quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Crítica: "UM OLHAR DO PARAÍSO" (2009) - ★


Há quem estranhe o envolvimento de Peter Jackson nesse pesado, porém fraco, drama, que marca uma das últimas recentes produções de um cineasta competente e que raramente desaponta. Bem, a raridade foi quebrada na realização deste pequeno melodrama que não convence, é total perda de tempo e, de tão sacana, desperdiça um elenco massa, que tem brilho próprio, mas é minimizado pelo desgosto e o fracasso geral dessa bomba. Mistura imprevisivelmente ruim de drama familiar, fantasia e suspense, Um Olhar do Paraíso tinha tudo pra dar certo. Só faltou mesmo qualidade. 

Os momentos iniciais do filme, que retratam o cotidiano da ainda viva Susie Salmon, suas aflições pessoais, e a vida em família, até que dá pra engolir, embora também seja, em determinadas partes pra lá de incômodo. Porém, é justamente depois de uma hora, ou menos que isso, que o filme começa a queimar, os olhos ardem e o cansaço bate. Um Olhar do Paraíso peca quando, depois de um maturo prólogo, vende uma sensibilidade batida e defeituosa que contrariam o que essa abertura justamente propôs, é tanto que eu não entendi muito o que veio sendo mostrado a partir dali, e qual era a real intenção do Peter abordando metáforas espirituais mescladas com um amargo tom de culpa e brutalidade. 

Há muito o que ver em Um Olhar do Paraíso, mas é tudo muito confuso para ser tragado de uma só vez. Tudo vem misturado, como numa avalanche. A hipocrisia do roteiro, tremendamente ruim (para alguém do nível de Peter Jackson, acompanhado da esposa Fran Walsh e Phillipa Boyens) confirma essa falta de precisão, adequamento e sentido dele. Um Olhar do Paraíso, na pior definição do termo, é um drama poser. De tanto explorar vida após a morte, assassinatos diabólicos, delegação filosófica e superação inconsequente, não satisfaz a fome das expectativas, e uma desgraçada desnutrição nos abate, junto da certeza da porcaria que é, após um final desolador que mesmo assim não consegue pagar o estrago - a mesma situação do elenco e de outros elementos, por exemplo técnicos, aqui membrados. 

Digo, ainda que seja um lixo, não deixa de ser escassamente apreciável, na existência de uma bela fotografia do Andrew Lesnie, colaborador de Peter e o responsável pelo brilhante visual épico da trilogia O Senhor dos Anéis, a grande obra-prima do Jackson; uma trilha sonora que funciona perfeitamente no fundo das cenas passadas no paraíso da garota morta, comandada por Brian Eno; um elenco mais uma vez excelente, que re-revela o poder de Saoirse Ronan, famosa por Desejo e Reparação, e ainda sim fabrica, por mais incrível que soe, a melhor performance cinematográfica do Stanley Tucci, na pele do sádico e monstruoso serial killer George Harvey, embora até mesmo nessa sucessiva performance que levou Stanley à várias premiações seu personagem seja muito mal escrito. Ou melhor, adaptado, já que o filme vem do best-seller The Lovely Bones, da Alice Sebold, romance elogiadíssimo, ao contrário do seu desastroso filme. Sem falar no Mark Wahlberg, Rachel Weisz, Susan Sarandon, entre outros que compõem esse rico pessoal. E, mesmo assim, tão bem financiado e com uma equipe fera, Um Olhar do Paraíso mostra mesmo que Peter, mesmo tendo no currículo um drama acentuadíssimo, o glorioso Almas Gêmeas, não deveria ter trocado o universo fabuloso que lhe rendeu O Senhor dos Anéis e O Hobbit, desperdiçando energia num trabalho asqueroso desses, mais um exemplar do mal que acomete os filmes modernos, que, com tanto potencial, desanda por desordem. E que título nacional ferrado, não? Parece nome de livro da Zíbia Gasparetto, cara. Não sei as outras plateias que viram, mas o chamariz dele em favor à abordagem do filme não conseguiu me pegar não. Mas, afinal, é a distribuição no Brasil.

Um Olhar do Paraíso (The Lovely Bones)
dir. Peter Jackson - 

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