sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Crítica: "RICKI AND THE FLASH - DE VOLTA PARA CASA" (2015) - ★★★


Tá aí mais uma prova do talento irrepreensível da Meryl Streep, certamente uma das melhores atrizes da história, em mais uma interpretação adorável e brilhante na comédia dramática Ricki and the Flash - De Volta para Casa, novo trabalho de Jonathan Demme, o mesmo que trouxe à vida O Silêncio dos Inocentes e O Casamento de Rachel, e que também recentemente chegou a trabalhar em algumas séries na TV, como Enlightned (puxa, como eu quero ver essa série! O Todd Haynes também dirigiu um episódio lá, e a Laura Dern, que foi indicada ao Emmy, é a principal). Apesar de estar longe de ser o melhor, o comercializado Ricki and the Flash - De Volta para Casa tem muito em comum com O Casamento de Rachel. Ambos são filmes que retratam catástrofes familiares e colapsos de personalidade e realidade de suas protagonistas, mulheres que estão presas em outro tempo, numa outra idade, com um tipo de pensamento diferente, não porque querem, mas por traumas, conflitos psicológicos e abandono, muito embora Ricki and the Flash seja uma coisa e O Casamento de Rachel outra (mil vezes melhor).

A impressão que fica é que Demme tentou refazer o sucesso de O Casamento de Rachel neste, mas não diretamente de uma maneira que possamos dizer que ele tentou plagiar. O cara apenas quis reciclar as ideias neste aqui, sob parâmetros complexamente distintos. Mas o erro não está nessa falha tentativa inocente. Na sua velocidade alternativa - até bem espontânea - Ricki and the Flash se perde. O roteiro, assinado pela vencedora do Oscar por Juno, em 2008, Diablo Cody (que também tem alguns trabalhos na TV, como o seriado United States of Tara) corre demais, e esse ritmo não dá tempo para que determinados assuntos sejam explicados e clareados com calma, o suficiente. Se o objetivo de Cody com esse tecnicismo barato era o de desviar o clichê, podemos dizer que ela obteve o que quis. Mas há algo mais. É uma fórmula, inteligente, de originalizar a história real da vocalista da banda Silk and Steel, que é a sogra da Cody, mas que não consegue encobrir furos.

Muita gente andou reclamando da performance da Meryl Streep como a Ricki. Mas eu, sinceramente, não vejo nenhum erro nesta que talvez seja uma das melhores performances desse ano. Digam o que quiser. Só não me cobrem atestar cabimento à acusações do gênero "puxa-saco da Meryl". Lembrando que a Meryl não tem puxa-sacos. A mulher é talentosa à beça. Ninguém pode negar seu legado. E ela tá imperdível no papel de Ricki Rendazzo/Linda Brummell, vocal da banda "Ricki and the Flash", que se apresenta fixamente num barzinho na Califórnia. Ricki abandonou a família após a separação com o marido.

Agora, é a vez dela lidar com o divórcio da filha Julie (Mamie Gummer, filha da Meryl na vida real, numa atuação plausível, apesar de exagerada quando vai ganhando mais espaço lá pela segunda metade do filme. Ela é recebida com um violento bate-boca quando desembarca na casa, e lá vai re-fisgando a confiança da primogênita, enquanto ainda tem que acertar as contas com os outros dois filhos, um deles à beira do casamento (Joshua), que tenta fazer o de tudo para evitar comunicar a mãe do evento, e o outro gay, Adam, que não facilmente é aceito por Ricki.

Por uma certa ignorância, Ricki é frequentemente rejeitada, e isso perdura até os momentos finais, quando ela, no casamento do próprio filho, faz um discurso (cena que lembra a desastrosa sequência de O Casamento de Rachel onde Kym é alvejada com olhares e rostos desapontados durante um jantar, onde discursa) sobre como se sente culpada e triste por não ter participado da criação dos filhos, e também demonstra alegria pelo promissor casamento de Joshua. No fim do discurso, sem ter ganho o perdão da plateia, ela agradece à Maureen, quem criou os filhos de Ricki no lugar dela depois que se casou com Pete (interpretado por Kevin Kline, par de Meryl no clássico A Escolha de Sofia - impossível não lembrar). Nisso, a platéia começa a aplaudi-la.

E, mesmo quando ela sobe no palco e começa a cantar Bruce Springsteen, "My Love Will Not Let You Down", muita gente nas mesas continua olhando para ela com repreensão e desgosto. A cena mais impactante do filme. Mistura de agitação e tristeza. Embora não tenha a força de O Casamento de Rachel, quem procura pela Meryl em mais um espetáculo de atuação não sairá enraivecido do cinema. Mas aqueles que menos aceitarem o status de "filme de atriz" de Ricki and the Flash sairão maldizendo até os próximos projetos do Jonathan além da própria Meryl, como eu mesmo testemunhei em certas rígidas e desnecessárias resenhas. Afinal, roteiro que é bom termina bem + ou -. A fotografia de Declan Quinn nem de longe está como a colaboração anterior. Não dá pra captar se a ausência da filmagem documental foi proposital, mas fez mal, por que dá a impressão de que ele quis fazê-lo de outro jeito, até mais digitalizado, profissionalizado, e bem menos documental. Jonathan Demme como diretor não dá pra reclamar, mas também não há novidade alguma, notável. Era Meryl ou nada. Aceitar dói menos, folks.

Ricki and the Flash - De Volta para Casa
(Ricki and the Flash)
dir. Jonathan Demme - ★★★

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