É bastante interessante ver que Eli Roth se inspirou no clássico do terror alternativo Violência Gratuita, do Michael Haneke, na criação de Bata Antes de Entrar, seu mais novo longa. É fato que, no quesito qualidade, os dois estão bem distantes, mas a história é tão parecida que, em certas partes, Bata Antes de Entrar soa como um terceiro remake daquele lá. Até a fotografia de Antonio Quercia deixa isso bem claro, com o clima extraordinariamente similar e bem-criado entre estes dois. Mas, é claro. Há muitas diferenças. Lá, temos a competência de Haneke, a construção impecável de um maravilhoso roteiro e um elenco fantástico. Aqui, o controle meia-boca de Eli, um roteiro fraquinho e desapontador, um elenco que é diminuído com o decorrer da história, noventa minutos que parecem duas horas e mais. Bata Antes de Entrar começa bem, mas passa de um horror com muita chance para um deplorável exemplar dessa baixa do gênero num piscar de olhos.
2015, até agora, foi um ano preenchido por pesados erros na categoria do horror, que prometia muito. Sobrenatural: A Origem caprichou em amedrontar, mas pecou no resultado final, deformado e decorado por clichês. Não consegui entender muito Corrente do Mal, e acho que isso danificou minha apreciação, muito pequena. Ainda não tive a oportunidade de conferir A Entidade 2, que parece ter atraído muita gente para as salas de cinema, mas não conseguiu um grande número de simpatizantes. A Forca, que gerou toda aquela confusão nas escolas, daquela infame brincadeira do "Charlie, Charlie, você está aí?" dividiu opiniões. O prêmio de piorzinho parece ter ido parar nas mãos de Poltergeist - O Fenômeno, do qual só ouvi coisas ruins de todo mundo que viu (é sério: não vi ninguém elogiando). A Casa dos Mortos não foi nem bem falado nem falado, e passou rapidinho nos cinemas. Ouija - O Jogo dos Espíritos e A Mulher de Preto 2 deram o que falar, mas também ficaram travados no limbo. Bata Antes de Entrar integra essa gigante lista de desfeitas, muito embora possa ser considerado parcialmente uma exceção. Vale esperar por A Visita, o novo do M. Night Shyamalan, que dividiu a crítica americana, mas recebeu grandes elogios de fontes mais confiáveis, e que estreia mês que vem.
O que é de se estranhar em Bata Antes de Entrar é a escolha de Eli Roth em optar por uma exploração menos violenta de sua trama, algo mais leve, isso porque estamos falando de Eli Roth, o cara que dirigiu O Albergue e sequência, além de Cabana do Inferno, o que não pode ser levado 100% como uma decepção, já que o que Bata Antes de Entrar não tem de sangrento tem de erótico. E nisso o filme marca pontos, fazendo uma mistura bem esquematizada de terror psicológico e erotismo, com poucos filmes recentes apostando em tal feito (dentre estes, destaco Passion, do Brian De Palma, que mais é terror do que erótico).
Numa noite chuvosa, um arquiteto, Evan Webber (interpretado por Keanu Reeves), recebe a visita de duas jovens beldades, Genesis e Bel, que querem usar o computador dele para contatar os amigos, já que elas acham que estão perdidas. Não se passa muito até que as duas jovens deem início à um jogo de sedução que vitimiza o arquiteto, que, sem saída, se vê obrigado a acompanhá-las num desfecho perplexo e ardente, cheio de reviravoltas. Provocado e chantageado pelas jovens, Evan, na ausência da mulher e filhos, é isolado de qualquer tentativa de salvação.
Algumas coisas ficam mal-esclarecidas no filme, e isso causa uma enorme e desconfortável dúvida. Talvez, se Eli tivesse trabalhado mais dentro do roteiro e conseguido um maior financiamento, o resultado de Bata Antes de Entrar poderia ter sido outro. Mas, é o que tem pra hoje. Não é aquele torture porn que foi O Albergue, mas tem a participação do Keanu e duas irresistíveis vilãs (a dedicada esposa e musa de Eli, Lorenza Izzo, e a cubana Ana de Armas).
Bata Antes de Entrar (Knock Knock)
dir. Eli Roth - ★★
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