Men at Lunch
dir. Seán Ó Cualáin - ★★
Visto obrigatoriamente faz algumas semanas para a realização de um trabalho conclusivo, uma redação, o documentário Men at Lunch, que sequer chegou ao nosso circuito, dá sono. A história, que retrata a icônica fotografia "Lunch atop a Skyscraper", chega até a ser interessante, mas a narrativa monótona e pobre em detalhes, mas nunca superficiais, não tem gosto. É um filmezinho sem sal. Procura justificar coragem em homens que no mais já estavam no fundo do poço, atravessando o ruidoso período da Grande Depressão, e sem mais medo do que viesse dali, por isso pra eles arriscar a vida diariamente escalando vigas e cordas seria um trabalho mais redentor do que indicador de superação ou coragem. É certo que o que não faltava aos onze trabalhadores da fotografia era bravura, mas as pessoas tem essa mania de achar coisa onde não tem. Quero dizer, não é só porque vemos um homem sentado numa viga a metros e metros do chão que já podemos coroá-lo como herói. Coisa de americano. Acho que uma das únicas partes realmente curiosas do documentário é quando vemos que muitas pessoas se dizem parentes dos trabalhadores, alegando ser avô, bisavô e até mesmo pai algum dos presentes na fotografia. Seguindo essa parte, vem uma discussão sobre o real autor da imagem, posto desconhecido e atestado por uma quantidade de gente igualmente maior do que a de supostos parentes como original fotógrafo. Filme patriota ao meu ver.
Não Olhe Para Trás (Danny Collins)
dir. Dan Fogelman - ★★★★
Uau, uau, uau. Que filme espetacular é esse Não Olhe Para Trás, um dos últimos com o Al Pacino, realmente emocionante. O ator, recentemente indicado ao Globo de Ouro, encarna com força um astro do rock já na ida terceira idade que, através do seu produtor, descobre uma carta escrita por John Lennon na década de 70, quando ele ainda ingressava na música, vetada e vendida pelo produtor de seu primeiro disco, direcionada a ele. Comovido, ele decide voltar atrás e resgatar seu único filho, que ele teve com uma fã, e que agora já construiu uma família e rejeita contato com o cantor.
A comédia dramática de Dan Fogelman não é lá tão perfeita, mas é excelente que só ela. E extremamente simpática. O Bobby Cannavale, que tem uma pinta de durão, encarna com leveza um papel que se contém em momentos de tensão, o que torna-se até bem estranho para alguém do estilo dele, que tem no currículo, a grande parte, papéis bem durões e mal caráter. Mas o cara é definitivamente fera. Vive dando medo, mas é um rapaz de talento e sorte. Ele interpreta o filho do Danny Collins, que sofre de uma leucemia grave, e necessita de auxílio médico. A maioria das sequências de comédia são entre o Al Pacino e a adorável Annette Bening, que aparece pouco, por sinal, como a gerente de um hotel onde o Danny Collins se hospeda após deixar sua mansão nas mãos da jovem noiva.
No elenco, ainda contam a belíssima Melissa Benoist (essa garota é uma joia, sério), o Christopher Plummer (que interpreta o produtor e melhor amigo do Danny) e a meiga Jennifer Garner, esposa do Ben Affleck (e avidamente criticada por ser, sabe quem o porque de tanta polêmica em torno desse comentado casamento). Não Olhe Para Trás é um filme belíssimo, digno e bem-feito. Dan Fogelman, roteirista de algumas grandes produções Hollywoodianas, entre estas destacam-se as animações Carros, Enrolados, Bolt - Supercão e os recentes live-action Amor a Toda Prova e Última Viagem a Vegas, já se revela um diretor promissor e competente, se formos tomar partida com Não Olhe Para Trás. E o Al Pacino... Simplesmente o melhor! Tomara que ele ganhe o Globo de Ouro de Ator em Comédia. Sim, eu sei que o Matt Damon é um dos favoritos sem falar no Steve Carell e no Christian Bale, mas, enfim... Será bonito se o Al ganhar.
A Very Murray Christmas
dir. Sofia Coppola - ★★★★
Tudo o que você precisa saber sobre A Very Murray Christmas é que se trata de uma paródia aos especiais de Natal/fim de ano televisivos dirigido pela Sofia Coppola. A ideia de ser uma paródia já dá uma noção de complexidade, mas uma paródia da Sofia Coppola é quase inimaginável. Bem, nem tanto. Dá pra imaginar uma paródia bem blue, atmosfera constante de melancolia até o último fio. Enfim, A Very Murray Christmas tenta ser depressivo, mas a Sofia parece falhar pela primeira vez justo nessa proposta, porque o filme, pondo na tela famosos artistas do ramo da comédia interpretando canções batidas de Natal, não consegue ser depressivo! É pura diversão.
É certo que o repertório dela é bem blue, com direito a "The Christmas Blues", na abertura, "Let It Snow", "Do You Hear What I Hear", comicamente interpretada pelo Bill e o Chris Rock, "Sleigh Ride" e "Silent Night", com a participação da Miley Cyrus bem perto do final, mas é impossível não se sentir aconchegado ao longa, que é naturalmente leve e despretensioso, e creio que essa minha impressão já vem da minha consideração pela data que ele explora. E, com A Very Murray Christmas, chego à conclusão de que os dois cineastas americanos atuais que mais parecem gostar de trabalhar com o Bill Murray são a Sofia e o Wes Anderson. Além de ter dado ao ator o papel principal no seu melhor filme, Encontros e Desencontros, ela ainda dedica um especial de Natal inteirinho a ele. Isso é que devoção e gosto pelo trabalho. Falando em Wes Anderson, o Jason Schwartzman, que trabalha pra caramba com ele, também tá aqui, fazendo par com a linda Rashida Jones. A Maya Rudolph também aparece aqui, estonteante. E o George Clooney também.
Só não entendi muito quando a diretora deixou vários atores com a real identidade deles e uma porrada de outros como fictícios (Amy Poehler e Michael Cera). Não sei se é pelo grau de fama de quem permaneceu "si mesmo" na montagem, só sei que é bem confuso. Também chego à conclusão de que a Sofia Coppola é baita obcecada com hotéis. Puxa vida. Não sei se é pela experiência, ou pela família (para termos uma noção, enquanto ela era criança, seu pai, o lendário Francis Ford Coppola, dirigia Apocalypse Now!), mas ela tem sim uma quedinha por hotéis. E Bill Murray, aqui extraordinariamente engraçado, como sempre. A Very Murray Christmas é uma produção original Netflix.
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