A tão elogiada performance do Sean Penn e Gus Van Sant me levaram a ver este ótimo Milk - A Voz da Igualdade, filme que encena a trajetória do lendário Harvey Milk, o primeiro homossexual assumido a tomar posse de um cargo político na história dos Estados Unidos. Embora eu tenha gostado do filme demais, acho que o retrato poderia ser ainda mais extenso e vivo do que Van Sant construiu. De qualquer forma, é bom ver uma obra-prima que não foi subestimada e nem perdeu a razão com o tempo. Milk - A Voz da Igualdade é a mais completa e digna restauração cinematográfica, ao lado do documentário The Times of Harvey Milk, da vida de um homem que transformou a vida homossexual na sociedade e revolucionou pra sempre.
A ideia do filme, pelo que eu entendi, é mostrar que a história aconteceu porque tinha que acontecer. E que Milk era uma pessoa comum como qualquer outra, mas seu desejo de mudar, transformar, reformular a vida dos gays na época. É muito semelhante ao nosso desejo, isso independente do objetivo, mas apenas o desejo. Harvey era um homem simples em Nova York, que certo dia conheceu um garoto no metrô, se apaixonou por ele, e os dois foram para São Francisco onde montaram uma loja de fotografia. Ponto. Descontente com o preconceito existente no bairro do Castro, Milk e o namorado viraram ativistas, e mais tarde Milk se candidatou a vereador, com o intuito de quebrar não só o preconceito contra os homossexuais, mas também contra negros, estrangeiros, e outros mais, preconceitos que, mesmo depois de tanta luta, sobreviveram até a atualidade. Mas a ideia é mostrar o quão simples é todo o trajeto de Milk, e como, com astúcia e coragem, nós mesmos podemos transformar o espaço em que vivemos.
E Milk consegue captar tudo isso e mais. O clima dessa transformação, o poder de Harvey Milk, sua vontade, a comunidade do Castro que frequentava os círculos de Milk, e mais tarde vieram a se tornar fiéis colegas seus. Cada um tem um importante papel dentro disso. Se Harvey não tivesse sido brutalmente assassinado por Dan White em 78, pouco tempo após a sua eleição com vereador, ficaria feliz com a recente vitória dos gays em relação ao casamento entre homossexuais, legalizado nos Estados Unidos. E, por outro lado, também revoltado, por que depois de tanto tempo, o mundo continua doente e ainda não aprendeu a aceitar e conviver com as diferenças. É triste, mas é a realidade.
Mas, se formos ver por um lado, Milk até que é um exemplar trabalho visto que a carreira e a vida de Harvey Milk é bem complicada de se retratar. A fórmula de Gus Van Sant para contar a história dele é ótima, e se conectou perfeitamente com a dimensão dela. Isso também com o auxílio do talentoso roteirista Dustin Lance Black, merecidamente vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original em 2009 pelo filme (embora meus preferidos sejam WALL-E e Na Mira do Chefe). O filme foi indicado em várias categorias, e não tiro a razão da Academia, pois trata-se de uma justa e linda escolha. Por mim, o filme do Gus Van Sant, embora não seja seu maior, bem que poderia ter conquistado o Oscar de Melhor Filme, aquele ano ido para Quem Quer Ser um Milionário? Ok que eu gosto muito de O Curioso Caso de Benjamin Button e não pensaria duas vezes caso fosse votar pelo prêmio, mas, dar o Oscar a um filme de Gus Van Sant, um dos cineastas americanos mais versáteis do cinema do país, seria de bom grado.
A construção épica de Milk é demais comovente para ser descrita, em especial a cena do assassinato de Harvey, que me fez pular da cadeira. É uma cena muito triste, mas bonita, ao mesmo tempo. O filme todo é construído por uma aparência sofisticada e com um espírito nobre de liberdade, obra espetacular do falecido Harry Savides. Lembremos também da trilha sonora bem rimada de Danny Elfman. E desse elenco maravilhoso, com o James Franco, (o superestimado) Josh Brolin (que, apesar de estar numa atuação sem sombra de dúvidas importante e de caráter audacioso, já esteve melhor em outros longas, como Onde Os Fracos Não Tem Vez), Allison Pill, Diego Luna, entre outros. Milk - A Voz da Igualdade é excepcional.
Milk - A Voz da Igualdade (Milk)
dir. Gus Van Sant - ★★★★
Nenhum comentário:
Postar um comentário