quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Crítica: "STAR WARS: O DESPERTAR DA FORÇA" (2015) - ★★★★


Nunca fui lá um fã de Star Wars. Quero dizer, sempre fui muito chegado à saga (os filmes, os personagens, a cultura, etc...), mas não sou devoto a ela. E isso certamente não é desculpa para eu ter visto o filme atrasado. Pra falar a verdade, estava ansioso pra caramba, é tanto que eu não queria fechar minha lista de melhores do ano de 2015 sem vê-lo, e até estava planejando ir no dia 31, mas a missão teve de ser abortada por outros motivos. De jeito maneira. E desta vez a culpa não é da minha localização infame. É que de uns dias pra cá vim acumulando problemas pessoais que só me fizeram perder meu tempo e ter dor de cabeça. Coisas minhas. Felizmente, tive a chance de ver o filme hoje à tarde, e confesso que simplesmente adorei. Até estava mais calmo e relaxado do que o comum, apesar da ansiedade. 

Assim que o frame da icônica frase "Há muito tempo, numa galáxia muito, muito distante" deu passagem à sequência com a introdução textual, momento em que a trilha sonora, composição de John Williams, ressoou estrondosamente, todos na sala, armada com um equipamento de som tenebroso, se assustaram. E não era pra menos. Confesso aqui que, ao som do clássico tema da série, meus olhos se encheram de lágrimas, mesmo eu não sendo fanático por Star Wars

É verdade que fico emocionado à toa com essas coisas, mas o momento foi de uma profundeza tão desnorteante que a emoção foi inevitável, especial e inexplicável, ainda mais comigo, sujeito emotivo elevado à sétima potência, que vivo chorando por qualquer e outra coisa. Mas ver ali, o sétimo episódio de uma saga lendária, revolucionária, que eu tanto aguardava, teve de ser assim significante, assinado com lágrimas de felicidade. E nem precisa ser desse jeito. 

Vivo me emocionando assim dentro do cinema. Acho que deve ser bem o clima do momento, ou até mesmo a sala que frequento aqui pertinho de casa, e que só exibe as superproduções e sucessos de animação, o Cine Itaim Paulista. Sempre que visito tenho boas memórias de sessões passadas, mesmo o cinema estando aquém de ser um cinco estrelas. 

Enfim, a duração do filme pode ser pesarosa pra quem não estiver informado (lá pro final, minha prima Ana não parava de me chamar e me perguntar se a sessão já estava findando, e eu, temendo perder alguma coisa, não perdi tempo religando o celular pra saciar a curiosidade dela, até porque meu celular é um bicho de sete cabeças, e com aquela demora pra ligar, as coisas só ficam mais complicadas). São 135 minutos. Eu não fico muito encucado com isso (sou um cara bem concentrado no cinema, tenho mais dificuldade é pra me concentrar em casa, com minha impaciência frenética à par dos meus mil e um afazeres), mas tem pessoa que vê defeito nisso. 

Eu estava é preocupado com a saúde dos meus tímpanos depois do filme. Acho que, até hoje, foi um dos filmes mais dilaceradamente ruidosos que eu já vi na vida. E isso, logicamente, não foi problema. Só me deixava mais altivo. Dava até pra ouvir uma ou outra pessoa atrás de mim cochichar palavrão e espanto em cenas mais explosivas e sonoras. Uma hora uma delas até chutou a traseira da minha poltrona (risos). 

Neste sétimo (e aguardadíssimo) episódio, que dá partida na 3ª trilogia da saga, Luke está desaparecido, e cabe a um membro da Resistência, um grupo rebelde, Poe Dameron, codificar um droid que armazena na memória um importante mapa (o cômico robozinho BB-8, que tem a mesma função que tinha o R2-D2 no primeiro filme). Após falhar e ser capturado pelos stormtroopers, Poe conta com a ajuda de um soldado que não quer fazer parte do lado mal e deseja abandonar a vida que leva, Finn. Juntos, eles conseguem fugir, mas primeiro tem de resgatar o droid, que ficou pra trás quando Poe foi capturado. 

Enquanto isso, no deserto planeta Jakku, uma jovem catadora de lixo, Rey, procura a família de quem foi separada ainda quando criança, na esperança de reencontrar os entes queridos, e tem como visita inesperada o fofo BB-8, que descobre no meio do deserto à procura de lata velha. Não demora muito para que Rey e Finn, recém-chegado no planeta, se encontrem. E a força, lentamente, começa a despertar dentro da Rey, também pilota e mestra portando o sabre de luz.

A quantidade de gente varrida para os cinemas desde a estreia de O Despertar da Força é assustadora. Hoje, foi divulgado que o filme é o maior sucesso comercial nos E.U.A. de todos os tempos, estando à frente de Avatar, contando que o filme está na posição #4 no ranking de maiores bilheterias de todos os tempos, e nem estreou em certos países, como a China. O filme também levou mais de um milhão aos cinemas aqui no Brasil. E não é de estranhar tamanho sucesso, tanto nas bilheterias quanto na crítica. O filme mais esperado de 2015 não por coincidência foi também o mais divulgado. E, com razão, recebeu muitos elogios.

Além da fama entre o chamado público geek, muito principalmente não só pelos filmes, mas também pelos jogos, quadrinhos, livros, programas de TV e variados, os fãs, os atraídos pela divulgação, os atraídos pelo sucesso de bilheteria e os atraídos pelo elenco fenomenal, O Despertar da Força é dono de uma qualidade invejável a muitas superproduções recentes do seu ramo. Embora existam exemplos seguros dessa relação, poucos foram tão completos, recentemente, em combinar tão bem qualidade e lucro. 

Apesar dos clichês (que apenas reforçam charme) e da inspiração notória na primeira trilogia, O Despertar da Força em si é um trabalho muito original, e marca um passo adiante dentro da saga, principalmente pela evolução técnica e a repaginada visual e rítmica. Porém, a continuidade da versão original, em divergências pouco distantes, vem reunindo diversas controvérsias, que pesam benefícios e malefícios. 

Enquanto na balança dos malefícios somam a repetição e a ausência de criatividade na questão da franquia não andar pra frente, apenas se alimentando de restos e sem pressão suficiente, na balança dos benefícios, por sua vez, estão o mérito em reverenciar com bravura e em sinal de enaltecimento a fonte original, a manipulação de referências, o equilíbrio entre as exigências do gênero na atualidade, bem como o bom uso dos efeitos visuais e dos artifícios técnicos requeridos e o iconismo primordial da saga.

Depois de conferido o longa, fica a certeza do promissor talento de J.J. Abrams, que vai lentamente se revelando um cara de confiança a cada título que dirige. O rapaz soube conduzir bem o filme e seu nome é promessa de qualidade daqui pra frente. Ele merece ser observado de perto agora mais depois de O Despertar da Força

Além da direção, o Abrams também tá no roteiro, ao lado do Lawrence Kasdan e do Michael Arndt, dois roteiristas de peso que já passaram pelo Oscar. O roteiro consegue calibrar a emoção em assistir a aventura e, na totalização da sua ação ininterrupta, se dá ao luxo de permitir riscos a favor de certos escapes (não furos!). E ainda por cima acerta. A história reproduz a magia das produções primárias com diversão garantida na mala e satisfação certeira por parte dos fãs. Não dá pra falar mal. O blockbuster certamente poderia ser melhor em certos aspectos, bem como já analisei em certas complicações ao longo da produção. 

A trama imita bem as relações de poder nos tempos atuais sem deixar rastros de ser uma imitação forçada, bem como as lutas entre as classes, ainda que esse retrato fique em segundo plano diante do sense de ação e aventura planificados pelo roteiro. A luta entre o bem e o mal (aqui a Resistência e a Primeira Ordem respectivamente) e suas consequências pode simbolizar causa e efeito dentro dos muitos combates que temos de enfrentar ao longo da nossa jornada pessoal. 

E, mesmo que isso não esteja entre as pretensões da equipe do roteiro que desenvolveu a trama, é legal idealizar desse jeito como a briga entre o bem e o mal pode em muito apontar para situações de emergência em que temos de lutar pelos nossos direitos, seja isso de uma forma mais amplificada, como protesto aos abusos da política, ou de uma forma minimalizada, como riscar da lista tarefas irresolvidas. 

E, enfim, é isso aí. Eu gostei bastante de O Despertar da Força. Mais do que eu esperava, pelo menos. Por sorte, consegui fugir dos spoilers, e o filme, longe dessas inconvenientes delações, é bem mais prazeroso, como não pode ser pra muita gente (um amigo meu disse que sem querer leu um spoiler e ficou mega furioso). Me diverti bastante, me emocionei, ri, fiquei boquiaberto (uma das cenas-chave, a do encontro entre o Han Solo e o filho, sucessor do Darth Vader, perto do final - calminha, não vou dar spoiler! - é de cortar o coração). Antes de terminar meu review, gostaria de lembrar o elenco fenomenal. 

No volante, a belíssima Daisy Ridley, britânica, e já apelidada de "musa dos nerds", na pele da protagonista Rey, mais uma vez abraçando o crescimento presencial de personagens femininas em papéis protagonistas, antes oferecidos a homens, como muito foi lembrado por aí; o Harrison Ford, engraçado como nunca fazendo par com o Chewbacca, o Adam Driver, a Lupita Nyong'o (ninguém vê o rosto dela, na verdade - ela faz uma capitã stormtrooper), o John Boyega (Finn), o Oscar Isaac, o Domnhall Gleeson (jovem promissor esse, hein?) e muitos outros, todos ótimos. Só mais uma coisa: fui só eu ou o resto do mundo também não conseguiu achar o Daniel Craig no filme? Em 2017 tem mais. E que a força esteja com vocês, folks!

Star Wars: O Despertar da Força (Star Wars: The Force Awakens)
dir. J.J. Abrams - 

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