terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Crítica: "PETER PAN" (2015) - ★★


Apesar da enxurrada de negativismo que acolheu Peter Pan tanto pela crítica quanto pelo público, confesso que estava bastante esperançoso pela produção. Seu diretor, Joe Wright, só entregou títulos bons, sem exceções, lembrando Orgulho e Preconceito, Desejo e Reparação e o recente Anna Karenina, todos os filmes com a estremecedoramente fabulosa Keira Knightley. Dentre os possíveis fracassos dele (ao olhar da crítica), estão os pouco vistos O Solista e Hanna. Houve muita expectativa em torno de Peter Pan. Infelizmente, o resultado não é dos melhores. O filme não é ruim como muitos andam pintando, mas me deixou inquietamente ansioso pelo fim do começo ao término de suas quase duas horas de duração. É um filme que cansa. É claro, se salva por conta de determinados aspectos, mas no geral é decepcionante. 

É claro, a criançada vai adorar de primeira. A versão traz clichês seguros para garantir a diversão do público infanto-juvenil. E quem souber embarcar na brincadeira, e deixar de lado os problemas do filme, não ficará tão desapontado. Eu juro que tentei. Mas não foi dessa vez. Nunca fui muito apegado ao personagem do Peter Pan, mesmo quando criança, e não sei se isso é fator de implicância na minha compatibilidade, quem sabe? 

O que há de novo nesta versão de Peter Pan? Hum. A história começa diferente da que conhecemos, com uma dimensão além da do início original, com o Peter Pan que conhecemos num orfanato, onde foi largado pela mãe, ainda bebê, e hoje tem de aturar os absurdos que sofre nas mãos das impiedosas freiras que comandam o lugar. O Peter do orfanato tem farta curiosidade em saber quem é e quem foi a sua mãe. O plano de fundo desse cenário horrendo é a Segunda Guerra Mundial.

Nem se passam meia hora de filme, creio eu, e já começam a despontar estranhezas. A transição entre a realidade e a fantasia na história, justamente na cena onde Peter e os colegas são "abduzidos" por um místico navio, não funciona bem não. Não tem muito sentido, e não beneficia em nada o andamento do filme. Quero dizer, o filme até ali estava ótimo. Não achei muita graça, de verdade. Destrói o clima e tal. Não foi do jeito que eu pensaria que poderia jamais ser. 

É aí que a gente começa a perceber as segundas intenções do filme. Há algumas interpretações que começam a relacionar diferenças e semelhanças entre a idade infantil e a idade adulta. É a representação de uma certa transição, quando meninos começam a virar homens, começam a redescobrir o mundo em que vivem, a guerra que atravessam, a realidade do mundo cruel em que habitam, e que nem tudo são risadas. A descoberta da maturidade como motor da reflexão. E, mesmo nessa parte, o filme se engana. 

É bastante confuso acompanhar seu andamento, e ir codificando essas interpretações que vão surgindo ao longo da história, mas que não conseguem de nenhuma forma movimentá-la, sobre a guerra, uso de drogas, economia, poder e influência, destruição do meio ambiente; assuntos que não conseguem ser arredondados, concretizados, pelo roteiro demasiadamente inerte, autoria do estreante Jason Fuchs, que não consegue alvejar o equilíbrio certo entre essas interpretações, a nossa identificação, os gostos, a fantasia infantil e a graça do filme. 

As piadas são infladas, não tem graça. Os personagens sofrem com as direções bruscas desse roteiro mediano, sem emoção. Sem ritmo. Joe Wright tenta agregar o infantil no adulto e vice-versa. Ele, em partes, até consegue. Mas falta coisa para transformar Peter Pan num filme bom. Muita coisa. No fim das contas, é uma adaptação pobrezinha. Repete a magia do conto, mas de uma forma muito superficial para ser considerada adequada. 

O grande erro de Peter Pan é a sua fadigosa duração. Caramba, a história poderia ser facilmente contada em uma hora e meia, mas vira um espetáculo de sono e cansaço em duas horas repletas de desinteresse e, em grande parte do tempo, anemia narrativa.

E, que visual, hein? A fotografia, novamente trabalho do Seamus McGarvey, agora em parceria com John Mathieson, não escapa dos ilustres furos da edição computadorizada que a grande parte das sequências de Peter Pan carregam, mas não deixam de fazer do visual deste filme um deleite primordial e incomparavelmente belo. Reproduz bem a magia e a fantasia que a história deste tanto expira. A trilha sonora faz jus ao porte fantástico que o universo de Peter Pan é elevado. Mas, de tudo, é um filme pequeno. Pequeno demais, pelo menos, para ser considerado um trabalho justo e, no máximo, bom. A Rooney Mara, belíssima, aparece pouco, mais pra parte final do filme. Achei bastante impróprio para uma atriz do porte dela. O Hugh Jackman, coadjuvante, tem seus prós, e seus contras. Ele rouba a cena e brilha em mais uma performance digna e talentosíssima. Mas nem ele, com toda sua simpatia e seu talento inacabável, salva Peter Pan da fraqueza. 

Peter Pan (Pan)
dir. Joe Wright - 

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