E quando a gente pensa que a temporada de premiações não tem como ficar mais amalucada, vem o Globo de Ouro 2016. O prêmio chegou adiantado (é a edição mais adiantada da história de todo o prêmio) e também foi bem agilizado (comento isso depois). Em contrapartida, os resultados não são os dos mais agradáveis. Ainda que difícil, essa edição teve um dos red carpets mais bonitos da sua história, com deusas diviníssimas em passeata no grande e reluzente tapete vermelho, e com o Ricky Gervais a diversão foi garantida, ainda que menos icônica do que em outras datas. Houve surpresas, houve vitórias boas e vitórias nem tão assim. Como um todo, o Globo de Ouro 2016 não é a melhor edição, mas tem lá a sua pequena parcela de encantos.
Numa tentativa absurda em querer ser o Oscar 2015 da vez, o Globo de Ouro 2016 premiou O Regresso, novo trabalho do mexicano Alejandro González Iñárritu, em três categorias, sendo duas dessas premiações desesperadoramente inesperadas. Tá bom que o DiCaprio mais que merecia o prêmio em Drama pelo filme, que certamente lhe dará o tão esperado Oscar, mas foi exagero premiar junto o Iñárritu em Direção e Filme, né? Tá certo que eu ainda nem vi O Regresso; mas, poxa! Que injustiça com os outros indicados. Principalmente Spotlight - Segredos Revelados, favorito nas categorias de Filme Dramático e Roteiro. Outrora, e se bobeasse, Diretor. Saiu sem nada.
Carol, recordista de indicações, saiu de mãos abanando, assim como o aclamado amigo Spotlight e o ainda mais fenomenal Mad Max - Estrada da Fúria. Os três, que tinham muitas chances, acabaram no saco. O lado bom disso tudo é que até agora os prêmios estão bastante confusos, seus indicados não batem e os resultados também não. Se isso pode desapontar no desenvolvimento da corrida, ajuda a criar um suspense para o Oscar, desfazendo previsibilidades, e diferentes filmes de segura qualidade poderão receber atenção e o devido reconhecimento ou não, isso dependendo do andar da corrida e a organização dos vencedores.
Eu lembro que ano passado me diverti bastante com a Tina Fey e a Amy Poehler, bastante cômicas. E não que eu não tenha me divertido à beça com o novo apresentador (de novo), o Ricky Gervais. Ele apareceu muito rápido. Nem deu tempo dele fazer as piadas direito no começo. Foi tão agilizado, sabe? E tudo isso por conta da apressada equipe. Quase nenhuma categoria ficou imune daquela velha "musiquinha de fundo". Nem mesmo nos prêmios principais, onde eles costumam dar um período de tempo maior do que os menores (na cabeça deles). Ejaculação precoce.
Nem deu pro Ricky se despedir no fim, pô! E eu acho que isso deve ter sido até um pouco proposital da parte deles, que disseram ao Ricky que ele podia ter a liberdade de comentar tudo o que ele quisesse no palco, mas aí eles sempre apressavam tudo. E o Ricky também estava lendo quase tudo o que dizia, combinado, quando entrava, segurando uma bebida e todo desajeitado, com aquela voz engraçada dele. Mas eu realmente fiquei espantado com essa rapidez do show. Ele terminou uma hora da manhã. Quando foi a última vez que eu terminei uma premiação às uma? Poxa, hein. E olha que lá o prêmio é exibido de tarde.
E, mesmo com a rapidez, o Ricky teve seus momentos. Ele fez piadas com o Charlie Sheen ("Joy e Descompensada. Não, não são os nomes das prostitutas prediletas do Charlie"), teve tempo pra abraçar e brincar com o Mel Gibson, anos depois daquela "polêmica" da apresentação (a palavra polêmica é muito mal usada nos dias de hoje...), falou das antecessoras, Tina e Amy, mexeu na confusão do Perdido em Marte nomeado em comédia (o filme é uma comédia, gente!), brincou com o Roman Polanski ("Polanski disse que Spotlight é o melhor filme já feito") e o Cosby. Foi ágil, mas deu pra sentir o humor ácido do Ricky. Tomara que ele volte no ano que vem, e que parem com essa palhaçada de agilizar os discursos. Parecia o Oscar 2006, quando a musiquinha de fundo foi autorizada pra tocar durante os discursos, sem ser na intenção de agilizá-los.
Falando no ótimo Perdido em Marte, o filme venceu nas categorias de Filme em Comédia/Musical e Ator pro Matt Damon. O Ridley Scott aceitou o prêmio de Filme, e continuou seu discurso mesmo com a musiquinha de fundo, e ainda deu uma bronca (screw you, okay?, ele disse). Queria que ele tivesse recebido por Direção. Mas dá pra se contentar com essa vitória, já bastante significativa pro filme na corrida.
Das quatro indicações que recebeu, A Grande Aposta saiu de mãos abanando do prêmio. Christian Bale não curtiu isso. Um dos momentos mais legais do prêmio (isso é, se não for o mais legal) foi quando o humilde Sylvester Stallone foi revelado como vencedor por Creed: Nascido para Lutar. O cara deu o melhor discurso da noite, e foi emocionante ver ele ganhando pelo mesmo papel que havia o consagrado pra sempre no lendário filme de 76. E ele foi acompanhado das mulheres da família ao prêmio. Todas belíssimas.
O primeiro prêmio da noite, cinematográfico, foi para Kate Winslet, a surpresa da noite, que derrotou a favorita Jennifer Jason Leigh (Os Oito Odiados). Eu não reclamei da vitória, já que sou fã da Kate e adoro ela de coração, mesmo sem ter visto o nem tão adorado Steve Jobs, que foi recebido duramente pela crítica e pelo público, mas conseguiu sair com os prêmios de atriz coadjuvante e roteiro (mais uma derrota para Spotlight) do Globo de Ouro esta noite. De qualquer forma, isso só aumenta mais e mais minha ansiedade em conferir o longa.
Outro prêmio justíssimo, e momento de felicidade pra mim, foi a vitória de Os Oito Odiados em Trilha Sonora. Eu vibrei insanamente quando olhei para o envelope nas mãos do Jamie Foxx indicando o vencedor (Foxx, num dos momentos mais plausíveis e icônicos do prêmio, satirizou o último concurso de Miss Universo, onde aquele cara diz ter confundido as vencedoras, e anunciou a miss errada - aqui nesse caso, o Jamie revelou Straight Outta Compton como vencedor, que não estava nem indicado; imagine se ele tivesse falado algum dos indicados em vez do real vencedor? Ia ser bem engraçado). O lendário compositor italiano Ennio Morricone não pôde estar presente na cerimônia, e quem aceitou o prêmio por ele foi o Quentin Tarantino, que esteve nomeado em Roteiro mas perdeu para Steve Jobs.
O Tarantino estava alegre que só ele. Afinal, quem não ficaria emocionado no lugar dele, recebendo o prêmio em nome do homem que cresceu acompanhando e idolatrando? O compositor favorito dele, e ele ali, recebendo um prêmio por ele. Pelo seu ídolo. É demais tocante. No rush do momento, o diretor até se confundiu e disse que era um privilégio estar aceitando o primeiro Globo de Ouro do Ennio, quando na verdade este se trata do terceiro prêmio do compositor (Morricone já ganhou anteriormente por A Lenda do Pianista do Mar e A Missão). Ele se confundiu com o Oscar. O Ennio nunca venceu um Oscar. Ganhou um Honorário, mas Oscar Honorário não é um Oscar. É um prêmio falso que a Academia entrega como lembrancinha a quem nunca deu nada. Mas, acontece. Motivo ele tinha pra ficar desconcertado. Chegou até a comparar o italiano com Mozart e Schubert, muito justamente (só pra vocês terem ideia, Ennio Morricone já assinou a trilha de mais de 500 filmes em uma carreira de 50 anos).
Um dos prêmios certos da noite foi o de Melhor Filme Estrangeiro, entregue a O Filho de Saul. Uma pena Que Horas Ela Volta? não ter chegado à lista. Mesmo se não fosse ganhar, já que O Filho de Saul é um concorrente de peso mesmo. Vai passar direto pelo Oscar. Em Canção Original, Sam Smith ganhou o prêmio por "Writing's on the Wall". Não dá pra lamentar a seleção, porque até mesmo eu passei a gostar da canção marretando ela na minha cabeça sem parar depois de ter duvidado um pouco dela, mas foi muito injusto. Brian Wilson ficou sem Globo de Ouro (emoticon triste). Antes fosse o "Simple Song #3", canção maravilhosa, que abocanhasse o Globo de Ouro, e emplacasse pelo menos uma vitória a Youth, que não ganhou porra nenhuma... Mas o bom é que de uns tempos pra cá a categoria não veio acertando os indicados ao Oscar mesmo. There's still hope.
Montei, na minha crise de desgosto e insatisfação, duas teorias para provar a vitória da Jennifer Lawrence: ou os caras do Globo de Ouro gostam de paparicar a Jennifer Lawrence ou ela está realmente triunfal em Joy. Só preciso ver o filme. Ano retrasado, não gostei nem um pouquinho que ela tirou o Globo de Ouro da Lupita Nyong'o. A única vez que ela realmente mereceu o prêmio foi por O Lado Bom da Vida. E o cara por trás dessa maré de sucesso e prêmios dela é o David O. Russell. É o terceiro Golden Globe dela, por um filme do Russell. Então, é bom que ela faça essa vitória valer no cinema, porque eu já não gostei de ver ela derrotando a minha favorita Amy Schumer (Descompensada) e a Melissa McCarthy (A Espiã que Sabia de Menos), que eu também apostava como possível surpresa.
A Brie Larson conquistou o Globo de Ouro dela fácil por O Quarto de Jack. Bastante previsível. Mas eu ainda me questiono: e se a Charlotte estivesse aqui? O Iñárritu é um lucky bastard (risos). Papou três Oscars ano passado e mais dois Globos de Ouro seguidos de uma vitória por roteiro ano passado. Cara sortudo. Agora só falta conferir O Regresso pra ver se ele é tão bom como o Globo de Ouro o panfletou.
Em Animação, venceu o meu predileto Divertida Mente. Isso é, não vi ainda Anomalisa (ando criando altas expectativas acerca a animação). Comentando rápido as categorias televisivas, dos vencedores eu só vi Mad Men. E nada mais. Uma pena o Wagner Moura não ter ganho por Narcos. Tava na torcida. Pelo menos, um latino levou um prêmio de TV pra casa, o Gael García Bernal, ator que gosto muito. Não vi ainda Mozart in the Jungle, mas pode crer que a ansiedade tá lá em cima. Esses vencedores de TV só atarefaram mais ainda a minha watchlist pra 2016.
A vitória da Lady Gaga foi muito inesperada. Foi legal quando ela falou que ser atriz era um antigo plano, e que ela mesma planejava ser atriz antes de ser cantora e tal, mas aquela referência a Cher na vibe de auto-comparação foi muito sem vergonha. Nada contra a Gaga, mas ela mal começou a atuar e já tá se achando a Barbra Streisand do momento? Poxa vida, hein? E ela tava competindo com a Kirsten Dunst ainda por cima. A Kirsten Dunst. Sim, aquela da série Fargo!
Falando em Kirsten Dunst, a bela fez todos babarem no tapete vermelho quando chegou... Deslumbrante e sexy ao cubo. Sem uma ordem específica de preferência, menciono aqui as beldades do red carpet, extremamente divinas, e que tanto fizeram especial esse aquecimento da premiação, um dos mais quentes e bonitos de todos os tempos: Emmy Rossum, Bryce Dallas Howard, Rooney Mara, as filhas do Stallone, Saoirse Ronan, Melissa Benoist, Alicia Vikander, Brie Larson, Cate Blanchett, Viola Davis (simplesmente glamourosa), Rosie Huntington-Whiteley, Maggie Gyllenhaal, Olivia Wilde, Emilia Clarke, Lily James... E, é isso aí. Se vai mais um Globo de Ouro, fellas! Quinta-feira tem indicados ao Oscar, não se esqueçam! Até. Abaixo, os vencedores:
melhor filme - drama O Regresso
melhor filme - comédia ou musical Perdido em Marte
melhor diretor Alejandro González Iñárritu (O Regresso)
melhor ator - drama Leonardo DiCaprio (O Regresso)
melhor atriz - drama Brie Larson (O Quarto de Jack)
melhor ator - comédia ou musical Matt Damon (Perdido em Marte)
melhor atriz - comédia ou musical Jennifer Lawrence (Joy)
melhor atriz coadjuvante Kate Winslet (Steve Jobs)
melhor ator coadjuvante Sylvester Stallone (Creed)
melhor filme de animação Divertida Mente
melhor filme estrangeiro O Filho de Saul (Hungria)
melhor roteiro Steve Jobs
melhor trilha sonora Os Oito Odiados, por Ennio Morricone
melhor canção original "Writing's on the Wall" (007 Contra Spectre)
TV
melhor série - comédia Mozart in the Jungle
melhor série - drama Mr. Robot
melhor série limitada ou filme para TV Wolf Hall
melhor ator em série - comédia ou musical Gael García Bernal (Mozart in the Jungle)
melhor atriz em série - comédia ou musical Rachel Bloom (Crazy Ex-Girlfriend)
melhor ator - série dramática Jon Hamm (Mad Men)
melhor atriz - série dramática Taraji P. Henson (Empire)
melhor atriz - série limitada ou filme para TV Lady Gaga (American Horror Story: Hotel)
melhor ator - série limitada ou filme para TV Oscar Isaac (Show Me a Hero)
melhor atriz coadjuvante - série, série limitada ou filme para TV Maura Tierney (The Affair)
melhor ator coadjuvante - série, série limitada ou filme para TV Christian Slater (Mr. Robot)
Eu gostei de tudo, mas a minha série favorita não ganhou. Game of Thrones merecia. Eu acho que definitivamente ver Games of Thrones é um exercício de paciência. Veja a série pela primeira vez pode ser uma dor de cabeça para a superpopulação de caracteres. Um segundo olhar vai proporcionar uma melhor compreensão do ambiente complicado deste universo. A terceira vez ... é lá onde a magia da TV Game of Thrones e como cada cena, cuidadosamente preparado e executado chega, desperta nossa imaginação. Paciência faz excelência.
ResponderExcluir