quinta-feira, 16 de julho de 2015

Crítica: "O CONTO DA PRINCESA KAGUYA" (2013) - ★★★★


Para a nossa infelicidade e explícita tristeza, o conceituado Studio Ghibli, faz algum tempo, anunciou seu encerramento, o que é tremendamente lamentável, já que o estúdio de animação japonês sempre me proporcionou bons momentos em tela, além de muitas das vezes - para não dizer todas as vezes - trouxe conteúdo do bom e do melhor, sempre da mais excelente qualidade. Vi hoje O Conto da Princesa Kaguya, o último longa produzido pelo estúdio, indicado ao Oscar de Melhor Filme de Animação este ano. 

Depois de vista a animação, que dura duas horas e dez minutos, mas que rende cada segundo, não tenho dúvidas de que era o candidato mais forte ao prêmio e o que realmente deveria ter o levado. Inicialmente, como eu já disse aqui no blog, meu candidato favorito era Operação Big Hero. Confesso que também tinha gostado de Os Boxtrolls. Nem tanto gostei de Como Treinar o Seu Dragão 2. Não vi ainda Song of the Sea. À exceção deste último filme, O Conto da Princesa Kaguya é o melhor de todos. Uma animação sensível, ímpar, (adoravelmente) espirituosa e belíssima, como, é claro, um bom trabalho do Studio Ghibli. Com certeza, encerra com chave de ouro as atividades do estúdio, e permanece vivo como uma impecável obra de arte.

O Conto da Princesa Kaguya, embora seja uma obra delicada e extremamente minuciosa, não é capaz de vencer Vidas ao Vento. A (talvez última) grande obra de Miyazaki me trouxe uma magia acalentadora e triunfalmente arrebatadora, com um ar que nenhum filme dele jamais tinha inspirado, nem mesmo A Viagem de Chihiro, animação que eu tanto idolatro, e a mais provável candidata à minha melhor animação. O Conto da Princesa Kaguya, que não é da autoria de Hayao Miyazaki, é um filme encantador, muito bonito e fantástico. Sua admirável beleza me deixa, de fato, sem palavras. 

É um bom filme. Sublime. A autoria é a de Isao Takahata, um dos fundadores do Studio Ghibli, que, já sendo colega de Hayao, não trabalha da mesma forma do que ele. Mas é um gênio incomparável, tanto quanto Hayao é, embora a filmografia de Isao não seja tão extensa quanto a do bom Miyazaki, o que não é um problema, de jeito algum. Tal curta filmografia é um sinal vital de unicidade de Isao, que tem em seu currículo filmes suntuosos como o clássico O Túmulo dos Vagalumes e Meus Vizinhos, Os Yamadas.

O que mais me maravilha nesta primorosa película é a técnica plausível e incomparável. Inacreditável. O Conto da Princesa Kaguya é um filme composto por desenhos, feitos à mão. E eu não digo só desenhados à mão. Coloridos à mão, animados à mão. É até possível notar alguns rabiscos em algumas cenas que até servem para co-agir com a ação de algumas cenas. A genialidade de tal técnica e sua minuciosidade é algo que me encanta ricamente. E é um dos motivos para se ver e não temer pelo preço do ingresso a este filme. É uma obra extremamente linda. Baseada em um dos contos mais tradicionais da cultura japonesa, O Conto do Cortador de Bambu, este longa é uma das animações mais surpreendentes e emocionantes da temporada, talvez apenas perdendo para Divertida Mente, que realmente me deixou apaixonado. 

O Conto da Princesa Kaguya envolve complexamente toda uma mistura de elementos, ficção e adaptação, invenção e método, simbolismos e paradigmas. É realmente um conto por trás de outro conto, atemporalmente contado por Isao, que conduziu este longa com punhos de ferro, aqui fazendo um baita de um filme mangá que supera muitas outras produções de animação que vai e vem entram no circuito, enfatizo: parte atuais, a boa maioria: animações que não valem o preço de seu ingresso. E tem vezes que eu acho que o preço do ingresso é até barato para o filme em exibição, como este aqui. E olha que surpresa: é uma animação! Não só acho isso como também protesto a favor de sua preciosidade e imensa virtude.

Sendo à moda antiga, com traços perfeitamente borrados, grossos e sutilmente versáteis, imitações de uma gráfica bem anciã mas que ao mesmo tempo soa tão inovativa, os filmes desse estúdio sempre são produto do deleite e da sensibilidade. Nunca ouso a me decepcionar com obras tão recheadas de valor e regozijo. E o que dizer mais a partir de O Conto da Princesa Kaguya? O que dizer mais a partir dessa exótica e mística história, que leva o espectador a acompanhar os passos de uma pequena garota que surgiu do broto de um bambu e cuja jornada misteriosa e enigmática a levou a um mundo de riquezas falsas e sentimentos invisíveis, cujo no qual ela se sentiu por tanto tempo tão desconfortável, pressionada e cerrada, oprimida à busca da liberdade, sempre obrigada à sucumbir aos desejos alheios. Sua passagem neste mundo "sujo e infeliz" talvez a tenha ensinado muito, e também a dado muito trabalho. No fim, é sempre com uma súbita e primitiva pré-saudade que recebemos nosso adeus, nosso triste adeus à esse mundo, mesmo que imperfeito, nunca deixa de ser mágico.

O Conto da Princesa Kaguya (Kaguyahime no Monogatari)
dir. Isao Takahata - 

2 comentários:

  1. Oi Lucas Augusto. Adorei sua crítica sobre o filme. Estava navegando procurando críticas sobre ele para ver a recepção do filme aqui no Brasil, já que por ter sido adiado seu lançamento várias vezes, pode ter comprometido o sucesso do filme. Hehe

    Eu tbm fiz uma análise dele em meu blog, se quiser, passe lá depois.

    Um grande abraço!

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    1. Oi, Lucas. Valeu mesmo. Sim, é verdade que ele foi adiado diversas vezes. Isso até mesmo nos E.U.A., contando que ele só foi lançado lá no ano passado, tendo sido indicado ao Oscar na última edição, deste ano. É um trabalho que merecia ter sido lançado a tempo. Mas, estamos no Brasil, e a espera quanto aos lançamentos, ainda mais os de pequena distribuição, tornou-se rotineira rsrs. É com certeza um grande filme. Animação mais que fabulosa e exemplar.

      Pode deixar, quando tiver um tempinho, passo lá no seu blog pra ler o review. E obrigado pela consideração com o meu cantinho rsrs Passe mais aqui!

      Grande abraço, Lucas!

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