Seth MacFarlane, Jennifer Aniston, Sofía Vergara, Adam Sandler, Tracy Morgan... É uma estranha coincidência. Às vezes, determinadas personalidades deixam a má impressão de que elas nunca deveriam ter saído da TV e ingressado no cinema, isso sem querer insinuar que os artistas vindos da televisão não prestam ou não possuem qualidade, na intenção de permear a existência de um frequente preconceito quanto a isso, ou até mesmo maldizer as produções e o valor desse circuito. Não é, de fato, um número tão grande assim quanto eu esteja fazendo parecer. Matthew Weiner, o criador do já lendário seriado de sucesso Mad Men, ganha um passaporte de ida para essa lista negra com uma enorme desvantagem, já que o azar que imperou sobre sua estreia cinematográfica, a comédia dramática Para o Que Der e Vier, contraria os quilos de elogios direcionados a Mad Men.
Se é que podemos rotular Para o Que Der e Vier como uma comédia dramática, propriamente dizendo. O filme nem se trata de uma comédia quanto menos drama. Não há esforço cômico, e é raro entreter-se em cenas onde esse é objetivo alçado pelo diretor. Quando o clima dramático pesa, não tem sentido ou é insuficiente. O filme parece querer discutir o baixo astral loser de seus principais personagens, mas não alcança tal façanha por falta de nexo e realismo. Até seria melhor se fosse uma comédia de humor negro, o que muito tem cara de. Eu disse fosse, pois, mesmo que na intenção de vingar os resultados negativos das experiências com a comédia e o drama o filme aspirar esse paradigma também não mostra qualquer evolução. É bem parado. Caótico. O filme não se resolve, e quando toca nas questões existencialistas e passa a focar em diálogos duradouros e fadigosos sobre a vida, escolhas, consequências, verdades e mentiras, é aí que ferra tudo. O longa mostra-se tão bipolar e hipócrita quanto o Ben.
Ben, um escritor que vive enfurnado num trailer à beira de um rio, é grande amigo de Steve Dallas, viciado em drogas e homem do tempo de um pequeno jornal local. A amizade dos dois não é bem analisada pelo fraco roteiro, além de uma severa duplicidade imposta pelo mesmo, que faz com que o espectador se confunda à respeito dessa relação, ora codificada como desconhecidos, outrora amigos e até irmãos. A real e única ligação coerente entre os dois é a paixão pela maconha (a sequência inicial não deixa esse contexto bem direcionado, e só com o desenrolar da trama é que vemos de perto que tal firmamento é sim de uma natureza tocante). O pai de Ben morre, e neste dia ele invade a emissora onde Steve trabalha numa sequência desesperadoramente sem graça, onde anuncia de um jeito maluco a morte dele, com um imenso pesar.
Depois de chegarem atrasados ao velório, dão de cara com a irmã insensata do maluco, que discorda firmemente do relacionamento que o falecido pai manteve nos últimos cinco anos de sua vida ao lado de uma jovem hippie. É essa irmã, perdedora por escolha, que gasta suas energias tentando converter o destino que lhe foi escrito atacando a todos com seu elétrico ódio (essa personagem é interpretada com destaque pela Amy Poehler, num descomunal papel dramático). É nesse núcleo que temporariamente se sustenta o drama do longa. Mas tudo desmorona quando é assumida uma desvigorosa e imponente prepotência, que faz com que os diálogos, pequeníssimos, sejam enaltecidos erroneamente. Não há clima nem ao menos razão em Para o Que Der e Vier. Ele mesmo se trai, em prol de uma ridícula atenuação. No mínimo, vale reconhecer o desempenho de Zach Galifianakis, extremamente irreconhecível sem barba no ato final, e que equilibra bem seu problemático personagem.
Para o Que Der e Vier (Are You Here)
dir. Matthew Weiner - ★★
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