segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Crítica: "JOY: O NOME DO SUCESSO" (2015) - ★★★


À exceção de O Vencedor, A Mão do DesejoProcurando Encrenca e Três Reis (filmes que não vi ainda) e de Joy, gosto bastante de todos os outros títulos da filmografia do David O. Russell, até daqueles mais esculhambados, como TrapaçaO Lado Bom da Vida e Huckabees - A Vida é uma Comédia (pra mim o melhor filme dele). E confesso que estava bastante animado pra conferir Joy: O Nome do Sucesso. Mas o longa, mesmo estrelando a bela Jennifer Lawrence e um elenco de dar água na boca, não me pegou. É o primeiro filme do diretor que eu não gosto. É sem graça, de comédia não tem absolutamente nada, desperdiça um elenco fera à toa, e faz um monte de outras deploráveis besteiras. Joy acerta em cheio nos quesitos "me tirar do sério" e "decepcionar". 

Era até de se estranhar, faz uns meses, ver um filme do David O. Russell, um dos nomes mais extremamente superestimados de Hollywood dos últimos tempos (muitas vezes com razão, e noutras não) de fora das apostas ao Oscar, Globo de Outro, e outros prêmios no geral de suma importância à indústria cinematográfica. É verdade que a Jennifer Lawrence não parou de ser paparicada por todos os cantos pela sua atuação, mas ver o filme em si afastado dos prêmios e das apostas foi um tanto quanto esquisito. A partir daqui, nem preciso mais especificar como essa estranheza findou-se visto o resultado asqueroso de Joy. 

O filme segue aquele velho padrão de superação, com personagens vulgarmente parabenizados fortes, auto-intitulados vencedores, e etc., um padrão que, convenhamos, já encheu bastante o saco. E, na cabeça do David, Joy seria o filme que lhe consagraria premiações afora. Afinal, o homem deve ter se cansado de esperar tanto pelos troféus, em especial o Oscar, durante três edições coladinhas, isso em diferentes categorias, sem ele ter ganhado nada, apenas visto os atores de seus filmes levarem o prêmi de mão beijada (Melissa Leo, Christian Bale, Jennifer Lawrence). E, num plano pra abocanhar o Oscar de vez, lá foi ele moldar esse filme-superação batido e desinteressante, que é nota 10 em clichê e sensacionalismos baratos. Mas o filme ficou tão forçado e sem energia que nem pra conquistar a Academia com seus truques infames ele serviu. 

Sobre a Jennifer Lawrence, certamente não é a melhor performance dela. Os membros da HFPA exageraram (e muito!) ao confiar nas mãos de Lawrence a estatueta na categoria de Atriz em Comédia (já falei que Joy não é comédia) ou Musical (muito menos isso). Foi uma das seleções mais imprecisas. E não que a Jennifer não tenha bons momento aqui. Não são muitos, uma ou outra cena de destaque. À parte essas, a interpretação dela é desconcentrada, mas a beleza dela salva a gente da raiva nessas horas. E eu achando que veria o Bradley Cooper ou o Robert DeNiro firme e forte me lasquei legal. Os dois estão ainda mais aquém do que a Lawrence. Acho que a participação que mais agradou foi a da Isabella Rosselini, que nem protagonista do filme é, e consegue brilhar em certos momentos. A princípio, eu nem sabia que era mesmo ela, só estava desconfiando. 

Contudo, em meio a tanta balbúrdia e descaramento, gostei de uma cena do filme. E nem é por conta da Jennifer, mas a cena carrega um espírito tão leve e feel-good que chamou demais a minha atenção, e é a melhor do filme inteirinho. É a cena que a Joy Mangano tá no ar no programa de vendas e não sabe por onde começar, e aí o personagem business man do Bradley Cooper começa a ficar estressado. É quando a melhor amiga da Joy, e que a ajudava quando ela estava precisando vender o popular esfregão mop, sua "magnum opus", em supermercados, liga para ela no programa fingindo ser uma desconhecida, e é aí que ela se encoraja pra explicar o produto (ironicamente às avessas, em comparação ao mesmo caso da cena do supermercado, anterior, quando a Joy e a filha fingiram sair do local e deram espaço à essa amiga, quando então a Joy voltou e fingiu ser outra mulher, começando a identificar as qualidades no produto e chamando a atenção do pessoal que passava - bom truque). Amigo vem pra salvar a gente na hora do sufoco. Ótimo exemplo de como a amizade é uma coisa gostosa e pode nos livrar do fracasso, da solidão e dos apertos mundanos.

Quem ainda não deu uma paradinha pra conferir a sinopse do filme, é sobre a Joy Mangano, uma inventora e administradora financeira que, desde criança, costumava inventar acessórios e idealizar práticas engenhocas. Após o sofrido divórcio dos pais, ela decidiu ajudar o patriarca, interpretado pelo DeNiro, no negócio local da família. Nisso, a Joy não teve tempo para cursar uma universidade, o que implicou na sua situação e limitou seu acesso a profissões. E, mesmo após ter completamente falido, a Mangano não desistiu e deu a volta por cima, deu sua cara a tapa e fez fortuna com suas práticas invenções domésticas. Dá uma dó da personagem da mãe da Joy (curiosamente interpretada pela Virginia Madsen!), que passa o tempo inteirinho numa cama, afastada do mundo, contando apenas com as produções novelísticas e grude da TV como passatempo. 

O trio Jennifer, Bradley e Robert, pela terceira vez consecutiva unidos numa parceria com o Russell, atravessa em Joy o menor momento da carreira deles ao lado do David, comparado aos três filmes anteriores. O retrato contorcido e superficial da história real de Joy (sim, o nome da mulher é realmente Alegria, por mais incrível que pareça) Mangano não apresenta profundidade nem sentido certo, e por isso tende a deixar o espectador cansado nas muitas empreitadas da narrativa, coroada por imperfeições. No fim, O Nome do Sucesso não deixa de ter seus encantos, bem como a representação bem fantasiada do crescimento econômico e do poder cada vez maior da mulher dentro da megalomania capitalista, aqui a Joy, que vive tomando conta da casa e dos problemas de sua família, botando ordem e criando dois filhos, sustentando o marido, aconselhando e sendo aconselhada, além das suas muitas tarefas financeiras e comerciais, a maior parte do tempo realizadas autonomamente por ela, quando não na companhia da sua fiel melhor amiga.

Mas, enfim, Joy está longe de ser um filme satisfatório, mas até que chega a ser meramente suportável, em certos quesitos.

Joy: O Nome do Sucesso (Joy)
dir. David O. Russell - 

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