14 anos. Sim, há catorze anos o mundo todo junto assistia a um dos mais sangrentos, tristes e fatídicos genocídios de todos. E depois desse tempo todo, muita coisa - ainda sim - continua cheirando esquisito e confuso. Por isso, ver Fahrenheit 11 de Setembro, um dos filmes mais falados do Michael Moore (qual dele não é?), aliviou um pouco essa dúvida, e ainda sim nos deixou com muita coisa pra pensar, e é aí que a confusão volta - no bom sentido. Será mesmo tudo uma farsa? Será essa versão de Michael a correta? Não há porque não. Tudo faz sentido. Não tem como negar nada do que ele apresentou aqui. É a mais pura verdade sobre esse evento, e as provas deixam tudo bem esclarecido. Mas a consciência não se livra do pesar da confusão, e depois de visto o documentário ainda continuo um pouco abismado e perdido, assim como esse mundo em que habitamos.
Não é um filme grande, apesar de ser um grande filme. Fahrenheit 11 de Setembro poderia ser muito bem um filme realizado em Movie Maker, por exemplo, e talvez isso explique o por que foi tão rápido prepará-lo. Mas, em compensação, sua importância, essencialmente para a melhor compreensão do evento-título e do governo Bush, na minha opinião, é de uma dimensão absolutamente enorme, quão obrigatória. Coitados aqueles, vítimas da suave ignorância, que creem que as causas do 11 de setembro param justamente na culpa dos terroristas, sem quaisquer envolvimento da própria política americana. E a força do cinema de Michael Moore aliado a uma história chocante e indubitavelmente provável resulta em Fahrenheit 11 de Setembro, o maior filme já realizado até o momento sobre o tema, que desde então veio gerando muito burburinho - e não culpo ninguém por isso.
A narrativa explicitamente cômica de Michael Moore é motivo de gargalhada no cinema. Do começo ao fim, embora o clima trágico, que se sobressai na segunda parte do longa, também nos traga um sentimento muito intenso de dor e pena, rir é a alternativa assinalada por ele, e que está presente em todos os seus documentários. E esse "cinema desconstrutor" dele também não engana não. Muito fácil assemelhar Fahrenheit 11 de Setembro com o anterior, Tiros em Columbine, justamente por ambos abordarem a situação dos Estados Unidos de um ângulo usualmente ignorado, ou melhor falando ocultado. O título deste, Fahrenheit 9/11, em inglês, remete ao polêmico discurso de Michael no Oscar, enquanto ele recebeu o prêmio pelo já citado Tiros em..., no qual ele falou sobre a "nação fictícia" que Bush promovia em seu governo, o qual foi recebido com aplausos e vaias pelo público. O título vem justamente do filme de François Truffaut, Fahrenheit 451, no qual o cenário era um estado totalitário futurista.
E muitas cenas imortalizam esse documentário como um exemplo raro do cinema documental de qualidade. Ele, ao lado de um militar, pedindo para que os políticos em Washington alistarem seus filhos no exército, ou a mãe de um dos soldados, entrevistada por Moore, em Washington debatendo com uma mulher que defende o presidente, e que gera consequentemente uma tensão lascada, e muito abaladora. Ou também o segmento que exibe uma região beira-mar desprotegida em Oregon, com o depoimento da polícia. Ver o quanto a verdade é escondida e a mentira propagada me deixa profundamente entristecido, e realmente é uma amostra autêntica de que a América não é um mar de rosas.
Tá bem que a situação no Brasil não tá nada legal, mas imagine ter no controle um alguém do escalão de Bush? E quem acaba desfavorecido é o americano (os soldados que vão para uma guerra com nenhum objetivo, muitos dele nem voltando à pátria que inicialmente estariam protegendo). Mas que coisa louca, não? Por isso, rende ver Fahrenheit 11 de Setembro. E sorte a nossa, e a do cinema, de ter Michael Moore na liderança. Essa revelação precisa ser vista. É necessária para qualquer um. Porém, infelizmente nem todos vão escutar à Moore. Mas ele já deixou seu recado, e isso é o que importa, acima de tudo, no mundo documental. Uma grande obra é como termino essa crítica e classifico Fahrenheit 9/11.
Fahrenheit 11 de Setembro (Fahrenheit 9/11)
dir. Michael Moore - ★★★★★
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