sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Crítica: "SIMPLESMENTE AMOR" (2003) - ★★★★★


Do variado rol de filmes com temática natalina, Simplesmente Amor figurava, até hoje, entre os que eu mais queria ver desde sempre, por interesse e simpatia, mas nunca tive a coragem de procurar, e nunca dava lá a devida atenção à essa vontade. Visto para celebrar essa que é provavelmente uma das únicas (e na minha opinião a melhor) datas comemorativas que conseguem me fazer esquecer de qualquer problema da vida e ser mais humano e gentil (não sou religioso nem nada disso, mas guardo na cabeça lembranças e impressões tão boas dessa época que quando ela chega é praticamente impossível eu não me animar), o longa é uma daquelas comédias românticas cujo efeito é remédio pra tristeza e indisposição, mesmo pra quem não está encarando alguns desses distúrbios emocionais. Tá bom que o filme, cheio de encantos e surrealidades inconvencionais para o nosso típico cotidiano, é agente da ilusão (um dos propósitos indiretos do cinema, minha gente), mas não há como fechar a cara diante de um trabalho desses, tão alegre, peculiar, imaginativo, que acolhe o público com carinho, romântico... Simplesmente Amor é simplesmente fenomenal.

Estrelando um elenco inglês de tirar o chapéu, o filme de estréia do roteirista Richard Curtis (criador da série Mr. Bean, e roteirista de bem-sucedidas produções cinematográficas como O Diário de Bridget Jones e sequência - No Limite da Razão, Notting Hill, Quatro Casamentos e um Funeral, Cavalo de Guerra e Mr. Bean - O Filme e sequência - As Férias do Mr. Bean, bem como já dirigiu algumas pérolas, incluindo Simplesmente Amor, Os Piratas do Rock e o recente Questão de Tempo) narra diferentes e entrecruzadas jornadas românticas em Londres (e parcialmente lá pro final em Portugal) partindo de um período de cinco semanas anteriores ao Natal. 

Bill Nighy interpreta um cantor de rock decadente que vê numa canção de sucesso sua re-atualizada especialmente para o Natal a chance de subir novamente depois de tantos anos sem novidades para o público. O personagem do Liam Neeson acabou de perder a mulher, e dedica seu tempo a ajudar o pequeno enteado, que está perdidamente apaixonado por uma menina da escola e não sabe o que fazer. 

Colin Firth é um escritor que, afastado da cidade grande, está escrevendo um romance policial, e tem a sua atenção desviada para a sua nova empregada, uma imigrante portuguesa que não sabe falar inglês. A Keira Knightley acabou de se casar, e é pega de surpresa pelo melhor amigo do seu marido, que está apaixonado por ela. A Laura Linney já não consegue mais esconder seu amor por um colega de trabalho, e passa a ter a sua vida amorosa atrapalhada e eclipsada pelos problemas de família. 

Hugh Grant (em mais uma parceria com o Curtis) acabou de se tornar o primeiro-ministro da Inglaterra, mas terá de enfrentar o amor por sua jovem e bela secretária. Sua irmã, Emma Thompson, parece levar a vida perfeita, se não fosse pela suspeita de traição por parte do marido (Alan Rickman). O Martin Freeman protagoniza filmagens quentes ao lado da Joanna Page, e até tenta esconder embaraço e fascínio, mas não consegue despistar o amor. E por aí vai...

Muito embora seja composto dessa trama cheia de conexões e complexas ligações entre seus participantes, Simplesmente Amor baseia-se numa ideia bastante simples, se formos ver de um ponto que visa a maneira como a história é descrita pelo roteiro. Podemos ver que é difícil descobrir detalhes além dos fornecidos do presente. O filme apenas foca no amor, na casualidade, em encontros, e faz dessa montagem seu forte, sem necessitar de julgamentos.

O grande mérito do roteiro do Richard Curtis é a ausência do clichê. Ou melhor, a reinvenção do clichê. Podemos ver que a trama, e as muitas relações entre os personagens, até podem transparecer um pouco charmosas quanto ao clichê, mas não há como autenticar a existência do elemento aqui. Curtis faz de tudo para evitar o clichê. Actually, ele recicla a trama. Filtra. E é brilhante.

Sem falar que se trata de um dos filmes mais "Natal" já feitos, muito provavelmente na história. Afinal, trata-se de uma data onde estampa-se o amor e glorifica-se a paz e a felicidade. Natal é, na verdade, o tempo de esquecer dos problemas e comemorar o que há de bom na vida. Bem como as cenas inicial e final (do aeroporto) do filme projetam, não importa o que esteja acontecendo no mundo, Natal é tempo de comemorar, e viver em constante alegria. Festejar. Reencontrar. Isso no mundo inteiro. Não só na Londres do Richard Curtis. Simplesmente Amor faz jus à fama da época natalina, e dessa data tão potente e relevante. 

Muitas cenas ficam gravadas no nosso imaginário por muito tempo após o fim do filme. É algo até fruto da qualidade do repertório musical, riquíssimo. E de outros segmentos cujo repertório imortaliza. Destaco, rapidamente, as minhas três sequências favoritas em Simplesmente Amor: em primeiro lugar, a cena que duplamente capta tanto a corrida do garotinho Sam em busca do seu amor, que irá partir em instantes (cena que particularmente lembra o icônico final de Manhattan) num avião, e entrecortando essa sequência fragmentos da corrida do personagem Jamie (Colin Firth), recém-chegado em Portugual, alado de uma grande curiosa multidão, rumo à sua grande paixão, sua ex-empregada Aurélia (Lúcia Moniz) - cena essa que é pra mim a mais engraçada do filme inteirinho;

Em segundo lugar, fica a cena onde a Keira Knightley (no papel de Juliet) é recebida pelo personagem Mark (Andrew Lincoln) com uma dedicatória na véspera do Natal, ao som de "Noite Feliz", a cena mais emocionante do filme e também romântica. E, em terceiro e último lugar mas não menos importante a cena da apresentação escolar de Natal, bastante animada e elétrica, onde somos apresentados ao grande amor do Sam.

É isso aí. Simplesmente Amor mexeu bastante comigo. É um filme imperdível quão memorável. Nos faz lembrar que, em momentos difíceis, é preciso ter amor. Ele sempre está lá. Segundo Richard Curtis e Simplesmente Amor, o amor está em todos os lugares. Em maior quantidade nuns e em menor quantidade noutros, mas sempre lá. É disso que o nosso mundo precisa para cicatrizar suas inúmeras feridas. O amor. E esse filme pra lá de otimista (e com razão) consegue não apenas nos maravilhar e deliciar, mas também causar reflexão. Toca. Inspira. E nos faz prezar mais pelo amor.

Só pra não esquecer, além do já mencionado elenco, uma reunião perfeita, é preciso deixar aqui marcadas participações importantes também, como a do Rodrigo Santoro, brasileiro, em uma de suas primeiras "fitas" no estrangeiro, Gregor Fisher, Chiwetel Ejiofor (ainda pouquíssimo conhecido), Martine McCutcheon (a "gorducha"), Kris Marshall, Claudia Schiffer (a belíssima Claudia Schiffer, quero dizer - ironicamente mencionada como ela mesma numa fala pelo personagem do Liam Neeson, e mais tarde a atriz na pele da mãe de um colega do enteado dele), Olivia Olson, Shannon Elizabeth (que aparece bem rápido perto do final). Também tem o Billy Bob Thornton, que interpreta o presidente dos E.U.A., e o Rowan Atkinson (discretamente engraçado). 

Simplesmente Amor (Love Actually)
dir. Richard Curtis - 

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