Trabalhar com uma história tão intensa, profunda e importante como a história da primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, cheia de altos e baixos, pode ser uma tarefa demais exigente. Muito provável que a inexperiência de Phyllida Lloyd (a mesma de Mamma Mia!) tenha uma grande influência no desastroso fracasso de A Dama de Ferro, que tinha tudo para ser uma grande obra: um roteiro inteligente, Meryl Streep, a trilha sonora de Thomas Newman. Mas falhou. Este que deveria ser um retrato histórico marcante vira um chato e menor drama que só rende mesmo pela incrível performance de Meryl Streep na pele de Thatcher. Se você está interessado em ver a Meryl abusando de sotaques e imortalizando em mais uma atuação desoladora, garanto que muito provavelmente gostará. É claro, se não fosse pelo filme...
A história apresenta a vida de Margaret Thatcher, sua experiência no governo e como ela foi severamente reprimida em seus primeiros anos como Ministra da Educação, sendo muitas vezes rebaixada e subestimada pelos colegas do governo. Também, coitada, sendo a única mulher entre aquele bando de homens, quem não? O velho preconceito machista de sempre. Afinal, a gente acha que quem tá no controle político hoje em dia é a mulher, mas o pior é que, mesmo com Dilma Rousseff e Angela Merkel, a realidade é totalmente contrária. Até hoje, a mulher possui um espaço pequeno dentro dos círculos políticos. Mesmo num mundo tão transformado, século 21, a mulher ainda sim não é valorizada do jeito que deveria. Até isso é protestado por A Dama de Ferro em um determinado momento. Muita gente continua achando que, mesmo sendo superior, a mulher não tem lugar no poder. E num mundo tão diversificadamente globalizado como o nosso, isso é uma baita de uma vergonha.
Adorada e odiada por muitos, Margaret teve de ceder quando não pôde mais resistir à pressão do seu partido, sendo até mesmo substituída na candidatura de um novo líder para ele durante seu mandato. A Dama de Ferro, apesar do clima revolucionário que aspira, mostra um lado que infelizmente é real do papel feminino no poder. Poxa, em tempos de Hillary Clinton candidata à presidência da maior potência do mundo, é bastante trágico. Mas o bom é que isso está perto de mudar. A resistência feminina vem crescendo bastante e, apesar dos frequentes deslizes, a mulher vai aos poucos mostrando do que é capaz e em breve não tenho dúvida de que ela será valorizada da forma que merece. Afinal, no fim das contas, a mulher é bem mais superior ao homem em certos quesitos, e o respeito à ela é primordial e necessário.
Bem, já que A Dama de Ferro me desagradou bastante como filme, vou falar do quanto gostei de Meryl Streep em uma das performances mais eletrizantes e imbatíveis de sua carreira, e candidata à mais importante, em termos de dimensão, apenas perdendo para A Escolha de Sofia. Intepretar Margaret Thatcher é de uma responsabilidade do cão para qualquer fera do cinema. E, se a história de Thatcher fosse passada no Brasil, se tivéssemos uma ícone da política semelhante à ela (e temos, acredito) ela seria interpretada perfeitamente por Fernanda Montenegro. Nem de maquiagem precisaria. Mas, enfim, como estamos bem longe de ter uma ícone totalmente igual à Margaret uma vez que a república foi declarada em 1889, e A Dama de Ferro leva em si aspectos bem distintos do que uma história brasileira teria (primeira-ministra filha de um quitandeiro que também é prefeito da cidade no Brasil?), propriamente dizendo, melhor não fantasiar demais para não criar paranoia. Embora esteja portando quilos de maquiagem na maioria das cenas em que aparece, Meryl em nenhum segundo deixa de ser espetacular, e seu talento é esboçado com força aqui. À exceção do ar de autoridade, nenhum papel jamais feito por Meryl é semelhante a este aqui. Ela deve ter ficado bem animada e atarefada com esta performance. Mas nada é difícil para Meryl. Embora eu particularmente ache que A Dama de Ferro poderia ser bem maior do que o apresentado aqui, ela deixa seu recado e faz de um fracasso a moradia de uma de suas mais icônicas atuações. Isso porque não caiu uma gota de lágrima dos olhos dela o filme inteirinho, e visto de um ponto mais radical isso faz parte da interpretação minimalista de Thatcher, figura autoritária e séria. Por Meryl, vale ver A Dama de Ferro. E no final, ela acabou sendo a melhor escolha para este papel, já que autoridade é um dos traços mais marcantes de sua linha de personagens (O Diabo Veste Prada, Dúvida e o legado dela mesma como atriz, só como exemplo).
A Dama de Ferro (The Iron Lady)
dir. Phyllida Lloyd - ★★
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