sábado, 19 de dezembro de 2015

Crítica: "JAUJA" (2014) - ★★★★


2015 vai acabar e eu ainda aqui com uma lista gigantesca de filmes pra ver, em apenas onze dias, corridos, antes de seu fim. Já risco da minha lista um que há tempos estava prometendo a mim mesmo que veria, mas nunca tirava tempo, já que este se trata de um filme que exige bastante do espectador, e em diversos quesitos (algo que vou muito proximamente relatar): Jauja, certamente um dos filmes mais belos, visualmente falando, que vi esse ano. 

Sendo em sua grande maioria filmado na Argentina, o longa, quinta produção do pouco conhecido diretor hermano Lisandro Alonso, consegue ser ambiguamente espetacularmente bonito e detonadoramente enigmático, afinal, este é um filme que mais deixa perguntas do que as responde. Mas o segredo para apreciá-lo está em ver não só o que está na tela. É preciso enxergar o antes, o depois e o durante. É preciso compreender que não há sequência lógica, não há explicação racional para bater seu enigma. Apenas o antes, o depois e o durante. 

Jauja, do mais, pode até ser visto como um filme difícil, pela sua complicada trama e o nosso difícil acesso a uma teoria razoável para a explicar, mas, pra mim, nem de tudo trata-se de um conteúdo tão complicado, já que Jauja usa mais os olhos do que a mente. E, de fato, nós necessitamos mais dos olhos do que da mente em Jauja

O interessante é o que filme demora pra sair da cabeça. É algo mágico. Talvez um feitiço, até. Mexe com o inconsciente. Quem sabe lá no fundo a gente saiba a resposta, mas há um obstáculo nos impedindo de agarrá-la. É como uma porta. Estamos do lado de dentro, e estamos sem chave. Não há como abrir a fechadura, e sem abri-la não há como passar para o lado de fora. Mas a gente sabe como é que é lá fora. Afinal, para entrarmos aqui estávamos lá. Sim, esse pensamento é confuso, mas resume bem como a compreensão está para Jauja

Jauja é narrado em forma de fábula. Começa com uma explicação acerca seu título. Segundo uma antiga lenda, Jauja era um lugar muito semelhante a um paraíso, onde só havia felicidade e os mortais nunca precisariam se preocupar em ter ou criar problemas. Eles não teriam. Partindo desse prólogo, o filme abre com a imagem iconizada pelo poster acima, numa cena de beleza indescritível, onde um capitão norueguês busca conseguir um tratado com um exército local na Argentina, e que cria diversos emblemas consigo mesmo com o desaparecimento da jovem filha, Ingeborg, que desperta desejo nos soldados da região e o enfurece loucamente. Ingeborg, na verdade, foge com um dos soldados do exército, visto sua paixão por ele. Numa busca vagarosa e monótona, seu pai se depara com estranhíssimos pretextos, que reforçam a ideia de misticidade por sobre a fábula surreal.

A lentidão da narrativa, quase inerte, é motor da beleza constante de Jauja, beleza incessante, inimaginável e redondamente peculiar. É algo que disputa com a sua própria complexidade, que no fim de tudo acaba sendo mais um charme do que uma charada a ser resolvida. E imprevisível também. Seria Jauja a representação da Terra, o desenvolvimento dos diversos grupos e nacionalidades, e a evolução da ambição humana? 

Seria um conto que visa explorar a procura do homem por algo que nutra o vazio dentro dele, o eterno instinto de sair em busca de um significado para a nossa jornada, num universo cada vez mais sem sentido e razão? Ou apenas uma história de amor que consegue vencer os limites impostos a tempo e espaço, e até mesmo que esse amor possa custar o sentido da vida? Na sua mista ambiguidade e irrealidade, Jauja desafia o público em uma aventura lúdica, cheia de simbolismos e segundas intenções. O que vale, e rende, é contemplar a sua beleza magnânima e sem igual, que certamente dá vida à toda essa história incompreensível, no bom sentido da coisa, já que ela só tende a evoluir no nosso entendimento com o passar do tempo. Jauja pode ser um cofre cuja senha pertence ao seu proprietário, mas certamente é também uma joia preciosa, raríssima, de valor incalculável. E não vão pensando que me esqueci do Viggo Mortensen. Ator mais que competente esse, não acham?

Jauja
dir. Lisandro Alonso - 

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