quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Crítica: "HOMESICK" (2015) - ★★


Uma dos piores erros de distribuição no Brasil neste ano foi a escolha do horrível título Homesick para o drama norueguês De nærmeste que traduzido ficaria mais ou menos como "O Mais Próximo", ou "O Próximo". Pra falar a verdade, acho que nem o título original foi bem escolhido, e não traria nenhum sentido para o mesmo. É um raro fenômeno em que a grande chance das distribuidoras é de dar um título de qualidade para o filme em questão. Mas o problema é que estamos no Brasil, onde tal chance sem pestanejar é desperdiçada. Porém, o que é mais extraordinário ainda, nesse caso, é quando nem mesmo o filme parece dizer alguma coisa, e descrevê-lo num título pode ser uma tarefa cansativa e, portanto, impossível. Homesick é um filme colossalmente complicado, e não no sentido de ser enigmático, mas sim no sentido de ser uma grande bomba. 

Comecei o filme achando que estava vendo uma comédia à la Frances Ha, tanto pelos aspectos simpáticos das sequências iniciais quanto pela protagonista, que também é uma bailarina como a personagem-título do filme de Noah Baumbach, e que também demonstrou na abertura um carisma contagiante. Quando essa sensação passou, a trama começou a amargar. Pensei num suspense, mas foi bem diferente disso. O filme discute conflitos de família a partir do reencontro de dois meio-irmãos, sendo a bailarina Charlotte (interpretada pela belíssima Ine Marie Wilmann) e o contador Henrik (Simon J. Burger), que iniciam um relacionamento incestuoso após esse encontro, já que ambos os irmãos praticamente não se conheciam, separados pela mãe. A relação culmina numa catástrofe que desorienta ambos os lados. 

A mãe de Charlotte e Henrik esconde um grave segredo que a impede de ver, sob qualquer circunstância, o filho. Há até uma cena onde isso é bem explicitado, quando a mãe, após a morte do pai de Charlotte, visita a casa dela ao lado da melhor amiga da bailarina, que casou-se recentemente. Charlotte comenta a presença do irmão, que está escondido no quarto. A mãe muda de humor rapidamente, e não demora para deixar o apartamento. Quando a filha cita o irmão, ela também tenta mudar de conversa ou a encobre usando uma desculpa esfarrapada. O pior é que esse segredo minimiza o clímax, porque não lhe causa efeitos positivos e nem mostra uma real mudança dentro dele, o que já define sua importância para os fatos sucessores. No entanto, o mais confuso é que os personagens sempre protestam nesse segredo de forma com que ele tivesse significado, mas o que a própria trama apresenta é totalmente o inverso dessa ideia. Não é à toa, creio, que esse mirabolante complexo é descartado. E, pra quem tem memória curta, essa falta não alterará os resultados, já que o filme abusa de uma dramatização estereotipada e absolutamente sem sentido.

O que sustenta a trama é o cativante desfecho da relação entre a Charlotte e o Henrik, que sempre parece mostrar alguma evolução enquanto ilude o espectador para um final sem valor. Quando essa relação vai lentamente se desvencilhando, a magia da narrativa regressa a um estado inóspito e vegetativo. Tudo começa a ficar chato. Foi nessa hora que eu não pude aguentar o anseio e tive de olhar, repetidamente, para o relógio, sabendo da duração de um pouco mais de 93 minutos de Homesick. Um dos grandes méritos de Homesick são as sequências de sexo, todas entre os dois irmãos, muito bem-feitas e vítimas da edição perfeccionista de Christoffer Heie, que, curiosamente, já trabalhou ao lado de Lars Von Trier em Dogville, e no longa de estreia da diretora deste, Anne Sewitsky, que também é autora do roteiro. 

O "the end" parece assumir duas posições que desfavorecem nossa completa confiança no filme, e colocam em xeque sua autoridade, já que, enquanto se rende aos propósitos moralistas que incitam as controversas reações ao caso de incesto, age num conceito que evita um pesaroso julgamento vindo de todos os lados mas que desmente uma possível reaproximação, o que em muito prejudica nosso entendimento acerca do mesmo. É um filme terrivelmente perdido e muito mal-explicado. Deveria ter ido ver Dheepan - O Retorno, ou A Senhora na Van, ambos os filmes (aguardadíssimos) exibidos hoje dentro do calendário da Mostra. Homesick foi exibido em Sundance, ainda este ano, e num festivalzinho. Representa um menor declínio do tão bem falado (atualmente) cinema nórdico. 

[39ª mostra internacional de cinema de SP]
Homesick (De nærmeste)
dir. Anne Sewitsky - 

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