sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Crítica: "I SMILE BACK" (2015) - ★★★


A indicação da ótima comediante Sarah Silverman ao Screen Actors Guild Award de Melhor Atriz pegou todos desprevenidos na última quarta quando os nomeados à edição 2016 do prêmio foram anunciados. Em I Smile Back, produção independente que estreou em Sundance e é adaptação de um best-seller homônimo, Sarah Silverman interpreta uma dona de casa que sofre de distúrbios mentais e "vive la vida loca" abusando sem parar de drogas e sexo. Após uma falha tentativa de se afastar desses vícios, numa estadia na rehab, ela tem uma fatal recaída. 

Dentre as cinco atrizes que competem, ela é a que tem menos chances de vencer, mas sua performance é cem por cento merecedora da indicação que recebeu. E ainda que o filme em questão não seja tudo isso, o que vale é a atuação incomparável da Sarah, que mergulha profundo na sua personagem de maneira brusca e avassaladora, misto de fúria, culpa, redenção e depressão. É surpreendente. 

Esse mesmo feito da Sarah é quase que um replay de Cake - Uma Razão Para Viver, que no ano passado levou o nome de Jennifer Aniston a diversas premiações, entre elas o SAG e o Globo de Ouro. Os dois filmes não são tão exemplares quanto à qualidade, mas rendem pelas performances de suas protagonistas, formidáveis. Trata-se até de um ato lisonjeiro da parte delas, provar que não são feitas apenas de humor, risada, mas também são capazes de encarnar personagens dramáticas na mesma altura que uma atriz efetiva de cinema. Ou até pode ser uma forma de chamar a atenção para produções maiores. A própria Aniston afirmou que estava à procura de um papel que "pudesse lhe dar o Oscar" muito recentemente. E poder ela tem. 

Apesar de carregar a performance preciosa da Sarah Silverman sem desanimar nem por um segundo, I Smile Back não consegue atingir a força que tanto parece inspirar, e muito menos consegue sair do retrato superficial da destruída Elaine, fraquejando bastante sobre certos limites impostos dentro da história, numa continuidade cansativa à vibe dramática da trama, que anda, anda, anda, e não chega a lugar algum. Se isso por um lado só traz bocejos, pelo outro consegue focalizar bem na interpretação da Silverman nos segmentos de clímax, o que talvez explica o porque dela ter sido tão bem falada, e consequentemente escolhida para competir no SAG. O filme é ela.

E para ela deve ter sido um trabalho mega arriscado também. Imagine só. Há momentos de pura tensão e choque inesquecíveis, chaves para o caminhar, ainda que lento, do filme. Sequências pesadíssimas, como o final doloroso, a cena de sexo violentíssima que antecede o final, ou quando ela é pega por marido e filhos cheirando cocaína no banheiro da própria casa, e aquele onde ela decide perder o controle do carro no trânsito... Mesmo com tanto conteúdo desse gênero, I Smile Back termina indiferente. Isso falando do modo como ele transcorre. Os conflitos são mínimos.

Mas a Sarah Silverman no drama é impagável. Simplesmente excepcional. Superou minhas expectativas e preceitos a respeito da sua inclusão numa categoria importantíssima para a resolução dessa temporada de premiações. Tiro o chapéu pra ela. Na pele de uma loser que não consegue desgrudar do seu parasita, reação ao abandono da infância e às muitas frenesis de uma vida tumultuada, ela merece ser vista. É um fenômeno raro. E absurdamente estremecedor. 

I Smile Back
dir. Adam Salky - 

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