Bom ver essa comédia dramática familiar de tom cinzento sucedendo Pequena Miss Sunshine, outro grande filme indie que aborda o mesmo tema e ainda foi financiado pela Fox Searchlight, que também produz este aqui, sem falar que ambos os filmes foram indicados consecutivamente na mesma categoria do Oscar, Roteiro Original. Embora não seja melhor do que o anterior, A Família Savage, talvez uma versão mais madura, depressiva e Alleiana do longa de sucesso de 2006, é incrivelmente realista e maneja uma abordagem convencional e deliciosa por cima dos casos de família. Ora humor negro, ora drama amargo, A Família Savage é um filme pra lá de encantador, muito embora seja o mesmo do mesmo - e por aí vai.
Se por um lado é repetitivo e desestruturado, devemos ao menos respeitar a qualidade da película favorecendo principalmente seu roteiro equilibradíssimo e inteligente, o elenco inspirado (nele, temos um trio contundente e sensacional formado por Laura Linney, Philip Seymour Hoffman e Philip Bosco) e o clima indie perfeccionista, que não escapa do talento de Tamara Jenkins, nome pouco conhecido, talvez apenas conhecido por esse título, já que ela não trabalha no cinema, e rima prazerosamente com a intensidade da história.
É sobre aquela típica família com o/a patriarca/matriarca adoecendo, ou largado, e os filhos, distantes, demais ocupados com trabalho, suas famílias ou outros afazeres para se preocupar, mesmo que apresentem certo incômodo com a situação. É sobre a nossa família, afinal. Não é muito difícil se identificar com a história dos Savage. Eu mesmo, quando a minha vó ficou doente ainda nesse ano, em junho, e veio a falecer, semanas depois de seu internamento devido a complicações por conta da diabetes, acompanhei o estado dela de longe, já que ela morava no Maranhão, e nisso me comunicando com a minha prima de lá, a única disponível para me informar, e alguns colegas. Mas minha vida prosseguiu, tanto que, no dia da morte dela, eu estava estudando para cinco provas que teria no dia de amanhã. Toda família passa por uma situação semelhante, seja com qualquer membro dela. E não é só uma vez. É como um choque. Cada alarme é um susto. Mas, a vida segue em frente. É um ciclo, não? E o primeiro passo para enfrentá-lo é aceitar.
Isso aconteceu em 2010 com minha vó paterna (bisavó paterna - nunca conheci minha avó paterna, apesar dela estar viva), quando ela quebrou o fêmur e, após a cirurgia, apresentou problemas, foi internada, e durante o leito contraiu pneumonia. Fiquei uma semana sem estudar com a notícia, já que a visitava frequentemente na busca de resultados, e nisso acompanhava minha mãe e meus outros familiares. A Família Savage reconta todos esses episódios. Se neles há humor, se neles há tragédia, sempre são episódios.
Aqui temos Wendy Savage e seu irmão, Jon Savage, que viajam até o Arizona para buscar o pai que apresenta alguns sinais de demência quando passa a se comunicar com um enfermeiro domiciliar através de suas fezes. Com o passar do tempo, as vidas pessoas de Wendy e Jon vão sendo pressionadas quando eles não apresentam nenhum sucesso em seus novos trabalhos, o que faz com que se sintam oprimidos e depressivos. Eles internam o pai, Lenny Savage, num asilo próximo ao trabalho de Jon. Wendy, sentido-se culpada, quer mudar o pai para outro lugar, um melhor que aquele, apenas para dizer que "fez a sua parte", mas o irmão, Jon, já inconformado e sem esperanças, vive debatendo com a irmã, superficialmente insatisfeita com a situação do pai, e intrigada com o namorado, que é casado, enquanto tenta estabelecer uma vida amorosa saudável e evitar preocupar-se com o surgimento da meia-idade, e as precariedades de seu fracasso.
A Família Savage prioriza a natureza loser em seu caráter representativo, e faz dessa interpretação loser sua passagem para a estabilidade dramática. Felizmente, isso ajuda na construção dos personagens e na efetividade de uma narrativa evoluída. É, afinal, a cópia de uma vida debilitada sem muitas opções, restrita à escolhas, mas que necessita dessa decisão e da nossa paciência para a chegada de tempos melhores. Esses somos nós. Ou melhor, eu. Um loser que não quer crer tão cedo que é um loser, mas, quando chega no fundo do poço e revê tudo pelo que já passou até ali e ainda vai passar, assume sua posição e um pouco mais, como tendências depressivas e auto-destrutivas. Essa é a vida, camaradas. A vida loser, recheada com melancolia, desgraça e, na maioria das vezes, esperança.
A Família Savage (The Savages)
dir. Tamara Jenkins - ★★★
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