terça-feira, 20 de outubro de 2015

Crítica: "O HOMEM QUE ELAS AMAVAM DEMAIS" (2014) - ★★


O novo filme do cineasta francês André Téchiné, que tem na filmografia títulos como Rosas Selvagens, Barocco, Rendez-vous e Minha Estação Preferida, estreou ano passado como hors concours no Festival de Cannes, e foi muito bem falado na França inteirinha. Chegou aqui no Brasil só em maio deste ano, e creio que não recebeu a mesma aclamação, já que vi pouca gente falando dele, e outros nem tiveram a oportunidade de ver, já que sua estadia foi de curta duração. A resposta é o próprio filme. Quem sabe os franceses, que acompanharam de perto o caso narrado pelo longa, tenham uma maior familiaridade, ou até mesmo conhecimento, e por isso tiveram uma maior facilidade para compreender e captar o sentido deste, mas eu mesmo não consegui entrar no ritmo acelerado e tedioso da trama, que desenrola num suspense que parece suspense só que termina irresolvido, e causa a maior confusão. 

O Homem Que Elas Amavam Demais reconta a história de Renée Le Roux, dona de um cassino em Nice, e mãe de Agnés, sua filha rebelde que recentemente voltou de uma viagem à África. À seu lado, está o braço direito Maurice Agnelet, fiel escudeiro e que não desgruda dela, sua companhia a todo canto. Até que uma estranha atração por Agnés desperta em Maurice, que é casado e tem um filho, mas possui um grande número de amantes. Não demora para eles iniciarem um caso problemático e conturbado que logo termina numa fatídica tragédia sem vestígios.

É a segunda vez que vejo Catherine Deneuve num filme meia-boca, depois da decepção total 3 Corações, visto faz aproximadamente uma semana, e que me deixou puto. Aqui, certamente não há salvação, mas algumas passagens são tão prazerosas, e André romanceia tudo com uma liberdade poética tão bela, que é impossível não apreciar alguns preciosos segmentos do filme. Isso é, antes do desastroso ato final e seu antecessor. O filme, bem ali naquela parte, desandou. Tem vezes em que é difícil associar a determinada época em que se passa a narração (década de 70) com os cenários, as roupas e tudo mais, durante o filme inteiro, e isso me incomodou pra caramba. O maior sufoco foi essa passagem, que marca um intervalo de vinte anos desde esta época para a atualidade, em que tudo fica à mercê do nosso poder de adivinha.

Embora assuma um caráter dramático rígido, dedilhado, sem distrações e direto, certamente não é o melhor trabalho atual do cinema francês. É inflado, repleto de lugares comuns, com direito a um pesaroso plano que poderia ser melhor desenvolvido. Há várias falhas de comunicação entre o objetivo do trabalho e a nossa projeção dele, o que talvez também explique essa fusão meio transparente que ocorre, e tal desencontro não soa como uma pretensão própria, no sentido de interpretação múltipla. A fotografia, de Julien Hirsch (o mesmo de, de novo, 3 Corações, O Exercício do Poder, Lady Chatterley e Nossa Música, do Godard), tem seus momentos inspirados, mas também é exagerada e superestimada, e não tem nada de interessante (apreciável e/ou novo, digo). O Homem Que Elas Amavam Demais está aquém de ser o grandioso retrato que tanto aspira. É chato, esquecível e troca uma narração apetitosa por um romancinho de quinta e enjoado. Augh. 

O Homem Que Elas Amavam Demais (L'homme qu'on aimait trop)
dir. André Téchiné - ★★

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