ser também o mais desprezado (desta vez tanto por crítica e público) e menos visto, bem irônico. O filme, livremente inspirado na peça Tio Vanya, de Anton Chekhov, foi pensado como um filme teatral pelo Woody, e de fato ele carrega um ar bastante teatral, isso até mesmo por conta da montagem do filme e do estilo narrativo assumido (acho que já do fato dele ter filmado o longa duas - quase três - vezes, dá uma noção do "teatro" que ele quis fazer).
Setembro se passa dentro de uma casa de veraneio em Vermont, e sua trama é centrada em duas irmãs, Lane e Stephanie (Mia Farrow e Dianne Wiest, respectivamente), que estão hospedadas no lugar e nutrem um carinho muito especial por um convidado da casa, o escritor Peter (Sam Waterston). Ainda temos em cena a extrovertida mãe (Elaine Stritch) que esconde um passado amargo e tem uma relação conflituosa com a filha Lane, que passou por poucas e boas ao lado dela num episódio fatal do pretérito. Desencontros vão e vem, um professor de francês, Howard (Denholm Elliot), que também se encontra no casarão, está perdido de amor por Lane.
Pouquíssimos filmes do Woody são tão dramáticos a ponto de excomungar a comédia, o forte do cineasta. Nem mesmo dois dos seus melhores filmes de drama, Crimes e Pecados e Blue Jasmine, são 100% dramas. Nesse quesito, é fácil comparar a totalidade genérica de Setembro a Interiores ou Match Point, pra não esquecer também de O Sonho de Cassandra que, apesar de ser suspense (e também drama, no fundo) erradica a comédia. São estes três filmes os filmes do Woody Allen em que rir é praticamente improvável, se eu não estou me esquecendo de algum (ainda não vi Mulheres e Maridos, pra constar).
Deixando um pouco de lado a questão do gênero, Woody conduz bem o filme e constrói um clima de tensão e desconforto que contribui na maior parte do tempo ao conflito entre os personagens e fortalece a contextualização das relações abordadas. A melancolia é quase uma marca registrada do filme em si, e tanto contribui para o estilo assumido, o andamento da trama e o esculpimento dos personagens. Os diálogos são pungentes e geniais (Woody Allen, né?) O desfecho e um tanto depressivo é salgado deliciosamente com uma pitada de suspense.
O elenco é primoroso, em especial o trio feminino Mia Farrow, Dianne Wiest e Elaine Stritch, três performances valiosíssimas. O filme inteiro foi filmado nos interiores do estúdio Kaufman Astoria (o mesmo estúdio que onde viria a ser filmado, mais tarde, Neblina e Sombras), e junto a isso vem o reconhecimento do trabalho do pessoal da direção de arte e da decoração do set e também da fotografia (Carlo Di Palma, em mais uma colaboração fantástica com Allen).
Woody discute a esfera do amor em um de seus filmes mais multifacetados e interessantes, que pode despertar as mais distintas interpretações no público. A trama inquietante e de fundo teatral desconstrói os valores da família e do amor incorrespondido. O filme também abriga questões como solidão, culpa e traição. Setembro é a tragédia dos sentimentos, a roda viva das desilusões e das frustrações amorosas. É um drama romântico/familiar incrível e thought-provoking, um trabalho mais que excepcional do nosso querido mestre Woody. Ah, e outra coisa: esse é um dos meus posteres favoritos de todos os tempos!
Setembro (September)
dir. Woody Allen - ★★★★
Setembro se passa dentro de uma casa de veraneio em Vermont, e sua trama é centrada em duas irmãs, Lane e Stephanie (Mia Farrow e Dianne Wiest, respectivamente), que estão hospedadas no lugar e nutrem um carinho muito especial por um convidado da casa, o escritor Peter (Sam Waterston). Ainda temos em cena a extrovertida mãe (Elaine Stritch) que esconde um passado amargo e tem uma relação conflituosa com a filha Lane, que passou por poucas e boas ao lado dela num episódio fatal do pretérito. Desencontros vão e vem, um professor de francês, Howard (Denholm Elliot), que também se encontra no casarão, está perdido de amor por Lane.
Pouquíssimos filmes do Woody são tão dramáticos a ponto de excomungar a comédia, o forte do cineasta. Nem mesmo dois dos seus melhores filmes de drama, Crimes e Pecados e Blue Jasmine, são 100% dramas. Nesse quesito, é fácil comparar a totalidade genérica de Setembro a Interiores ou Match Point, pra não esquecer também de O Sonho de Cassandra que, apesar de ser suspense (e também drama, no fundo) erradica a comédia. São estes três filmes os filmes do Woody Allen em que rir é praticamente improvável, se eu não estou me esquecendo de algum (ainda não vi Mulheres e Maridos, pra constar).
Deixando um pouco de lado a questão do gênero, Woody conduz bem o filme e constrói um clima de tensão e desconforto que contribui na maior parte do tempo ao conflito entre os personagens e fortalece a contextualização das relações abordadas. A melancolia é quase uma marca registrada do filme em si, e tanto contribui para o estilo assumido, o andamento da trama e o esculpimento dos personagens. Os diálogos são pungentes e geniais (Woody Allen, né?) O desfecho e um tanto depressivo é salgado deliciosamente com uma pitada de suspense.
O elenco é primoroso, em especial o trio feminino Mia Farrow, Dianne Wiest e Elaine Stritch, três performances valiosíssimas. O filme inteiro foi filmado nos interiores do estúdio Kaufman Astoria (o mesmo estúdio que onde viria a ser filmado, mais tarde, Neblina e Sombras), e junto a isso vem o reconhecimento do trabalho do pessoal da direção de arte e da decoração do set e também da fotografia (Carlo Di Palma, em mais uma colaboração fantástica com Allen).
Woody discute a esfera do amor em um de seus filmes mais multifacetados e interessantes, que pode despertar as mais distintas interpretações no público. A trama inquietante e de fundo teatral desconstrói os valores da família e do amor incorrespondido. O filme também abriga questões como solidão, culpa e traição. Setembro é a tragédia dos sentimentos, a roda viva das desilusões e das frustrações amorosas. É um drama romântico/familiar incrível e thought-provoking, um trabalho mais que excepcional do nosso querido mestre Woody. Ah, e outra coisa: esse é um dos meus posteres favoritos de todos os tempos!
Setembro (September)
dir. Woody Allen - ★★★★
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