quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Crítica: "NEBLINA E SOMBRAS" (1991) - ★★★


As únicas coisas, infelizmente, que me impedem de ver o novo filme do Woody Allen, Homem Irracional, é a minha distante localização, que gravemente me limita ao acesso dos cinemas onde o longa é exibido, e o tempo. Mas em breve creio que verei o filme, e estou muito ansioso. E como eu sou um grande fã do cineasta e não consigo parar de acompanhar a sua extensa filmografia passada, vejo - como aquecimento - um dos longas mais emblemáticos do cineasta: Neblina e Sombras, homenagem de Woody ao cinema expressionista alemão e que foi muito debatido em sua estreia, embora pra mim mesmo tal emblema não signifique em si nada. Afinal, como todo bom filme dele, o recado é deixado e não há como não rir diante de situações imprevisivelmente cômicas que surgem neste que é um pseudo-suspense dele, e nem mesmo pode ser considerado um, na minha opinião. 

Por conta dessa questão de ser um pseudo-suspense e enganar facilmente o público com a fotografia (maravilhosa) P&B, Neblina e Sombras causa um pouco de confusão, e mesmo que a mensagem do diretor seja claramente percebida, a nossa dificuldade é identificar esse filme como uma comédia. Numa cidade sem nome, mas que remete à Nova York por alguns cenários em comum, como o Central Park, referenciado em uma das locações, Kleinman, um azarento homem, é incluído em uma organização da vigilância da cidade para capturar um serial killer que faz suas vítimas pela neblina à noite. Após se atrasar para a caçada, o homem se perde e toma vários sustos pensando no assassino enquanto procura o grupo de vigilantes. Enquanto isso, uma engolidora de espada, que trabalha no circo, abandona o namorado artista e traíra e parte em busca de algum lugar para dormir nessa cidade nebulenta (personagem interpretada por Mia Farrow, em uma de suas últimas colaborações com Woody). Suas histórias, e a de vários personagens, se cruzam numa única noite.

E talvez esse também seja um problema que muitas vezes dificulta o nosso entendimento do filme: tudo se passa numa única noite. E embora Woody Allen seja o mestre do roteiro cinematográfico, não é em Neblina e Sombras que vemos esse roteiro tipicamente bem-trabalhado na sua melhor forma, e bem que poderia ser melhor. E com certeza este se trata de um projeto menor do diretor, embora a ambição esteja justamente nessa proposta de homenagear o expressionismo alemão. E se não tem nada de suspense, Neblina e Sombras nos apresenta o bom e velho humor do Woody, melhor do que nunca. Piadas ótimas, inegavelmente trata-se de uma comédia inteligente. Afinal, pode ser uma homenagem ao expressionismo, mas o humor não é excluído, como sempre. Talvez seja bem semelhante a Crimes e Pecados nessa questão do humor, retratos sérios, embora lá o humor e o suspense sejam explorados da mesma forma, igualmente, de forma com a qual houvesse um determinado equilíbrio. E aqui não. Como o filme planeja nos mostrar, é tudo ilusão. Woody, mesmo que comece de uma forma e termine de outra, volta a falar da ilusão em Neblina e Sombras. Esse é o grande tema dele, presente em quase todas as suas grandes obras. 

E se Woody não está tão bem quando deveria tanto na direção quanto no roteiro, cuja trama é envolvente, mas o clima quebradiço não disfarça em nada, o elenco, com ele junto, consegue rebater essa ausência. Mia Farrow, John Malkovich, Jodie Foster, Kathy Bates, John Cusack, Julie Kavner, Lily Tomlin, Phillip Bosco (sem falar nas pequenas participações de William H. Macy e John C. Reilly) e até mesmo Madonna - já ia esquecendo - estrelam esse que possui um dos mais ricos elencos de todos dos filmes de Allen. Caprichado elenco. A fotografia de Carlo Di Palma, embora contribua para essa problemática transição de climas, é bem-feita e espetacularmente bela. Uma fotografia que realmente nos transporta aos velhos tempos dos cinemas de Fritz Lang e F.W. Murnau. 

Neblina e Sombras (Shadows and Fog)
dir. Woody Allen - 

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