Rapaz, 2016 começou bem puxado pra mim. Agora, nem é o cansaço que me abate, como aconteceu no fim do ano passado com a sobrecarga de tarefas que me acometeu, mas sim é a minha agenda desorganizadíssima. Costumo ser bastante energético nas férias, e nem penso muito em descanso com os lançamentos, os prêmios, e afins que atolam esses três meses, dezembro a fevereiro. A questão é que fica difícil para planejar e reunir tudo isso, sem falar nos problemas pessoais que andam me assombrando.
Oito dias se passaram desde o início do ano e eu ainda não fiz nada de bom, o tempo não está a meu favor, entendem? Mas, enfim. Ainda sim, sigo à risca, esforçadamente, para não perder as estreias da comentadíssima temporada de premiações desse ano. No quesito favoritismo, o premiado Spotlight - Segredos Revelados está um passo à frente. E, tenho de confessar que tal preferência, abraçada pela crítica do mundo inteiro e pelos votantes dos principais prêmios dessa awards season, é justíssima.
Oito dias se passaram desde o início do ano e eu ainda não fiz nada de bom, o tempo não está a meu favor, entendem? Mas, enfim. Ainda sim, sigo à risca, esforçadamente, para não perder as estreias da comentadíssima temporada de premiações desse ano. No quesito favoritismo, o premiado Spotlight - Segredos Revelados está um passo à frente. E, tenho de confessar que tal preferência, abraçada pela crítica do mundo inteiro e pelos votantes dos principais prêmios dessa awards season, é justíssima.
Tom McCarthy, cuja carreira é cheia de altos e baixos, tendo eu sido introduzido a ele com o belo O Visitante e me decepcionado à beça com a recente e horrenda comédia estrelada por ninguém mais e ninguém menos que Adam Sandler Trocando os Pés, surpreende com esse trabalho maturo e inteligentíssimo, seu maior filme até a data. O longa começou sua jornada na última edição do Festival de Veneza, onde foi coroado com uma chamativa comparação a Todos os Homens do Presidente e partindo desse elogio (proveniente de uma crítica positiva da revista Variety, que também frisou “soberbamente controlado, fascinante e detalhado.” [...] “uma façanha de encher cabines de cinema.”) veio colecionando uma quantidade enorme de troféus e promessa de Oscar.
São incontáveis os motivos que fazem de Spotlight - Segredos Revelados uma experiência tão inaudita, que veio conquistando a toda gente que a testemunhou. É claro, há semelhanças que remetem a outras produções parecidas, bem como Todos os Homens do Presidente, comparação que de perto não é nem um pouco exagerada como muitos previam na época em que o filme deslanchou em Veneza. Nenhuma dessas comparações, se formos levar em consideração impacto e grandeza, são perfeitamente encaixáveis ao filme como um todo.
E não são muitos os outros exemplares parecidos. Então, não há desculpa. Spotlight é incomparável. O filme domina uma aparência nova, um estilo novo, uma narrativa cujo ritmo e ar é diferente de qualquer outro, e isso é suficiente pra provar a força do Tom como diretor e essencialmente roteirista (ao lado do Josh Singer, que trabalha mais na TV). Nos tempos de hoje, não se vê facilmente autenticidade em qualquer lugar e tão especialmente estampada.
A premissa da trama, lenta no entanto envolvente, manisfesta, já nos primeiros momentos do longa, naturalidade, controle e coragem, indicando segurança e firmeza nos passos que dá. É visível a confiança que o diretor mantém na sua aposta, a de que seu filme funciona tanto como denúncia e, literalmente, clarão (ou, em inglês, "spotlight"), bem como o esforço para dar continuidade ao estilo que o filme cultiva, sem dar liberdade à escapismos: fechado, de pouca ação, focado nos diálogos, no movimento da investigação da equipe, na dedicação dos jornalistas.
A trama não oferece espaço à especificações de qualquer tipo, sendo na montagem dos personagens, na esquematização dos eventos que trilha, permanecendo plana do início ao fim. É tanto que oculta-se informações pessoais acerca os personagens que participam da investigação, estando essas informações apenas restritas ao que é dito no interior do escritório sobre eles e suas vidas em especial, o que acontece com raridade, e do rol de opiniões, pouco esquematizado aqui.
A grande glória em Spotlight é a personificação desse caminhar monótono em conteúdo de interesse. Missão cumprida, assim por se dizer. É empolgante acompanhar de perto, ao longo de 120 minutos, essa rotina abarrotada de afazeres que se instala por sobre os jornalistas e a investigação que eles conduzem. O filme prende a nossa atenção. Não é maçante, nem vazio. E quem já é ligado ao jornalismo, quem trabalha no ofício ou costuma se prender à histórias do gênero, de cunho informativo, não se decepcionará em nada.
É muito bom ver o filme de uma perspectiva mais impessoal. Spotlight é, muitas vezes, uma espécie de homenagem ao profissional que atua dentro do jornalismo, desencobrindo os fatos e expondo a realidade, fazendo o bem. São os heróis esquecidos, cobertos. E, de um olhar profano, é um ataque à religião, e à cultura da religião, mostrando o jornalismo partindo ao meio essa imagem de que se deve sempre enaltecer os membros da Igreja Católica, falando de padres, bispos, membrados das dioceses em geral e por aí vai, e que muitas vezes se faz errado ao compará-los com a representação de Deus, como se sempre devesse segui-los e obedecer às suas demandas, mesmo que esquisitas, um perigo enorme para as crianças, que sempre veem a igreja, a religião, sob um olhar sério, rígido, dotado de unicismo (a cena da primeira visita do Phil Saviano à redação é marcada por ótimos argumentos dentro desse território).
E muito pelo contrário do que se possa pensar, Spotlight não desvirtua a Igreja Católica, não a desfaz ao ponto de minimizá-la, ou a desapoderar, mas expõe a verdade com o objetivo de alertar que a fé, na sua mais pura vértice, tornou-se o instrumento de criminosos, o que faz muito sentido. Pra falar a verdade, é um filme bastante recomendável para religiosos.
Não é o bloquinho de notas versus crucifixo. É o bloquinho de notas preservando esse crucifixo, cultuando o direito humano de ter fé, independente isso sendo ou não a predileção dos jornalistas que investigam o caso. Não há sensacionalismo em Spotlight. O filme é direto, só tem um caminho, uma regra. Não há alusão de caráter opinativo. Não desvia seu rumo. É uma só mão, sem rodeios.
O filme chega a um ponto em que chega a ser agoniante ver como as investigações obtém tão pouco resultado, isso fazendo menção à persistente negação dos advogados, que sempre usam como desculpa a possibilidade deles perderem o cargo (o nome de Eric Macleish é tortuosamente ligado à essa complexidade).
Mas, com paciência e muito trabalho, os profissionais do The Boston Globe vão redigindo a matéria e mantendo pressão na investigação, sem deixá-la de lado nem mesmo nos momentos mais apertados, como é exemplificado quando os jornalistas são quase obrigados pelo editor-chefe do jornal a abandonar a matéria quando as Torres Gêmeas são atacadas pelos terroristas (é justamente dentro desse episódio que vemos o quão dedicado é McCarthy no direcionamento da história e no seu andamento petrificado e direto, que não se dá ao luxo de desviar a atenção do caso nem mesmo por conta desse evento, que só é analisado como barreira à velocidade da investigação).
Spotlight, filme independente, termina sendo mais um filme que conversa com o espectador do que um filme apropriadamente técnico, mesmo que ele não seja nem um pouco fraco nesse aspecto. O elenco dribla a pressão arrastada da trama, com atores já excelentes em performances exímias. Destaque para o Mark Ruffalo, provavelmente o melhor do elenco, numa atuação brilhante. Ele e a Rachel McAdams, que mais conquista pela seriedade da sua personagem, sempre muito concentrada. O Michael Keaton também não está tão ruim não. Enfim, todos estão de parabéns.
Tom McCarthy cumpre com sua palavra e passa o filme todo sob o mesmo espectro e com um clima que nos energiza e excita. O elenco também faz a sua parte, pondo em tela soberania e talento. Spotlight é surpresa e filme de poder, cuja marca registrada é essa levada de material singular e precioso. O filme só tende a melhorar à medida em que a gente vai pensando no que é exibido em tela. Cada cena mais chocante que a outra. Mediante a isso, é bem tenebroso pensar que nem tudo que sabemos é completamente verdadeiro, e que ainda há muito o que descobrir. Como registro, como exploração da verdade e como cinema, Spotlight - Segredos Revelados é mega importante. Uma obra deliciosamente bem construída e genial, primoroso, visionário, magnífico. Grandiosamente inteligente e cativante (sem precisar ser apelativo), protesto certeiro e que prova a força do cinema como motor da verdade e do desmascaramento. Um marco vigoroso!
Spotlight - Segredos Revelados (Spotlight)
dir. Tom McCarthy - ★★★★★
O filme chega a um ponto em que chega a ser agoniante ver como as investigações obtém tão pouco resultado, isso fazendo menção à persistente negação dos advogados, que sempre usam como desculpa a possibilidade deles perderem o cargo (o nome de Eric Macleish é tortuosamente ligado à essa complexidade).
Mas, com paciência e muito trabalho, os profissionais do The Boston Globe vão redigindo a matéria e mantendo pressão na investigação, sem deixá-la de lado nem mesmo nos momentos mais apertados, como é exemplificado quando os jornalistas são quase obrigados pelo editor-chefe do jornal a abandonar a matéria quando as Torres Gêmeas são atacadas pelos terroristas (é justamente dentro desse episódio que vemos o quão dedicado é McCarthy no direcionamento da história e no seu andamento petrificado e direto, que não se dá ao luxo de desviar a atenção do caso nem mesmo por conta desse evento, que só é analisado como barreira à velocidade da investigação).
Spotlight, filme independente, termina sendo mais um filme que conversa com o espectador do que um filme apropriadamente técnico, mesmo que ele não seja nem um pouco fraco nesse aspecto. O elenco dribla a pressão arrastada da trama, com atores já excelentes em performances exímias. Destaque para o Mark Ruffalo, provavelmente o melhor do elenco, numa atuação brilhante. Ele e a Rachel McAdams, que mais conquista pela seriedade da sua personagem, sempre muito concentrada. O Michael Keaton também não está tão ruim não. Enfim, todos estão de parabéns.
Tom McCarthy cumpre com sua palavra e passa o filme todo sob o mesmo espectro e com um clima que nos energiza e excita. O elenco também faz a sua parte, pondo em tela soberania e talento. Spotlight é surpresa e filme de poder, cuja marca registrada é essa levada de material singular e precioso. O filme só tende a melhorar à medida em que a gente vai pensando no que é exibido em tela. Cada cena mais chocante que a outra. Mediante a isso, é bem tenebroso pensar que nem tudo que sabemos é completamente verdadeiro, e que ainda há muito o que descobrir. Como registro, como exploração da verdade e como cinema, Spotlight - Segredos Revelados é mega importante. Uma obra deliciosamente bem construída e genial, primoroso, visionário, magnífico. Grandiosamente inteligente e cativante (sem precisar ser apelativo), protesto certeiro e que prova a força do cinema como motor da verdade e do desmascaramento. Um marco vigoroso!
Spotlight - Segredos Revelados (Spotlight)
dir. Tom McCarthy - ★★★★★
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