quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Crítica: "ANNA KARENINA" (2012) - ★★★★


Embora certos aspectos desfavoreçam Anna Karenina em partes, como a questão da artificialidade, é impossível não ficar deslumbrado com sua rara e desnorteante beleza, que com certeza é seu melhor. Adaptação do homônimo e clássico romance de Leon Tólstoi, o trágico Anna Karenina relata um amor proibido entre duas almas à mercê da liberdade e também da discórdia e escuridão, invisíveis, que se escondem entre eles. A visão multifacetada do amor e do adultério segundo Tólstoi no livro já soava algo demasiadamente sofisticado e luxuoso. Essa magnífica peça da literatura, então traduzida para o cinema por Joe Wright, o talentoso diretor de Orgulho e Preconceito, frequente colaborador de Keira Knightley, vira algo que até agora é difícil de explicar, abismador e belo ao mesmo tempo, delicado e intenso, perigoso e saciável. 

Dono de uma proposta interessante e que, embora diferenciada, é preenchida voluntariamente por um ar teatral cativador e muito pomposo, Anna Karenina é sim uma obra de destaque, não só por isso mas por seu extremo cuidado em tudo. E o mais curioso é que tal cuidado, ora meticuloso, favorece muito tanto o elenco quanto o poderio técnico que esse longa detém. A tragédia chega como um furacão, cria dúvidas e nos faz questionar sobre a duplicidade do amor, e o nosso pensamento sobre amar e ser amado. Trair e ser traído. Há quem diga que este é um dos melhores livros já escritos - eu mesmo não discordo disso - mas que há motivos para a obra receber esta alcunha não posso nem de longe negar. Afinal, é tudo isso que Anna Karenina nos diz: amor. Chega dos romances repetitivos. Esse, à primeira vista, nos introduz um ar mais clicherizado, mas com o passar do tempo vê-se que nem tudo em Anna Karenina é clichê. Leon nos introduz o lado sensato, doce, afável deste amor proibido, e depois o amarga com tons rudes, frios e intensamente melancólicos de um desastre que toma conta da vida de Anna, a personagem-título, vítima desse desejo incontrolável. Por fim, tudo está englobado em Anna Karenina. Não tem como não gostar.

No entanto, o diagnóstico mais equilibrado para Anna Karenina é: "inovadoramente belíssimo pra quem sabe apreciar, estupendo para quem quer ver uma adaptação literária firme e competente, e acalentadora para quem apenas está procurando um filme de amor, como o pôster do longa bem mesmo anuncia: a story of epic love". Claro, nem todos acharão de Anna Karenina tudo isso, mas eu simplesmente adorei os chiques cenários e bem-desenhados, os figurinos bravíssimos da Jacqueline Durran, e a fotografia maravilhosa, que faz toda a diferença para a qualidade visual do filme, uma vez que a impressão de fundo levemente alternativa requer uma fotografia acirradíssima e bem-feita, como esta aqui de Seamus McGarvey, que é desnorteante. 

Mas, para que se preocupar com esse elenco, que só pelos nomes já consegue deixar seu recado por completo? Isso mencionando nossa talentosíssima protagonista, Keira Knightley, cuja atuação é mesmo encantadora como qualquer outra da atriz, e marca mais uma parceria monstruosamente impecável entre Keira e Joe Wright, com quem ela já havia trabalhado antes em Orgulho e Preconceito Desejo e Reparação, com muito sucesso. E eu mesmo espero que venham por aí mais extraordinárias parcerias entre os dois em mais filmes. Um brinde à este trágico e esbanjadoramente bonito Anna Karenina!

Anna Karenina
dir. Joe Wright - 

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