Sábado, chuva, e eu sem fazer absolutamente nada. Então, eis que decido ver esse filme. O terceiro longa-metragem de Sofia Coppola (sim, a talentosíssima filha de Francis Ford Coppola) é uma obra sem igual, espetacular e exuberantemente belíssima. Maria Antonieta é um retrato histórico, apesar de ser bastante particular da Sofia, visionário e atenuado, e resulta em mais uma experiência única e um trabalho sucessivo da majestosa Sofia, que, com certeza, faz um danado jus ao sobrenome Coppola. E é lógico, como não? Mesmo ao assumir um projeto tão delicado e forte como esse, ainda sim é possível identificar traços de Sofia que já nos remetem à outros filmes seus, tal como o romântico e memorável Encontros e Desencontros e As Virgens Suicidas.
Maria Antonieta causou uma tremenda polêmica por abordar a jornada de Maria Antonieta de um jeito totalmente diferente protestado pela verdadeira história, e que acabou dando certo. Aqui, a princesa/rainha é vista como vítima aos olhos de Sofia. Presa à um mundo de constantes escândalos, onde se deve seguir inúmeras regras, ter bons modos, e ainda aturar as fofocas que rodam pelo palácio, Maria Antonieta "meio" que ficou sem saída. Ainda adolescente, era pressionada por não conseguir gerar um herdeiro do marido, o príncipe, isso causando nela muita tristeza, além de também ter sido criticada por todo o seu reinado por diversas razões, entre elas a sua original nacionalidade, austríaca... E, enfim. Até que no fim de tudo, como eu mesmo disse há pouco, essa visão de Sofia Coppola onde Maria Antonieta sai impune por seus atos de ganância que tanto intensificaram a pobreza e a revolta, e ainda é vítima, é disponível, totalmente aceitável e original.
Adaptação do livro Marie Antoinette: The Journey, da autoria de Antonia Fraser, Maria Antonieta, utilizando-se ou não de tais artifícios para descriminalizar o nome da ex-rainha/princesa, é um filme estupendo, brilhante e cativante. Mas neste filme, não há adjetivo algum que supere belíssimo. Maria Antonieta é, antes de tudo, um filme belíssimo. Excentricamente luxuoso, beleza é o que não falta neste longa primoroso, e muito luxo, logicamente. Afinal, foi para isso que Sofia Coppola filmou a maioria das cenas do longa no interior do palácio de Versalhes - luxo que poucos filmes épicos jamais teriam e terão! -. Falando em cenários, essa direção de arte é mesmo uma coisa de doido. É tudo muito perfeccionista, sem nenhuma falha, com muito luxo e riqueza. É isso que faz de Maria Antonieta uma obra imperdível. Os figurinos desenhados por Milena Canonero, que renderam à senhora italiana seu terceiro de, até o momento, quatro óscares (Milena venceu esse ano Melhor Figurino por seu igualmente magnífico trabalho em O Grande Hotel Budapeste) são de uma majestosidade astronômica e inigualável qualidade. Olha, eu não entendo praticamente nada de figurinos, moda e tudo relacionado ao assunto, mas, sinceramente, os figurinos de Canonero neste longa são divinamente maravilhosos. Sério! E olha que usualmente nem costumo ligar para isso em filmes.
A fotografia de Lance Acord, que já havia trabalho com a Sofia em Encontros e Desencontros, além de ter feito outros trabalhos impecáveis como Quero Ser John Malkovich e Adaptação, ambos de Spike Jonze, assina aqui belamente a condução visual, de maneira arrebatadora, sensível e calorosa, que nos deixa enfeitiçados, e ainda mais aperfeiçoa a beleza luxuosa de Maria Antonieta. O elenco é uma graça, a começar pela indescritível Kirsten Dunst, dona de um talento riquíssimo e feroz. Como Maria Antonieta, ela é, ao mesmo tempo, doce, amarga, sensual, inibida, desinibida, impetuosa, sarcástica, monumental e jovial. Sua atuação é incrível. Outros membros do elenco à parte ela também foram igualmente plausíveis, entre eles: Jason Schwartzman (ator que eu geralmente nunca me dou bem, apesar de ter feito trabalhos feras com o Wes Anderson), Judy Davis, Steve Coogan, Asia Argento, entre outros. Vejam e revejam, por favor. Mesmo se você não gostar de filmes épicos ou com um caráter mais convencionalmente histórico, veja Maria Antonieta. É um filme especial. Merece atenção, mesmo. Gostei de tudo um pouco aqui. Lógico, que há falhas. Se há exageros? Há exageros. Mas vejam. É lindíssimo. Impossível dar mais motivos para ver.
Maria Antonieta (Marie Antoinette)
dir. Sofia Coppola - ★★★★
Ótimo filme realmente, mas sinto que Sofia se perdeu na metade do filme, poiso o mesmo ficou meio que vazio.
ResponderExcluirVi o filme há muito tempo, mas lembro de ter sentido algo parecido quando vi da primeira vez. Boa observação.
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