Para um filme que se afasta um pouco do clássico estilo de Quentin Tarantino, abarrotado de referências e narrativas complexas, À Prova de Morte é uma obra inesquecível. Se há o uso de referências num dos últimos filmes do cineasta é em menor quantidade, uma vez que a boa parte dessas referências, incluindo um personagem, estão destinados à Kill Bill. Uma sequência e outra remete a filmes de velocidade, tanto que é algo escancarado na montagem e na fotografia do filme que lembram mesmo antigos clássicos esquecidos hoje. Para alguns, À Prova de Morte é uma fonte inesgotável de nostalgia. Para outros, é a reinvenção de um gênero e a genialidade de sequências de ação de tirar o fôlego. E ainda para outros o filme é a mera mistura desses dois pontos, como eu acredito. Em todos os sentidos, À Prova de Morte é com certeza uma experiência deliciosa e espetacular.
Muito provavelmente À Prova de Morte poderia muito bem dar em Kill Bill. Pra mim, este filme não chega aos pés das duas outras grandes obras-primas do diretor, mas a forma e a edição da narrativa lembram muito, sem falar nas já mencionadas referências. A ideia é que Tarantino, no fim de economizar dois filmes, fez em À Prova de Morte a junção de duas aventuras de um maníaco das estradas. O filme é divido em duas partes. E em ambas essas partes somos apresentados a um dublê, cujo carro que era antigamente utilizado em filmagens é "à prova de morte". O grande prazer desse excêntrico maníaco podólatra (quem conhece bem Tarantino sabe que o diretor é podólatra - tem fetiche por pés - e isso vira e mexe é referenciado em seus filmes, desde Pulp Fiction até Kill Bill) é observar de perto a vida de jovens garotas da estrada e frequentadoras de bares. Em dois capítulos sangrentos, de finais distintos, e preenchidos com uma adrenalina do cão, Tarantino até foge de seu frequente estilo, mas o filme continua sendo seu, e a maestria continua muito evidente apesar das diferenças, que não são muitas.
O que mais provoca em relação à À Prova de Morte são as
ambíguas versões que cada episódio da antologia apresenta. Se por um lado isso
cria falsas esperanças no público em relação ao segundo episódio, conforta e
mostra uma determinada evolução/mudança de Quentin. O universo machista e
femininista (justamente o propósito dessa segunda parte, já que são as mulheres que vencem - nisso, Tarantino representa o enaltecimento das personagens femininas dentro do cinema em geral, e em especial o gênero ação) estão quites em À
Prova de Morte. E isso não é o melhor. Não estranhem os longos diálogos
femininos apresentados no longa, que são mesmo bem duradouros. Se Quentin ali
evita a ação, reserva tudo para o final, e lhes garanto que trata-se da melhor
parte. Embora eu creio que a melhor sequência de ação seja o final do segundo
episódio, mais longo e mortífero, há quem diga que os deslizes rápidos, mas
eficientes, de ação do primeiro episódio também sejam de tirar o fôlego.
A fotografia temática assumida por Quentin Tarantino oferece um clima mais brusco e variado à imagem. A edição de Sally Menke é de uma proficiência exata e única. Isso pra não falar da trilha sonora que também é maravilhosa. O elenco que não é tão famoso à exceção do sempre brilhante Kurt Russell dá conta do recado, pelo menos o suficiente para acompanhar o clima do estilo de Tarantino, aqui levemente desfigurado mas nunca ausente. À Prova de Morte talvez mesmo seja um de seus filmes mais elétricos. Não no sentido de testemunharmos a todo instante uma ação típica e destruidora dele, mas sim na questão desse clímax perfeito que a trama atinge em tanto pouco tempo. Isso é Tarantino. E, é claro, como eu poderia esquecer do charme irresistível da estética exploitation aqui minuciosamente observada por ele em ambos os episódios?
A fotografia temática assumida por Quentin Tarantino oferece um clima mais brusco e variado à imagem. A edição de Sally Menke é de uma proficiência exata e única. Isso pra não falar da trilha sonora que também é maravilhosa. O elenco que não é tão famoso à exceção do sempre brilhante Kurt Russell dá conta do recado, pelo menos o suficiente para acompanhar o clima do estilo de Tarantino, aqui levemente desfigurado mas nunca ausente. À Prova de Morte talvez mesmo seja um de seus filmes mais elétricos. Não no sentido de testemunharmos a todo instante uma ação típica e destruidora dele, mas sim na questão desse clímax perfeito que a trama atinge em tanto pouco tempo. Isso é Tarantino. E, é claro, como eu poderia esquecer do charme irresistível da estética exploitation aqui minuciosamente observada por ele em ambos os episódios?
À Prova de Morte (Death Proof)
dir. Quentin Tarantino - ★★★★★
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