quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Crítica: "MONIKA E O DESEJO" (1953) - ★★★★


Ando muito cansado ultimamente, sonolento, o tempo não tem ajudado em nada, e eu estou abarrotado de coisas pra fazer, sem falar nos mil e um problemas que sou obrigado a enfrentar de bico calado diariamente. Mesmo assim, não desanimo e nem deixo de ver meus filmes, e a tarefa, por enquanto, continua firme e forte apesar desses desencorajadores afazeres. Como hoje tive pouco tempo livre devido à esses mesmos afazeres, vi Monika e o Desejo, de Ingmar Bergman, que tem noventa minutos e passa tão rápido que é até estranho. Mas trata-se de um de seus trabalhos mais belos e sensíveis. 

Um fato curioso acerca deste longa é que foi o primeiro trabalho cinematográfico de Ingmar a ser lançado nos E.U.A., e fez muito sucesso por lá, ainda que tenha sido um de seus primeiros filmes. Na época, a belíssima Harriet Andersson era namorada do diretor, que era famoso na Suécia apenas pelo teatro àquela altura, mas - como bem sabemos - foi no cinema onde ele ficou reconhecido e marcou a história. A história relata a paixão de dois jovens que estão no limiar de um amor que imita um romance, mas no fundo é bem mais amargo e profundo do que eles poderiam imaginar. O retrato de Ingmar Bergman por cima desta que talvez seja a sua história, de longe, mais sensual, é demais tentador e simplório. O amadorismo presente na iniciante direção dele pode ser bem estranho, pelo menos pra quem já viu filmes maiores do diretor, exemplificando o último Fanny & Alexander ou Gritos e Sussurros. Muito embora isso não seja necessariamente incômodo de um ponto de vista menos exigente.

E, embora não seja um grande filme como à primeira vista promete, o desenvolvimento da trama e o elenco excepcional, com a talentosa liderança da jovem Harriet, dispensa qualquer olhar desaprovado em qualquer aspecto possível. Mas se bem que, para um filme pequeno, Monika e o Desejo não é nada mal. É agradável de se ver, inegavelmente surpreende, e pra não esquecer é bem contado. Não há nada de ruim aqui. Os primeiros traços do obsessivo e genial simbolismo filosófico que viria a se estabilizar na futura filmografia de Bergman já são intensamente visíveis aqui. Uma óbvia influência da época que o diretor trabalhou no teatro também é bastante notável quando o filme ganha esse quê teatral em cenas cenograficamente limitadas e com um extenso controle das performances em questão.

O filme lida muito bem com as questões da sexualidade na juventude e o desejo carnal. Não à toa, em quando chegou nos Estados Unidos provocou uma grande polêmica devido à primitiva, e muito pouca, exibição de nudez em determinadas cenas, o que por um lado causou o maior rebu, e pelo outro virou propaganda do novo cinema que ali na década de 50 nascia, livre de toda a ocultação e censura dos anos anteriores, para o público. Pouco visto, considero Monika e o Desejo, depois dessa rápida sessão, um filme obrigatório principalmente para o fã da carreira de Bergman. Definitivamente é o primeiro filmaço dele, e merece muito tal privilégio.

(lá vem spoiler) E essa fábula da juventude, embora soe romântica e muito fantástica nos primeiros segundos, logo se inverte e adquire um significado bem diferente. Um significado que não se afasta da realidade enfrentada por muitos jovens nos dias de hoje: gravidez precoce, juventude perdida... É tão contemporâneo que gradativamente não acharia nem um pouco estranho um remake do longa nos dias de hoje: é até uma boa ideia. A rebeldia e a pulsação por liberdade que é tanto esboçada pela extrovertida Monika, aprisionada por sua fome incessante de desejo. 

A cópia remasterizada da Versátil Home Video, cujas caras cópias de Oito e Meio e Gritos e Sussurros me proporcionaram prazer e experiências primordiais, deste filme está esgotada em todo o lugar e que ousei a procurá-la. Isso quando estava de férias. O que me restou foi optar pelo download via torrent, que não é tão ruim quanto eu achei que seria, e rendeu o tempo de uma hora que gastei o baixando. A fotografia oferece ao filme um visual tão especial e singular que essa ascendente e característica sensualidade dele logo é fruto de seu visual igualmente provocador, num preto e branco que oscila perfeitamente entre o suave romance e a impactante tragédia. 

Monika e o Desejo (Sommaren med Monika)
dir. Ingmar Bergman - 

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