sábado, 16 de janeiro de 2016

Crítica: "A GRANDE APOSTA" (2015) - ★★★★


Eu simplesmente adoro essa faixa de tempo entre janeiro e fevereiro, de todos os anos. Assistir e acompanhar o percurso dos indicados ao Oscar nas outras premiações e na própria corrida é muito divertido. Fazer palpites, observar a opinião alheia sobre os concorrentes, as incertezas, a torcida, os filmes bons (e suas surpresas) e os filmes ruins (e também suas surpresas). É uma época tão inspiradora, digamos. Apesar das minhas férias estarem quase próximas do fim (faltam aproximadamente 12 dias para eu voltar à ativa), não me desanimo diante da rapidez do período, até porque dentro dele costumo oscilar e ficar impaciente, e em certas vezes sendo capaz até mesmo de apoiar essa agilidade. E, como dizem por aí, o ano só começa depois do Carnaval. Pelo menos o primeiro bimestre lá na escola é bem lento e só vai se intensificando lá pro fim de março, com a chegada das avaliações mensais, o fechamento das notas e toda a bagunça que vem junto com isso. E vou mudar as coisas um pouco em 2016. Não falo materialmente ou em desempenho (que vem como coadjuvantes) mas sim do cotidiano em si e também da minha situação financeira. Vou tentar economizar o máximo que eu puder nesse ano só pra pagar algumas necessidades básicas e nada além do que isso. Primeiro se começa de baixo e depois vamos subindo. Mas eu necessito urgentemente mudar um pouco meu cotidiano. Caso contrário, terei um ataque de nervos. E, quando eu falo isso, pode soar como brincadeira, mas eu digo sério. Tentarei evitar o estresse (não posso garantir, mas darei o meu melhor; risos).

Mas, enfim, antes que esse post termine como um artigo do Luiz Carlos Merten, ou como uma cartilha de promessas de fim de ano, vamos trabalhar um pouquinho na análise de A Grande Aposta. Grande filme, hein? Tem poucas chances no Oscar (o Christian Bale veio sendo bastante cotado em Coadjuvante, e o filme pode ganhar em Roteiro Adaptado), e se vencer em Melhor Filme (potencial o longa tem, e bem poderia ser um favorito na categoria, embora não seja lá uma obra-prima, caso não fossem seus fortes e maiores concorrentes). Se não fosse pelos prêmios anteriores ao Oscar (como o Globo de Ouro e o SAG), ficaria difícil mentalizar A Grande Aposta nomeado em várias categorias importantíssimas do prêmio, como Filme, Direção, Atuação e Roteiro. E o filme certamente mereceu cada indicação que recebeu. Dos seis vistos de oito indicados a Melhor Filme, A Grande Aposta é um destaque gigante. Não pode ser esquecido, muito menos numa corrida tão incerta e bem organizada, falando da quantidade de filmaços, como a do Oscar 2016.

O longa demorou dois anos pra sair do papel (George Clooney e Matt Damon chegaram a ser cotados para o projeto). No início de 2014, a Paramount, que havia adquirido os direitos de adaptação do best-seller The Big Short: Inside The Doomsday Machine no ano anterior, convocou o então roteirista Adam McKay para trabalhar no roteiro ao lado de Charles Randolph. Não muito depois, Adam também foi oficializado como diretor do longa. Apesar disso, as filmagens só se iniciaram no fim do ano, e só veio a ser descoberta em janeiro do ano passado, com o elenco à vista no set de filmagens. 

O que dificulta um pouco a nossa compreensão é o uso frequente da complicada linguagem do universo financeiro e exemplos vãos. Em vez de descomplicar a nossa ideia do mundo dos negócios, o filme só vai reforçando essa hipótese enquanto tenta, supostamente (é logico), descomplicá-la. É uma proposta curiosa e decepcionante (tanto no bom e no mau sentido dessa definição, mas de um jeito que agrada, mesmo em seu lado mau) e que deixa a gente interessado no filme do começo ao fim, mesmo sem entender bulhufas do que é mostrado.

A confusão em torno dessa complexa desconstrução é o que faz do filme algo válido, realmente palatável. O filme nos convida a perceber que o mais importante no mundo financeiro não é entender, mas observar a sua complexidade (isso está na fala do personagem do Gosling bem no início do filme). Nas suas muitas tentativas (propositalmente confusas) de definir e traduzir termos, situações, transições, códigos e tudo que segue isso dentro do universo financeiro, as sequências mais atrativas são as quais o filme põe em tela famosos filosofando sobre essa linguagem, no "intuito" de trazê-las para perto de nós (mesmo?). A sexy Margot Robbie, coberta por espumas dentro de uma banheira (infelizmente sem nenhuma parte à mostra), tenta explicar o que são tranches e outros termos (uma isca perfeita para a nossa atenção, se é que vocês me entendem...). O "now, fuck off!" dela me deprimiu um pouco (risos). O chef de cozinha Anthony Bourdain (uma espécie de Palmirinha nos E.U.A.) tenta explicar o que é uma dívida de não sei das quantas metaforizando a entrega de peixes no seu restaurante. E, por fim, a Selena Gomez e o economista Richard Thaler elaboram uma metáfora sem pé nem cabeça durante um jogo de pôquer. Dá pra entender tudo, não acha?

Basicamente, A Grande Aposta é sobre um cara que trabalha no mercado de ações e, pra gerar lucro, põe em prática a sua ideia fascinante de apostar na queda do mercado imobiliário americano pra conceber dinheiro no seu negócio. Enquanto isso, um banqueiro também percebe essa possibilidade e logo propõe a seus clientes a tal aposta. Ele acaba por contatar Mark Baum, um altivo e verborrágico corretor que lidera uma central, e que sofre calado pela misteriosa morte do irmão, quem ele tanto idolatrava. Em paralelo, dois iniciantes no mundo financeiro buscam ajuda profissional para bancar essa aposta. O que esses homens todos tem em comum?

Além da aposta em comum, todos eles praticamente previram a queda mundial da economia e viram nessa queda uma chance única para o erguimento de suas empresas, enquanto o mundo estava prestes a desabar. Ganância? Certamente. Mas o essencial a se saber, primeiro de julgar, é que o filme não pinta seus personagens como vilões (e eles realmente não são, pra falar a mais sincera verdade). Eles só querem ser reconhecidos, dignos de importância, como qualquer outro ser humano na face da Terra. É a porta pro sucesso e a ascensão financeira. Não levem isso a mal. Cá entre nós, eles foram bem espertos.

Ainda que o filme esteja sendo vendido como drama, trata-se de uma comédia bem leve e suntuosa. O que deixa esse clima de drama no ar é justamente o núcleo do personagem Mark Baum, interpretado por Steve Carell, que perdeu o irmão pra frenesi do mundo financeiro. Procurando fazer coisas boas e salvar o mundo financeiro, ele acaba se tornando uma pessoa sem esperança, nervosa, instável e infeliz (se bem que ele é feliz sendo infeliz, vai saber). Cômico e irônico.

A presença da Margot Robbie e outros simbolismos frequentemente remetem a O Lobo de Wall Street, que também debatia no território do feroz capitalismo os muitos complexos de Wall Street e da economia, ainda que este se aventurasse muito mais no retrato de um poderoso erguido pela ambição em busca de uma vida boa e sem encheção de saco do que nos próprios problemas da Bolsa em si, que funcionam como propulsão secundária à trama. Ele só não contava com o final infeliz que teve.

Enfim, A Grande Aposta é um filme que resume-se a coragem, pela capacidade do diretor/roteirista Adam McKay em realmente apostar numa trama excentricamente complexa e cheia de ironias inusuais, e no estilo documental do filme (ironia sacana e gostosa de se acompanhar), e ainda sair ganhando depois de duas apostas tão arriscadas, e de tão arriscadas acabam ganhando a nossa aprovação. O mundo financeiro é um turbilhão sem fim.

O elenco caprichado, que conta com atuações formidáveis, é incrivelmente bem trabalhado. O Christian Bale, ator que passei a admirar não faz tanto tempo assim, mais uma vez surpreendendo com um show de competência, embora não seja o único dono do título de melhor membro do elenco. O Steve Carell, cuja performance foi esnobada no Oscar, está mais forte do que nunca. Depois da revelação em Foxcatcher, a carreira dele parece guinar rumo ao sucesso cinematográfico. O Brad Pitt e o Ryan Gosling nem estão tão bons assim, mas se fosse pra escolher um dos dois, seria o Ryan, numa performance que, apesar das falhas, tem bons momentos (a cena do banheiro é hilária, e creio que foi a que mais me fez gargalhar durante a sessão inteira). De mulher, só tem a bela Marisa Tomei e a Melissa Leo (nem tão bela assim, trajando pesadas olheiras na única cena em que aparece).

A Grande Aposta (The Big Short)
dir. Adam McKay - 

Um comentário:

  1. A crítica do filme é interessante, sua historia é das mais interessantes que tem e algo que eu gosto muito são as adaptações dos livros. O filme A grande aposta me manteve tensa todo o momento, se ainda não a viram. Pessoalmente eu acho que é um filme que nos prende por que a historia está bem estruturada, o final é o melhor. O rtimo e bom e consegue nos prender desde o principio, me meanteve tenso todo momento. Me suerpreendi quando vi do ator Ryan Gosling, ele e un ator muito talentoso, tem muita empatia com os seus personagens em cada uma dos trabalhos. Recentemente vi seu novo filme Blade Runner 2049 e adorei, por que e que ele seja o protagonista de um filme automaticamente leva ao êxito.

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